FHC teme que Lula traga o populismo de volta ao Pa�s
Lisboa O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que temmedo de que a eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República possa trazer a volta do populismo no país. Disso tenho medo. Se há risco no Brasil, é o regresso do populis
Por | Edição do dia 13/11/2002 - Matéria atualizada em 13/11/2002 às 00h00
Lisboa O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que temmedo de que a eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República possa trazer a volta do populismo no país. Disso tenho medo. Se há risco no Brasil, é o regresso do populismo. Lula é um líder, é um democrata, tem um partido e tem o Congresso como refe-rência. Mas podem tentar fazer dele um líder carismático. Aí é ruim para ele e ruim para o Brasil, disse o presidente em entrevista publicada hoje no jornal Público de Lisboa. O presidente amenizou em seguida afirmando que seu sucessor terá força de espírito para não se deixar levar por esse canto da sereia. FHC criticou o projeto Fome Zero, anunciado como prioridade por Lula, que segundo ele, é um retrocesso se comparado com os projeto sociais colocados em prática por seu governo. É uma volta atrás. Um regresso a técnicas que substituímos porque não funcionavam, como a distribuição de cestas de alimentação. Substituímos isso por cartões magnéticos para a mãe-de-família comprar o que quer onde quer, disse. Apesar de afirmar que seu sucessor mudou várias vezes desde que o conheceu, em 1973 quando ainda era secretário do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) FHC disse que boa parte do PT é atrasado e que não teria percebido mudanças no governo e na sociedade. O nosso problema é que já houve uma revolução copernicana e nós temos ainda muitos ptolomaicos. Gente que acredita que é o Sol que gira em redor da Terra. É gente que quer que a economia do Brasil fique fechada, quando existe a globalização; gente que quer que o Estado ocupe todos os espaços quando a sociedade civil já é forte. Desse ângulo, uma boa parte do PT é atrasado, disse o presidente. À imprensa portuguesa, FHC disse que o PT tem atualmente uma aliança política mais ampla do que ele próprio teve. O Lula de hoje, o PT de hoje, é um partido com amplas alianças, muito mais amplas do que as que eu tive, disse o presidente. Ele descartou a possibilidade de próximo governo fechar a economia e afirmou que o MST não irá dominar o governo Lula sob pena dele não se sustentar no poder. Ao recusar o rótulo de neo-liberal e afirmar ser contrário à doutrina FHC disse que fortaleceu o Estado, mas de forma porosa, ou seja, articulada com a sociedade civil. Sobre José Serra, candidato do PSDB derrotado à Presidência, FHC evitou comentar o porquê dele não ter colado sua candidato ao do governo e rejeitou a idéia de que ele estaria à sua esquerda. À minha esquerda? De forma alguma. O Serra foi meu ministro e fez a minha política, disse. Última viagem O presidente Fernando Henrique Cardoso encerrou ontem, com a abertura de uma exposição comemorativa ao centenário do ex-presidente Juscelino Kubistchek, sua última visita como chefe de Estado à Portugal. Num dia cheio de homenagens, o presidente voltou a expressar confiança no futuro do país e na aproximação do Brasil e do Mercosul com a União Européia. Hoje, o presidente inicia a segunda fase da sua última visita à Europa. Na cidade de Oxford, interior da Inglaterra, ele será homenageado com o título de Doutor Honoris Causa da tradicional universidade britânica. O embarque para Oxford está marcado para as 8h (horário de Brasília) e sua chegada prevista para as 12h15.