Desafio na TV � conquistar 42% de indecisos no Pa�s
As grandes mudanças ocorridas nestas eleições presidenciais - verticalização, alianças esdrúxulas, alternância de candidatos competitivos, inédita cobertura da televisão e antecipação dos debates - só não mexeram com uma coisa: a cautela dos eleitores.
Por | Edição do dia 08/09/2002 - Matéria atualizada em 08/09/2002 às 00h00
As grandes mudanças ocorridas nestas eleições presidenciais - verticalização, alianças esdrúxulas, alternância de candidatos competitivos, inédita cobertura da televisão e antecipação dos debates - só não mexeram com uma coisa: a cautela dos eleitores. Na eleição presidencial de 1998, numa semana como a que passou, com menos de 15 dias de exibição do horário eleitoral, eram 42% os que diziam, em resposta espontânea, que não tinham ainda escolhido candidato. Agora, as pesquisas mostram que a taxa de indecisos é exatamente a mesma. Embora haja menos candidatos e muito mais informação, o eleitor mantém sua reserva: só decidirá um pouco mais para a frente. Campanha Mesmo porque, com o horário gratuito de TV, há muita gente dizendo que agora, sim, começou a campanha eleitoral. Mas será que ele muda as coisas a ponto de justificar as esperanças de José Serra de disputar o segundo turno, alimentar o temor de Lula de perder a liderança ou desafiar a capacidade de Ciro Gomes de se manter na posição que alcançou? As eleições anteriores mostram que essa fase da campanha não só mexe com o tabuleiro, como atrai uma camada ampla de eleitores - tanto pela audiência e cobertura da mídia, quanto pela agenda que propõe, centrada nas propostas dos candidatos para os problemas do dia-a-dia. Voto À primeira vista, olhando apenas os totais de intenção de voto ao longo da eleição de 1998, pode parecer que a campanha na TV nada alterou. O cenário então era mais definido. Fernando Henrique, candidato à reeleição, tinha uma vantagem de 17 pontos sobre Lula. Ainda assim, apesar de ele estar com 54% de votos válidos, não havia indícios de uma vitória no primeiro turno. A parcela de indefinidos, no voto estimulado, era de 26%. Ao final, a vitória de Fernando Henrique no primeiro turno veio apertada, mas ocorreu graças ao horário eleitoral, mais especificamente ao grupo de eleitores que mais assistem a essa programação. Durante o período de propaganda na TV, Fernando Henrique cresce 13 pontos no eleitorado de mais baixa escolaridade e chega ao final, nesse segmento, com 57% de votos válidos nas pesquisas. Entre eleitores de escolaridade média, ele agregava 52%, margem estreita para uma definição. E não chegaria ao segundo turno se dependesse de eleitores com curso superior (46%). Plano Real Na eleição anterior, em 1994, o horário eleitoral repercutiu o sucesso do Plano Real, adotado em 1.º de julho, e colocou FHC na dianteira logo no início da propaganda. Lula não acreditou na eficácia do Plano. Do empate em junho chegou à derrota por 16 milhões de votos. Em 1989, o impacto do horário eleitoral ficou evidente. Fernando Collor entrou nessa fase com chance de ganhar já no primeiro turno (uma votação de 46%). Seu opositor mais forte era Leonel Brizola. Contudo, uma surpresa: seu adversário para o segundo turno passou a ser Lula. Agora, em 2002, há quem imagine que o horário eleitoral tenderia a influir menos, visto que uma enorme quantidade de informações já foi passada ao eleitorado e este pode estar saturado. As evidências empíricas, no entanto, vão em outra direção. O indício de que tal saturação não ocorre é que o eleitor ainda se diz aberto a novas escolhas: 50% dizem que já têm candidato, mas poderiam votar em outro. Segundo a última pesquisa Sensus, Ciro e Serra têm, cada um, uma fatia adicional de 36% de espaço para crescimento; Lula outros 23% e Garotinho 27%. Mas é um espaço superposto e para ocupá-lo cada candidato terá de tomar votos dos outros. Medida As estratégias poderão variar. Lula provavelmente tentará preservar a sua posição, à medida que, com 22% de voto espontâneo e 34% de estimulado, já tem dois terços de seus votos consolidados. O petista poderá fazer isso com programas de cinco minutos em cada bloco na televisão (um à tarde, outro à noite), três dias por semana, e mais 115 inserções ao longo da campanha. Garotinho tem potencial, mas não tem campanha bem estruturada, nem tempo no horário eleitoral: dois minutos por bloco e 49 inserções. Mas o candidato do PSB tem uma capacidade diferenciada de comunicação pessoal, que pode usar para manter seus índices ou agregar nova parcela. Eleitores Serra é o candidato com maior tempo de televisão (dez minutos por bloco e 225 inserções). Porém precisará superar a dificuldade de se comunicar exibida até agora e livrar-se do ônus de um continuísmo que não interessa aos eleitores. Ciro Gomes enfrenta desafio inverso, à medida que já conseguiu firmar a imagem que pretendia - a do candidato que representa a mudança. No horário eleitoral, ele precisa dar substância a essa pretensão e neutralizar sinais contraditórios, como o apoio do ex-senador Antônio Carlos Magalhães.