Brasil fica ligado na disputa de Collor contra Lessa / Parte II
Passada uma esponja nas confusões, deram início aos acordos para o processo da sucessão estadual. Isolado, o governador mudou o discurso e tentou a reaproximação com setores de esquerda. E, a partir daí, o formigueiro assanhou, formando o desenho dos gr
Por | Edição do dia 06/10/2002 - Matéria atualizada em 06/10/2002 às 00h00
Passada uma esponja nas confusões, deram início aos acordos para o processo da sucessão estadual. Isolado, o governador mudou o discurso e tentou a reaproximação com setores de esquerda. E, a partir daí, o formigueiro assanhou, formando o desenho dos grupos interessados na disputa do poder. Collor, em São Paulo, chegou a Maceió disposto a concorrer a eleição majoritária, admitindo o Senado ou o Governo. Junto com os senadores Renan Calheiros e Teotônio Vilela, formou um bloco que, aparentemente, caminhava firme em direção ao pleito. Avançados os entendimentos, Renan não fechou, mas começou a pedir voto para governador e Collor, do outro lado, sustentou a candidatura de senador. Não demorou muito, Renan desistiu e, no seu vácuo, entra no cenário o empresário João Tenório, presidente da Cooperativa dos Produtores de Açúcar e Álcool de Alagoas. Tomou gosto pela política, sentiu a aprovação dos prefeitos ao seu nome e, quando estava na maior empolgação, o PSDB, seu partido, tirou o tapete dos seus pés. Foi justamente, nesse momento, a mudança de Renan e Teo do lado de Collor para o grupo de Lessa, onde ficaram até agora. Tenório, magoado, entregou a candidatura de governador atirando, batendo nos indicadores negativos da administração Lessa e manifestando decepção com o seu partido. Depois, porém, assentada a poeira, aceitou se compor com o senador Vilela, seu cunhado, de quem é suplente da chapa, e pode reaparecer, em 2004, como candidato a prefeito. Entre governador e senador, Collor vestiu a primeira camisa, botou o pé no acelerador e partiu, misturado à multidão, para o campo de batalha. Sem olhar pra trás, jogou o carro na estrada e, hoje, tem chance de desembarcar no Palácio. Na esquerda, o PT imaginava entrar no meio de Collor e Lessa e, com discurso de oposição aos dois, eleger a senadora Heloísa Helena. O sonho, entretanto, acabou em Brasília, numa composição nacional para garantir a vitória de Lula. O senador José Alencar fincou o pé no chão e vinculou sua candidatura a vice-presidente da República ao fechamento da aliança do PT com PL em Alagoas. Aí, deu o maior racha porque, segurando o PL lá em cima, a direção nacional do PT não conseguiu apagar o fogo aqui. Lula ficou com Alencar, o senador garantiu a reeleição do deputado João Caldas e Heloísa Helena, mantendo a palavra, desistiu de disputar o governo. Não aceitou subir no palanque ao lado de Caldas, com quem tem fortes divergências políticas. Só fez campanha, aparições rápidas, para os amigos proporcionais, mostrando claramente que não engoliu a candidatura do vereador Judson Cabral, que ficou no seu lugar. Já Lessa descascou outro abacaxi dentro de casa ao iniciar os entendimentos para a indicação do vice de sua chapa. Quando os interesses chegaram às ruas, o governador tentou jogar um pano frio na quentura, anunciando sua preferência por Luiz Abílio, coringa da equipe, embora seu coração pendesse para o deputado Celso Luiz. Querendo espaço no governo, Renan e Vilela, na surdina, manifestaram interesse em participar da escolha. E, nos bastidores, encaminharam lista tríplice para o Palácio, com Marcos Ferreira, Raimundo Tavares e Demuriez Leão. De surpresa, saiu Demuriez, representando o Agreste de Alagoas, mas a repercussão nas bases, no mesmo dia, foi fatal para o deputado de Arapiraca. Ele foi convidado a renunciar e, logo em seguida, substituído por Luiz Abílio, candidato original. Collor ou Lessa, seja quem for o governador, Alagoas não suporta mais ser tão maltratada e seu povo, eterna massa de manobra, sobrevive de teimosia porque, se dependesse do poder público, já estaria no outro mundo. O Estado precisa formatar um projeto sério, sem interesse eleitoral, que atenda rico, pobre e miserável, sob pena de sumir do mapa por incompetência de seus dirigentes. Quem está em cima não sente mas, lá embaixo, onde os políticos só aparecem em época eleitoral, violência, fome, desemprego e doenças tomam conta do povão. Longe da demagogia, está na hora de o governo tratar Maceió com respeito, cuidando da cidade como merece a coisa pública, tão pisoteada nos dias de hoje. Se quiser, qualquer um deles, a médio prazo, resolve, por exemplo, a questão do êxodo rural. É só concentrar as ações no interior e, levando a máquina administrativa para os municípios, sem influência dos políticos, vai estimular o homem a permanecer no campo. Como está, vítima da natureza e abandonado pelas autoridades, a única saída do agricultor, sem ocupação na terra, é vir para a capital. Aqui, na ânsia de dias melhores, vê o sonho desaparecer na porta das repartições, sentado nos bancos da praça e, até, estendendo a mão para pedir esmola. Sem ter para quem apelar, o caminho natural são as favelas, grotões, onde famílias decentes, por necessidade extrema, entram para o mundo do crime também pela convivência com bandidos e marginais. Não seria nenhum retrocesso se o próximo governo decidisse, em nome da salvação de Alagoas, montar uma equipe de coalizão, na tentativa de evitar o caos social. Uma proposta onde siglas, divergências, questiúnculas e mágoas, colocadas nos porões do Palácio, fossem substituídas pelas inteligências suprapartidárias que, imobilizadas, são arquivadas somente porque estão distantes dos grupos políticos. Fora dessa realidade, partindo para o individualismo, como o Rio de Janeiro, o Estado corre o risco de ser dominado pelo crime, roubo e assalto.