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Nº 5822
Política

Metodologia interfere no resultado de pesquisa

Bacharel em matemática, mestre e doutorando em estatística pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o professor Alexandre Pontes não tem dúvidas. Depois de passar os últimos dias fazendo cálculos e de analisar profundamente os dados estatístico

Por | Edição do dia 29/09/2002 - Matéria atualizada em 29/09/2002 às 00h00

Bacharel em matemática, mestre e doutorando em estatística pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o professor Alexandre Pontes não tem dúvidas. Depois de passar os últimos dias fazendo cálculos e de analisar profundamente os dados estatísticos oficiais, ele chegou à conclusão de que os números da primeira pesquisa do Ibope (realizada de 1 a 4 deste mês) estão invertidos. Como a própria pesquisa do Ibope indica, existe uma grande correlação entre nível de escolaridade e preferência de um ou outro candidato. O instituto não levou isso em consideração na hora de selecionar a amostragem, como indica a própria diretora executiva do Ibope Opinião, Márcia Cavallari. “Não nos preocupamos, a priori, com a variável grau de instrução”, admite. Isso de acordo com Pontes abre margem para que o perfil do eleitor selecionado na amostragem não reflita a real proporção dos eleitores alagoanos (levando-se em consideração a variável grau de instrução de acordo com os números do PNAD/IBGE e TRE- AL). Alexandre Pontes fez os cálculos em cima dos números oficiais do Ibope divulgados nas duas pesquisas. Ele acredita que ignorar a variável grau de instrução no caso de Alagoas –não utilizado na metodologia do Ibope - pode ter causado distorção no resultado final da amostragem. As principais variaveis de uma pesquisa eleitoral, segundo o estatístico, são “sexo”, “idade”, “renda”, “região de moradia” e “escolaridade”. Em praticamente todas estas variveis, a pesquisa Ibope está proporcionalmente dentro das estatísticas oficias, exceto na amostragem do item “escolaridade”, considerado uma das mais importante pelo professor. “Pode ser que no Centro Sul, o item escolaridade não seja tão determinante, mas aqui é. Em Alagoas existe uma clara divisão. Collor é o preferido dos eleitores que têm nível de instrução até a 4ª série, enquanto Lessa tem a liderança ente eleitores com nível médio ou superior. Qualquer erro ou peso diferente nessa variante pode influenciar no resultado da pesquisa”, analisa. Alagoas, segundo os números  oficiais do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios (PNAD) tem aproximadamente 60% dos eleitores com  instrução até a 4ª série, 22% dos  eleitores com escolaridade entre  a 5a e a 8a série e 18% com instrução de nível médio ou superior.  Na pesquisa de 1 a 4 de setembro, o Ibope não considerou essa  proporção e entrevistou – entre  as 800 amostras – 43% de eleitores até a 4a série, 21% entre a 5a e 8a série e 36% de nível médio e superior. “Com esse percentual, os eleitores de nível médio ou superior, onde notadamente Lessa tem uma preferência maior, passaram a representar um peso bem maior do que o real, interferindo no resultado final da pesquisa. Levando-se em consideração o grau de instrução e aplicando os mesmos números do Ibope, os números mudam e revelam que a disputa está mais equilibrada do que aponta o resultado daquele instituto, ou seja Collor teria 43% e Lessa 37% Utilizando os mesmos critérios de análise, a segunda pesquisa Ibope também teria resultados diferentes, avalia Pontes. Em vez do resultado de 44% a 37%, os números reais seriam de 42% para Lessa e 39% para Collor . Pesquisa Por telefone, a diretora executiva do Ibope Opinião, Márcia Cavallari, esclarece que a pesquisa Ibope é feita com base na “mostra por conglomerados, onde os municípios são selecionados por método probabilístico PPT (Probabilidade Proporcional ao Tamanho)”, declara, acrescentando que “são três estágios: no primeiro sorteamos município, no segundo, dentro dos municípios selecionamos os setores censitários, onde as entrevistas serão realizadas e no terceiro estágio selecionamos o entrevistado através de cotas proporcionais de sexo, idade, ramo de atividade e posição na ocupação (se empregado, patrão etc). Não controlamos, a priori, a variável grau de instrução. Ela é aleatória e por isso de uma pesquisa para outra pode haver oscilações”. Para reforçar os argumentos, Márcia Cavallari afirma que o índice de abstenção é diferente na variável grau de instrução. “A gente vê, com nossa experiência é que há sistematicamente um número de abstenção maior entre eleitores de menor grau de instrução. Se levar em conta esta variável como prioritária, você acaba forçando uma situação que no dia da eleição pode não ser a que ocorra”, enfatiza.

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