Alagoas: 185 anos e os piores �ndices sociais
Alagoas completa amanhã 185 anos de Emancipação Política, mas não há muito a se comemorar, considerando ser o Estado com os piores índices sociais do País. Dados insuspeitos do Relatório Geral 2001, do Serviço Nacional do Comércio (Senac), por exemplo,
Por | Edição do dia 15/09/2002 - Matéria atualizada em 15/09/2002 às 00h00
Alagoas completa amanhã 185 anos de Emancipação Política, mas não há muito a se comemorar, considerando ser o Estado com os piores índices sociais do País. Dados insuspeitos do Relatório Geral 2001, do Serviço Nacional do Comércio (Senac), por exemplo, mostram que Alagoas ocupa o 26º ou o penúltimo lugar entre os Estados com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que não passa de 0,5385. Em analfabetismo, somos campeões do País, com mais de 31% da população sem saber ler nem escrever. Também possuímos a maior taxa de mortalidade infantil, com mais de 45,9 óbitos por mil nascimentos, dados divulgados pelo Unicef, apêndice da Organização das Nações Unidas (ONU) e reconhecidos pelo próprio governo do Estado. Dois anos atrás, a GAZETA alertava, através de uma mesa-redonda realizada com participação de várias autoridades, que eram crescentes as necessidades de maiores e urgentes investimentos públicos nas diversas áreas, que deveriam ser destinados, principalmente, à melhoria da infra-estrutura e aos projetos de expansão e diversificação das fontes geradoras de emprego e renda. Infelizmente, de lá para cá, pouco ou quase nada foi feito nesse sentido. Continua, também, a necessidade de prioridades para o desenvolvimento social, que, no entendimento de economistas, destaca-se entre os principais problemas do Estado, onde há muito a ser feito nos mais diversos campos de atividade. Os problemas persistem, igualmente, na administração pública, afetada pela falta de planejamento e discussões sérias, indispensáveis ao combate dos fatores que dificultam as suas soluções. O Estado continua com uma dívida altíssima e cada vez mais refém da União, por não produzir o suficiente para sobreviver por conta própria. Números deploráveis Dados do Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que há a necessidade de transformar o PRIVATE crescimento econômico de Alagoas nas últimas décadas em bem-estar para a maioria do seu povo. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB)- indicador que representa a soma de todas as riquezas de uma determinada região chegou a crescer em percentuais acima da média do Brasil e do Nordeste, os indicadores sociais são lastimáveis e colocam o alagoano como cidadão do terceiro mundo do Brasil. A situação de Alagoas é tão grave que mesmo nas regiões mais ricas Zona da Mata e Litoral onde predominam a agroindústria sucroalcooleira, os indicadores sociais estão abaixo do aceitável. O padrão de vida do Estado é um dos piores em todo o País, uma vez que como consta do Relatório Geral de 2001 do Serviço Nacional do Comércio (Senac), ocupa a 26a posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é de 0,5385. Recursos A máquina estatal está praticamente engessada com boa parte dos recursos comprometida com as transferências para a União e o sistema de arrecadação deficiente. Na visão dos economistas, para participar de forma competitiva na economia brasileira, Alagoas precisa resolver seus gargalos sociais e criar, a exemplo das sociedades dinâmicas, seu mercado interno. Por isso, precisa de um modelo de desenvolvimento socialmente justo, ecologicamente equilibrado, partilhado pela sociedade civil e impulsionado pelo Estado. A política de ajuste fiscal e reforma do Estado, implantada a partir de 1998, não mudará a face perversa da administração pública de Alagoas. Foi mais uma meia-sola que uma reforma propriamente dita, reclamada pelo Estado que aparece nos indicadores socioeconômicos mais recentes do IBGE como o Estado com a maior concentração de riqueza do País, conseqüentemente, com o maior índice de miséria e de analfabetismo apenas 63,4% dos alagoanos sabem ler e escrever. O Índice de Gini, que varia de zero (quando a distribuição de renda é homogênea) a um (concentração de renda), mostra o Estado numa situação pior que o Piauí. O Índice de Gini de Alagoas, segundo o IBGE, foi de 0,618 e o do Piauí, Estado que até a década de 1980 era considerado como o mais miserável do País, foi de 0,612. O levantamento do IBGE, relativo aos indicadores econômicos, mediu também o grau de urbanização, as famílias cujos chefes são mulheres, a taxa de analfabetismo, a escolaridade dos chefes de famílias, os domicílios com abastecimento dágua, rede de esgoto, fossas sépticas e coleta de lixo. Em todos os itens, Alagoas se situa abaixo da média nacional, mas o que chamou mais atenção foi a taxa de analfabetismo o Piauí, que na década de 1980 ocupava o último lugar, subiu de posição; Alagoas, agora é o último. De acordo com a pesquisa do IBGE, Alagoas, com uma população de 2 milhões 822 mil e 621 habitantes, dos quais 1 milhão 378 mil 942 são homens e 1 milhão 443 mil 679 são mulheres, tem a menor taxa de alfabetização do País. Enquanto no Piauí, a taxa de alfabetização registrada pelo IBGE foi de 71,5%, em Alagoas atingiu apenas 68,2%. Saneamento Comparando com Sergipe, a diferença é ainda maior a taxa de alfabetização entre os sergipanos foi de 76,5% de acordo com a pesquisa do IBGE. No item que pesquisou a rede de esgoto instalada, a diferença também é grande entre Alagoas e o Piauí. Enquanto 43,8% dos piauienses contam com rede de tratamento de esgoto instalada, apenas 26,1% dos alagoanos desfrutam do benefício. Alagoas ainda está entre os Estados brasileiros que apresentam as maiores taxas de distorção entre a idade e a série dos alunos que estão cursando o Ensino Fundamental. A baixa escolaridade foi um dos fatores que colocaram o Brasil como último colocado no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa/2000), que fez uma comparação da capacidade de leitura entre 4.800 alunos em 32 países. Em Alagoas, a média de escolaridade da população é de apenas 1,8 ano. O modelo de bolsa-escola que vem sendo adotado não dá garantias da permanência do aluno na escola nem uma educação voltada para a realidade em que vive.