Lula diz que Nordeste ser� prioridade de seu governo
Garanhuns e Caetés Em clima de quase histeria coletiva, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, foi recebido ontem em Garanhuns e Caetés, no sertão pernambucano. Emocionado, disse que o Nordeste será a prioridade do meu governo e atacou os
Por | Edição do dia 23/11/2002 - Matéria atualizada em 23/11/2002 às 00h00
Garanhuns e Caetés Em clima de quase histeria coletiva, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, foi recebido ontem em Garanhuns e Caetés, no sertão pernambucano. Emocionado, disse que o Nordeste será a prioridade do meu governo e atacou os coronéis, a quem responsabilizou pela miséria da região. Lula nasceu em Caetés quando a cidade ainda era parte de Garanhuns. Logo, tem uma espécie de dupla cidadania no local. O petista chegou às 15h ao aeroporto de Garanhuns, sendo recebido por uma multidão que invadiu a pista. Os 80 PMs e 12 agentes federais que protegiam o presidente eleito não conseguiram conter os presentes, que abraçavam e tentavam beijar Lula. Do aeroporto, o presidente eleito fez uma carreata até o centro da cidade, onde um palanque foi improvisado. Lá, falou a cerca de 10 mil pessoas, segundo a PM. Garanhuns tem 140 mil habitantes. O clima era de show popular. Gritos, fãs pulando um sobre o outro e tentativas de subir no palanque. Lula lembrou no discurso a sua infância na cidade, sua mãe Lindu e as dificuldades que passou. Tive sorte de receber mais benefícios por ser o caçula, disse. E prosseguiu: O Nordeste não deve favor a nenhuma região do país. O Fernando Henrique viajou muito pela China, Inglaterra, mas eu vou viajar pelo Brasil, afirmou, dizendo depois que voltará a Garanhuns como presidente acompanhado de seu ministério. De van, foi a Caetés, distante 18 km. Na entrada do sítio onde nasceu, um grupo de admiradores tentou parar a comitiva para que ele visitasse o local, mas a PM abriu o bloqueio e Lula passou direto. Ao chegar na cidade, também em clima de comoção, fez uma carreata em cima de um caminhão e participou de comício. Foi duro com os coronéis utilizando retórica típica do PT pré-Duda Mendonça. A miséria do Nordeste faz parte da dominação política dos coronéis, pois eles sabem que no dia em que vocês tiverem comida, trabalho e saberem ler jornal, não serão mais massa de manobra. ### Ministros virão conhecer o NE No Recife, quando almoçava com o prefeito João Paulo e líderes do PT, na sede da prefeitura, Lula fez um breve discurso antes de entrar, afirmando que vai trabalhar 24 horas por dia para que a miséria no país seja uma página virada na história. O presidente declarou ainda que pretende colocar em sua equipe ministerial pessoas sensíveis do ponto de vista político, porque acredita que o país tem que ser governado com o coração. Lula aproveitou a primeira viagem ao Nordeste após sua vitória para reafirmar compromisso de campanha de trazer à região seus ministros antes da posse. Vou fazer a viagem de todo o ministério ao semi-árido nordestino, disse Lula ao chegar para encontro com o prefeito de Recife. Quero que a minha equipe saiba que por trás dos dados estatísticos, temos uma mulher, um homem, uma criança. Precisamos pensar no ser humano antes de qualquer coisa. Antes de encontrar com João Paulo, Lula esteve no Palácio do Campo das Princesas, onde se reuniu por 20 minutos com o governador reeleito, Jarbas Vasconcelos (PMDB). Lula também se reuniu com o presidente do PSB, Miguel Arraes, que reafirmou o compromisso do partido de apoiar o futuro governo. Arraes, no entanto, descartou que esteja reivindicando cargos na administração. ### Projetos sociais terão até US$ 26,4 bi Brasília Os programas sociais do governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, poderão ter um reforço internacional de até US$ 26,4 bilhões ao longo dos próximos quatro anos. Essa é a soma dos recursos anunciados pelos Bancos Mundial (Bird) e Interamericano de Desenvolvimento (BID). Desse total, US$ 16 bilhões foram postos à disposição do Brasil após os presidentes dessas instituições se encontrarem com Lula. O acesso a essas verbas, porém, depende de duas exigências: a elaboração de projetos com boa base técnica que passem pelos critérios de avaliação dessas instituições financeiras e a existência de recursos nacionais para pagar a contrapartida a esses empréstimos. Na maior parte das propostas que financiam, o BID e o Bird entram com 50% do dinheiro. A outra metade tem de ser bancada pelo tomador o governo. Considerando um câmbio de 3,50 reais e um nível de contrapartida de 50%, seriam necessários R$ 92,750 bilhões nos próximos quatro anos para ter acesso a toda essa soma oferecida pelos organismos multilaterais, o que resultaria um investimento total de R$ 185,5 bilhões. O governo eleito ainda não definiu quais idéias pretende financiar. Os empréstimos dessas duas instituições podem ser direcionados para objetivos tão diferentes como: obras de infra-estrutura, combate à pobreza nas áreas rurais ou, simplesmente, reforço no balanço de pagamentos. Hoje, o orçamento dos principais planos sociais do governo federal é de R$ 32,7 bilhões, segundo dados da proposta orçamentária para 2003 discutida no Congresso. Segundo as estimativas oficiais, eles atendem a 31,7 milhões de cidadãos. O maior empreendimento é o da Previdência Rural, que é o pagamento de aposentadorias a trabalhadores que, na maioria, não contribuíram para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ou o fizeram e não têm como comprovar. Em 2003, o governo deverá repassar R$ 17,5 bilhões a 6,5 milhões de pessoas.