loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
quinta-feira, 20/03/2025 | Ano | Nº 5927
Maceió, AL
29° Tempo
Home > Política

Política

“Xerife” do combate ao crime organizado fiscaliza policiais

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

ARNALDO FERREIRA A Procuradoria Geral de Justiça regulamentou uma norma constitucional que lhe atribuiu o direito de manter o controle externo da atividade policial. Quer dizer: o aparelho de segurança pública, além de sua corregedoria, terá o controle também do Ministério Público. A Vara especial vai combater o crime organizado e o novo “xerife” designado é um especialista no assunto, o promotor de Justiça Luiz José Gomes Vasconcellos. Ele se notabilizou nacionalmente por ser o promotor que há nove anos está à frente dos processos nos crimes mais rumorosos e nos diversos tipos de crime da Gangue Fardada. Desde então Luiz Vasconcellos, como é mais conhecido, entrou na lista dos membros da Justiça marcados para morrer. A sua mais nova atividade é acompanhar a Câmara de Vereadores de Maceió que esta semana deverá concluir o relatório sobre as ações do crime organizado na periferia. Nesta entrevista à GAZETA DE ALAGOAS Vasconcellos fala sobre a modernização do crime, do coronelismo e da perda de sua liberdade. /// - No Ministério Público qual a sua linha de trabalho? – Geralmente o promotor de Justiça que vem do interior está habilitado para trabalhar em várias frentes: no Direito Penal, Civil, Trabalhista. No meu caso, vim para Maceió trabalhar numa vara especificada como crime organizado, desde então tenho me especializado. - Quanto tempo trabalha na área ligada ao crime organizado? - Em quase dez anos de Ministério Público, entre oito a nove anos... - Este período coincide com o seu tempo de atuação contra a gangue fardada. Este bando realmente foi desmantelado? - ... (silêncio). No mapeamento feito há alguns meses, percebemos que foram cortados alguns tentáculos do grupo de policiais civis e militares ligados a vários tipos de crime. Mas, não conseguimos chegar aos mandantes, aos autores intelectuais e a outras ramificações. Conseguimos desmantelar o braço armado do grupo, efetivamente percebemos uma retração significativa das ações. Mas isto não quer dizer que o grupo deixou de existir. Tanto é que foi criada a Promotoria Especial para cuidar particularmente dos crimes que envolvem policiais, fará o controle externo da atividade policial e comandará investigações do chamado crime organizado. - Ainda sobre a gangue fardada: o ex-coronel Manoel Francisco Cavalcanti é realmente o comandante do grupo acusado de matar por encomenda, roubar cargas e carros e desmanchar carros roubados? - Na época de sua prisão, foi acusado como um dos gestores e líder do grupo desta ramificação do crime organizado. - Como o grupo agia? - Foram mapeadas diversas formas de ações. Os acusados agiam nos crimes de pistolagem, em assaltos a instituições financeiras, carros fortes, no roubo de veículos, na adulteração de veículos, matavam por encomenda... - Dá para se ter uma idéia do montante de crimes que a quadrilha praticou? - Foram vários. Muitos estão sob investigação. São tantos os casos e em tantas localidades que não temos ainda uma noção completa do quantitativo. Existem vários processos, inquéritos em curso... - No Rio de Janeiro e São Paulo o crime organizado é ligado ao narcotráfico. Em Alagoas as autoridades afirmam que o crime organizado tem o manto protetor do poder político. Ainda é assim? - Infelizmente, Alagoas, ao longo dos anos, foi vítima das ações de supostos justiceiros que estavam ligados a homens violentos. Os chamados coronéis que tinham um efetivo sob o seu comando para manter seus currais eleitorais e ficar no poder em determinadas áreas. Houve uma retração do coronelismo. A gente percebe uma pulverização. Não há mais a centralização de grupos em áreas como eram antigamente. Mas isso ainda não acabou no Estado. - O coronelismo acabou? - O coronelismo mudou de tática, mudaram os nomes, tornou-se moderno e tem até um marketing diferente. Mas, as milícias clandestinas ainda existem e contam com o envolvimento político. - O senhor acaba de ser convocado para compor a comissão especial da Câmara que investiga a violência nos bairros periféricos de Maceió. Líderes comunitários denunciam a existência de um coronelismo urbano que estaria com a proteção de justiceiros. As denúncias das comunidades têm sentido? - Estamos investigando exatamente isso. - Maceió hoje é uma cidade violenta a ponto de ser comparada com outras capitais? - Alagoas ainda é um dos Estados mais tranqüilos. Maceió também. Mas, não quer dizer que para o nosso padrão não esteja violento. Houve um crescimento da violência e precisa ser identificada, rapidamente, a sua origem, as causas. O poder público tem de agir rápido. A sociedade não pode ficar à mercê dos bandidos. A sociedade não pode acreditar que não há solução. Nós não podemos deixar crescer o poder de fogo dos bandos. O Estado tem que ser sempre superior e precisa agir com inteligência e competência. - O senhor fez parte de um grupo de promotores que geriu a Secretaria de Defesa Social. O que não foi feito que deveria ter sido emplementado na área de segurança pública? - Quando o grupo sob a liderança do procurador Antônio Arecippo assumiu a pasta da Defesa Social enfrentou o setor que estava numa situação difícil: fornecedores cobravam atrasados há mais de 10 meses, faltava credibilidade, a estrutura estava sucateada, desmotivada.... Portanto, a primeira intervenção foi no sentido de reorganizar o setor. A partir daí motivamos o homem, buscamos resgatar a auto-estima. Deixamos as coisas bem adiantadas, evidentemente longe do ideal. Deixamos a pasta estruturada, com dignidade, elevação da auto-estima, aumentamos o efetivo da Polícia Civil. O atual secretário Robervaldo Davino é uma pessoa preparada, inteligente, competente e séria e estou convicto de que com a ajuda do governo federal conseguirá o que a sociedade espera. Só através dos recursos federais vamos conseguir equipar a Defesa Social. - A periferia reclama que quer segurança. O que o senhor deixou, parou de funcionar? - Naquela época, procuramos atender as áreas, colocamos viaturas nas ruas, hoje não posso falar porque estou fora do setor. - A periferia precisa de socorro? - Não há dúvida disso. Acredito que é preciso uma interação maior da polícia com as comunidades, através da polícia comunitária. Infelizmente, o efetivo das polícias é insuficiente para atender a todos. - O Tribunal de Justiça pede mais segurança para juízes e promotores em situação de risco, notadamente aqueles que trabalham com o crime organizado. Isto o assusta, desmotiva? - De forma alguma. É evidente que desde que entrei na luta contra o crime organizado muitas mudanças ocorreram na minha vida. Uma delas é a completa perda da independência de vida, não tenho mais o direito de ir e vir com tanta facilidade assim. Mas, encaro isso como parte do ônus que neste momento é decorrente de minha atividade. Mas isto até me motiva para continuar. Acabo de assumir a Promotoria de Combate ao crime organizado que vai apurar os casos mais rumorosos. - O que o senhor diz à sociedade neste momento? - Não acreditem que o mal vencerá o bem.

Relacionadas