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Nº 5905
Política

“Precisamos aplicar a lei de incentivos fiscais” / Parte I

ROBERTO VILANOVA O industrial José Carlos Maranhão está otimista com o Brasil, acha que o pior já passou e acredita que o Lula fará um bom governo se conseguir o pacto social que defendeu durante a campanha. Ex-presidente da Associação Nacional dos P

Por | Edição do dia 03/11/2002 - Matéria atualizada em 03/11/2002 às 00h00

ROBERTO VILANOVA O industrial José Carlos Maranhão está otimista com o Brasil, acha que o pior já passou e acredita que o Lula fará um bom governo se conseguir o pacto social que defendeu durante a campanha. Ex-presidente da Associação Nacional dos Produtores de Álcool, ele considera a eleição de Lula como a maior demonstração de maturidade que o País já fez para o mundo. “Veja que, nos Estados Unidos, eles levaram dias para saber quem era o presidente; nós, no mesmo dia da eleição, às 10 horas da noite, assistimos pela televisão o candidato derrotado telefonar para o vencedor”, disse. Comandando o conglomerado formado pelas Usinas Santo Antônio e Camaragibe, localizadas na região Norte do Estado, José Carlos Maranhão confia no futuro do País e adverte Alagoas: “É preciso aplicar a lei de incentivos fiscais”. O industrial aponta duas soluções para os problemas da economia alagoana: reativar o setor turístico e investir na piscicultura. “Alagoas é um Estado turístico. Infelizmente tivemos algumas perdas, mas é possível recuperá-las. Na piscicultura, para você ter uma idéia, a receita gerada com exportação de camarões já é maior do que a receita gerada pela exportação de açúcar nordestina em 500 anos!”. ### - Há quem defenda que Alagoas é um problema federal, ou  seja, a solução depende de Brasília. O senhor concorda? - Não. Desculpe-me, tenho amigos que defendem essa tese, mas eu discordo porque Alagoas tem condições de resolver os seus problemas sem precisar do governo federal. Claro que, para isso, é necessário haver a união de todos os segmentos. O governador sozinho não pode resolver. Temos o turismo, que sofreu uma queda, é verdade, mas podemos recuperar as perdas. Por exemplo: o projeto hoteleiro no Morro do Camaragibe. Se for implantado mesmo, o setor será reativado e nós repararemos as perdas. Também tem o seguinte: se você não é capaz de resolver os seus problemas, está perdido. E ninguém dá nada a ninguém de graça; o governo iria cobrar a ajuda. Fala-se numa nova renegociação para a dívida e o governo já avisou que só tem duas maneiras de renegociar com os Estados: aumentando os tributos ou cortando investimentos sociais. Hoje o governo trabalha com orçamento sob controle rígido; não há mais folga para investimentos. É tanto por cento para educação, mais tanto por cento para a saúde e assim vai. Sobra pouco para investimentos. Mas quando eu me refiro  à possibilidade de Alagoas resolver os seus problemas sem a ajuda federal é porque acredito que a união da sociedade é capaz de superar as dificuldades. Ou seja: a solução do problema depende da sociedade e não apenas do governo. - De que forma a sociedade pode ajudar? - Primeiro é preciso acabar com a reação contrária ao empresário, seja qual for a atividade. Essa reação negativa existe, infelizmente. É verdadeira aversão, o empresário não é bem visto em Alagoas. - Inclusive o usineiro? - Existe a reação também contra o setor sucroalcooleiro, embora não adiante, o setor está instalado aqui há séculos e não vai sair. Algumas usinas fecharam, é verdade, mas o setor sucroalcooleiro vai permanecer. Ao mesmo tempo, eu não quero culpar apenas os que procedem dessa forma. Não vou dizer que a culpa é dos outros, porque nós também erramos quando nos distanciamos muito da sociedade. Mas nós já temos essa consciência de que devemos nos integrar mais à comunidade para eliminar essa distância. E estamos evoluindo. - Essa é uma questão cultural? - Estritamente cultural, que podemos reverter. É preciso que a sociedade alagoana se conscientize da importância das empresas; Alagoas ainda vê as empresas como entidades predatórias. Não é de agora, trata-se de uma política de três décadas. Essa aversão ao empresariado privou Alagoas, por exemplo, do pólo cloroquímico. Perdemos o pólo devido às pressões ambientalistas. Hoje eu me pergunto quantos alagoanos não estariam empregados se o pólo tivesse sido implantado? No  entanto, essa aversão ao empresário levou o movimento ambientalista, movido pela paixão, a  privar o Estado do pólo. A partir  de 1975 Alagoas perdeu o ritmo da industrialização. Muitas empresas que deveriam ter sido instaladas aqui foram se instalar na Bahia, no Ceará, em Sergipe e no Rio Grande do Norte. Com certeza Alagoas não é o Estado mais atraente para as empresas. - O senhor não acha que o governo do Estado tem o dever de intervir e assegurar as condições para que as empresas se instalem aqui? - Veja bem, essa não é uma questão de culpar esse ou aquele governo. Não é uma questão que surgiu agora. No primeiro mandato o governador Ronaldo Lessa arrumou a casa. Devemos reconhecer que conseguiu avançar muito. Ainda há o que fazer, mas, sem dúvida, muita coisa melhorou. Acredito que, no segundo mandato, o governador vai tratar de atrair esses investimentos, trazer empresas para se instalarem aqui. Durante a reunião com os empresários, na Federação das Indústrias, o governador prometeu que iria buscar essas empresas e apontou o presidente da Confederação Nacional das Associações Comerciais, Luiz Otávio Gomes, sem dúvida uma pessoa dinâmica, como o encarregado da missão de atrair os investimentos. Acredito que no segundo mandato o governador vai tratar da economia. - Será necessário fazer uma nova lei de incentivos fiscais? - De jeito nenhum. A Lei de Incentivos Fiscais de Alagoas é muito boa. Não precisamos de legislação. Precisamos é aplicar a lei. Mas eu sei que isso somente será possível quando se resolver discordâncias entre o pessoal da área tributária e o pessoal da Secretaria da Indústria e o Comércio. Eles não se entendem. Eu integrei o Conselho de Desenvolvimento Industrial e percebi isto. Há discordância, é preciso o governo intervir, de modo que não precisamos de novas leis, precisamos é de fazer cumprir a lei que já existe e, repito, é muito boa, pois atende às necessidades do Estado. Eu li a entrevista do ex-presidente José Sarney, na Veja, onde ele afirmou que oitenta por cento das ordens do presidente da República não são cumpridas. Eu me lembrei de quando era presidente da Associação Nacional dos Produtores de Álcool e fui a uma audiência com o então presidente João Baptista de Figueiredo, quando ele disse: é mais fácil minha ordem ser cumprida no Japão do que naquele ministério ali. E apontou. E olhe que se tratava de um presidente que era general, durante um regime militar. O mesmo ocorre com os governadores - as ordens deles nem sempre são cumpridas. - Se o senhor fosse um empresário de fora e viesse investir  em Alagoas, hoje, qual o setor que o senhor investiria? - Alagoas é um Estado com muitas oportunidades e, ao contrário de muitos Estados, não tem problema de água. A água é o grande desafio do século. Uberaba, Itu e a região serrana já enfrentam problema; Alagoas é privilegiada, temos água demais e isso deve ser usado como atrativo para chamar os empresários. Temos o Rio São Francisco, cuja vazão é igual à do Nilo. Quer dizer: temos um Rio Nilo cortando o Estado. Veja o seguinte: o empresário José Alencar, vice-presidente da República de Lula, montou uma unidade da Coteminas em Campina Grande, na Paraíba, e teve de gastar milhões para garantir a oferta de água. Se tivesse implantado em Alagoas não teria enfrentado esse problema. Eu diria que o turismo e a piscicultura são os grandes negócios hoje. Poucos têm noção do que representa a piscicultura, o criatório de camarão em cativeiro. Em Penedo, converse com o Alexandre Toledo (prefeito) ou o Ronaldo Lopes (ex-Codevasf) sobre os projetos de piscicultura no baixo São Francisco. São proteínas de alta qualidade. A Bahia, o Ceará, o Rio Grande do Norte e Pernambuco estão com projetos bem avançados. Para você ter uma idéia o valor de exportação desses Estados supera em dólar o açúcar em 500 anos de história no Nordeste.

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