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Nº 5824
Política

Escritor espera comprometimento com contexto universal

Estas primeiras eleições do século 21 e do terceiro milênio no País têm um sabor que, para o médico e escritor Luiz Nogueira, bem poderia ser chamado de singular: “Nunca estivemos tão inseridos no contexto internacional quanto agora. E mais: as mudanç

Por | Edição do dia 27/10/2002 - Matéria atualizada em 27/10/2002 às 00h00

Estas primeiras eleições do século 21 e do terceiro milênio no País têm um sabor que, para o médico e escritor Luiz Nogueira, bem poderia ser chamado de singular: “Nunca estivemos tão inseridos no contexto internacional quanto agora. E mais: as mudanças mundiais geraram situações nunca antes imaginadas: a globalização desfigurando fronteiras e a economia pretendendo otimizar as esperanças de todos com a fundação do paraíso, e o discurso político apoderando-se do discurso teológico. De resto, nenhuma novidade”, acrescenta, sem deixar de manifestar a esperança de que, das urnas, no primeiro turno e, agora, do segundo, tenham surgido e surjam executivos que atentem para a roda-viva que tem sido o contexto universal. “Do contrário, estaremos fadados aos governantes medíocres, seja um presidente da República ou um simples governador de uma unidade federativa”. Coisas incríveis Prosseguindo, Nogueira observa que a sociedade de hoje é veloz, e poucos têm condições reais para um acompanhamento que lhes seja favorável. Daí que muitos vão ficando a distâncias poucas vezes mensuráveis. A era industrial prometia, na Inglaterra, reduzir o tempo de trabalho para que os trabalhadores pudessem se dedicar um pouco ao lazer e à criatividade. Mas as máquinas trouxeram o desemprego. A revolução da ciência, nos dias de hoje, criou uma revolução pela ciência. A cibernética também prometeu o paraíso, com redução do trabalho em função do lazer e da criatividade, tal na velha Inglaterra. E os computadores trouxeram o desemprego. “A economia, na ronda dos séculos, afastou do seu caminho aqueles ramos do pensamento que interferiam na formação de um juízo de Estado, tais a Antropologia, a Filosofia, a Teologia, e por aí vai, tornando-se soberana e a tudo engolindo, tal uma serpente que um dia poderá comer a própria cauda. E não sei como será a indigestão. Este século tem por marcas algumas coisas incríveis: a transmigração do trabalho, quer dizer, produção a distância de muitos quilômetros, em países que têm fracas legislações trabalhistas, e outros tantos que nem as possuem e se as possuem não cumprem isso com determinação”. Para Luiz Nogueira, também vivemos a chamada sociedade de 1/3, ou sociedade 20 por 80, decidida entre os 500 homens mais ricos do planeta, em São Francisco, Califórnia, no Hotel Fairmont, significando o seguinte: apenas 20% da mão-de-obra ativa produtiva terá alguma chance no mercado de trabalho. O fim da experiência socialista, na ex-União Soviética criou, entre os remanescentes da doutrina o problema da luta de sobrevivência político-parlamentar, com a nova ética da sobrevivência custe o que custar. Outras questões No entendimento do escritor, que pertence ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e à Academia Alagoana de Letras, a reabertura das discussões sobre a dívida externa dos países antes chamados de subdesenvolvidos, “dívida esta impagável”, promoveu uma abertura tal dos seus mercados que os credores passaram a ser proprietários de bens nacionais onde tinham créditos, transformando tais nações em entrepostos comerciais, sepultando, ao menos provisoriamente, seus nacionalismos, e até quando nada se pode afirmar pois, falar-se em ressurreições nacionalistas é algo que se vislumbra no livro Diplomacia, de Henry Kissinger. Mas isto, se a Europa, reunificada, recuperar seus 400 milhões de consumidores perdidos após a Segunda Guerra Mundial, voltar a ser referência universal. O mundo passou a girar em torno das Bolsas de Valores. As negociações internacionais sobre dinheiro ocorrem em escalas que já não podem receber o nome de bilionárias, mas de quatrilionárias, e por aí vai. Ainda Nogueira, denomina de fato notável a substituição das sociedades de herança pelas sociedades de competência. “Temos visto notáveis falências das sociedades de heranças, pela incompetência dos seus herdeiros, serem substituídas pelas novas sociedades de competência, com pessoas preparadas para a nova visão do processo econômico mundial”, salienta. Ao mesmo tempo, refere-se aos políticos, que pretendem o Executivo, estadual, ou federal, declarando que eles devem saber das grandes transformações que o mundo está sofrendo porque, do contrário, poderão ser considerados grandes estadistas, mas se tornarão péssimos governantes do seu povo. Idealizações “Por uma razão simples: como estadistas são capazes de antevisões fantásticas, de idealizações incomuns. Capazes de inserir seus países no difícil contexto internacional, com algum proveito, e tornarem-se bons governantes para o seu povo ao realizar muitas das suas aspirações e realizações internas. Ou serem menos estadistas quando buscam o contexto internacional, obtendo resultados medíocres, tornando-se, então, péssimos governantes ao não poderem atender às grandes aspirações do seu povo. E poderão se perder entre a entrega incontrolável da sua Nação aos interesses internacionais, sem qualquer devolução que atenda aos reclamos internos, a chamada dívida social interna”. Pelas declarações de Luiz Nogueira, é muito difícil saber se este século está mesmo a precisar de filósofos ou de profetas. O que não se pode dispensar, por enquanto, é um político que consiga resultados tanto como estadista, quanto como governante. “Esse é o desafio. Por isso pouquíssimos ficaram, ou ficam, para a história com uma imagem que os tempos não conseguiram e não conseguirão desfigurar. Nenhum governante e nenhum partido político pode ser maior que um país. Antes, servi-lo. É essa a chave do sucesso”.

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