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Nº 5824
Política

Brasil fica ligado na disputa de Collor contra Lessa / Parte I

JOSÉ ELIAS A eleição de hoje, pela sua importância no contexto nacional, vai entrar na história de Alagoas seguramente como a mais disputada das últimas cinco décadas. É aqui, durante todo o dia, onde a imprensa brasileira acenderá seus refletores para

Por | Edição do dia 06/10/2002 - Matéria atualizada em 06/10/2002 às 00h00

JOSÉ ELIAS A eleição de hoje, pela sua importância no contexto nacional, vai entrar na história de Alagoas seguramente como a mais disputada das últimas cinco décadas. É aqui, durante todo o dia, onde a imprensa brasileira acenderá seus refletores para documentar a volta às urnas do ex-presidente Fernando Collor, o fenômeno eleitoral de 1989. Ele aceitou a candidatura sabendo que, na queda-de-braço, enfrentaria uma estrutura classificada - em cima do poderio de sua máquina - imbatível pelos analistas mais experientes. O rolo compressor do governador Ronaldo Lessa, cheio de óleo, se organizou para massacrar, chutando e pisando, quem encontrasse no seu caminho. Mas, no primeiro sinal, bateu de frente com Collor que, no peito e na raça, sustentou a campanha, alternando os resultados das pesquisas. Mesmo sem apoio financeiro, o ex-presidente largou primeiro, ficando na dianteira por um período longo. O governo apertou o cerco na reta final, Lessa chegou perto, passou e, agora, a reeleição depende do seu desempenho em Maceió, onde Collor cresceu. A corrida, neste momento, está assim, com um empurrãozinho do debate de quinta-feira dos candidatos a governador: o ex-presidente está bem no interior, conta com o apoio da grande maioria dos prefeitos e, pelo seu carisma, as ruas estão ao seu lado. Lessa se esforçou, avançou um pouco mas, de acordo com os números das consultas, só continuará no Palácio se golear Collor na capital. Rico só em alegria, o comitê de Collor passou momentos de dificuldades, algumas vezes afetando até a composição de sua equipe, além de sua candidatura receber a oposição nítida da imprensa nacional. Do outro lado, com excesso na estrutura, Lessa teve tudo para continuar no poder sem ser ameaçado por ninguém. Ao seu lado, carregado de favores, com a caneta de pressão na mão, os governos federal, estadual e municipal e, abraçados à sua candidatura, os senadores Renan Calheiros e Teotônio Vilela. Eleição atípica, o duelo de hoje é diferente das disputas passadas onde, um mês antes, já se sabia quem ficaria com a faixa. Collor contra Guilherme Palmeira, por exemplo, nas mesmas circunstâncias de oposição e governo, o resultado se conheceu por antecipação. Em seguida, os números das pesquisas enganaram os candidatos e a sociedade porque, no final, pintaram a zebra. Renan sustentou a dianteira até às vésperas do pleito, bem na frente mas, abertas as urnas, Bulhões apareceu, de surpresa, provocando a realização do segundo turno - ganhando a parada. Na eleição posterior, Divaldo Suruagy e Manoel Gomes de Barros massacraram o ex-prefeito Pedro Vieira que, solitário, não chegou sequer a marcar posição. Logo após, foi a vez de Lessa que, beneficiado por cinco renúncias de Mano, elegeu-se governador sem fazer força, com o povo votando no embalo do impeachment de Suruagy. Agora, com a máquina, Lessa enfrenta um ex-presidente, que já foi prefeito de Maceió, deputado federal e governador. E, convenhamos, seu prestígio que, na ponta do lápis, prova ser ele o maior eleitor individual da história política de Alagoas. Sozinho, sem atrações artísticas, reúne multidões e faz o povo andar atrás do trio elétrico, levado apenas pelo seu aceno lá de cima. É a primeira vez, a rigor, que Lessa disputa uma eleição majoritária porque na estréia, antes de ser governador, chegou à prefeitura de Maceió por uma reviravolta de última hora. Era o último nas pesquisas, não tinha a menor chance e, abertas as urnas, bateu o senador Teotônio Vilela e foi para o segundo turno contra o deputado José Bernardes. Assumiu, elegeu a dentista Kátia Born como sua sucessora e daí em diante a sorte o acompanhou tanto que, apesar dos desacertos nas articulações políticas, voltou à tona sem se machucar. Lessa chegou ao Palácio numa grande aliança que envolveu, no mesmo palanque, forças da esquerda, centro e direita. Antes de sentar na cadeira, começaram as divergências na formação da equipe. Aos poucos, o grupo foi definhando e, no início da estrada, colidiu com o vice Geraldo Sampaio que, insatisfeito, jogou o PDT na oposição. O PT, que chegou a indicar o engenheiro Mário Agra secretário de Agricultura, escapuliu, depois, com mais de 100. E o deputado Regis Cavalcante, alegando incompatibilidade administrativa, também foi embora com o PPS. Acuado, servindo de vidraça para os ex-aliados, o governador ficou sem rumo e, armando a metralhadora giratória na porta do Palácio, acionou o gatilho de olhos fechados. Atingiu, primeiro, os deputados, gerando uma crise que, não fossem os bombeiros, Sampaio, o vice, teria tomado posse como titular. Não satisfeito, Lessa atirou contra o Tribunal de Justiça e, com o presidente Orlando Manso, trocou desaforos impublicáveis. Mas, aconselhado por amigos, mergulhou e, como diplomata, retornou à cena política, fazendo as pazes com deputados e desembargadores.

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