Política
PCR quer garantir mem�ria de Lisboa em Alagoas

MARCOS RODRIGUES O Partido Comunista Revolucionário (PCR), através de seu Comitê Central, quer manter viva a memória política de seu fundador, o estudante alagoano, e revolucionário Manoel Lisboa, morto em 73 após uma sessão de tortura na sede do DOI-Codi, em São Paulo. Segundo o presidente do Centro Cultural ML de Pernambuco, o sociólogo Edival Cajá, sua história continua viva e sendo resgatada. ?Este é o momento mais alto depois de seu assassinato nos últimos trinta anos. Faz parte das conquistas da luta democrática. Além de resgatar a história de um dos homens mais coerentes da história na luta pelo socialismo. Ele foi capaz de defender sua causa e suas idéias até diante da iminência da própria morte?, acredita o sociólogo. Cajá, como é mais conhecido, veio a Maceió na semana passada para coordenar a primeira reunião da Comissão de entidades e partidos que organizam a vinda dos restos mortais do estudante para o Estado, após trinta anos. Os trabalhos do grupo foram acompanhados pelo sobrinho de Lisboa, Alfredo Lima. É graças à autorização e iniciativa da família que a memória do revolucionário poderá ser resgatada no Estado. ?Acho digna a ação dos companheiros e amigos ligados a Manoel, mas esse seu retorno é antes de tudo um ato e desejo de família?, revelou Alfredo. Ele defende a idéia de que o Estado ou o Município possam dispor de algum imóvel para a instalação definitiva do Centro Cultural Manoel Lisboa. ?Me impressionei com a estrutura que vi na sede de Recife. Aqui lutamos para pagar o aluguel e o telefone?, desabafou. Entre os participantes do grupo estão ex-companheiros de Lisboa, estudantes e representantes de todos os partidos de esquerda do Estado. Para Edval Cajá do PCR, Manoel continua revolucionando. ?Graças a ele as esquerdas de Alagoas voltaram a sentar numa mesma mesa para discutir?, observou o dirigente. Até a quarta-feira (30) o grupo espera definir detalhes da programação que marcará a chegada da urna mortuária com os restos mortais do revolucionário recolhidas no cemitério de Campo Grande, em São Paulo. Memória Desde o seu assassinato em 1973 que Manoel Lisboa é reverenciado entre o militantes de esquerda. O partido que ele criou (PCR) antes da morte continua atuante e já se espalhou por dez Estados brasileiros, centros culturais que contam a história da sigla e de seu fundador. Até hoje o partido atua de forma clandestina, ou seja, sem registro formal no Tribunal Regional Eleitoral. Se isso acontecesse a palavra ?revolucionário? deveria ser substituída por impedimentos da própria lei eleitoral em vigor. É uma forma de preservar a memória de seu fundador e garantir as origens do PCR quando defendia a luta armada como forma de combate à ditadura militar no País. A história do partido e de seu fundador está contada com precisão no livro ?A vida e a luta do comunista Manoel Lisboa?. A obra é formada por vários depoimentos de ex-companheiros de Lisboa. Entre os alagoanos estão Selma Bandeira (ex-mulher e já falecida), Lauro Bandeira, Fernando Costa e até o governador Ronaldo Lessa. ?Preso e sofrendo na pele as piores atrocidades já produzidas pelo ódio dos ditadores de plantão, ele não se dobrou?, relatou o governador. No livro existem ainda reproduções do último escrito de Lisboa redigido na prisão onde ele assumiu que era comunista, além de documentos, como o laudo montado pela repressão para justificar sua morte. Segundo a versão oficial da época, ele e seu companheiro Emanoel Bezerra haviam sido mortos numa troca de tiros no bairro de Moema, em São Paulo. Juventude A luta de Manoel pela liberdade e pelo socialismo ainda é uma bandeira de segmentos da juventude. Dentro do PCR a corrente dos estudantes se intitula ?Rebelião?. No Estado eles se reúnem na sede do Centro Cultural, no bairro do Poço, na Rua Tabajara, n. 63. O telefone para contato é: 336-5440. Para a estudante e militante do PCR Elizabeth Araújo, a vinda dos restos mortais de Lisboa é um momento de festa. ?É um revolucionário que está voltando para casa. Além disso sua causa é a nossa, a da juventude, principalmente porque ele foi capaz de materializar a sua luta através de um partido?. Os estudantes da juventude do PCR já são facilmente identificados nos protestos da categoria. Eles acompanharão toda a programação de homenagens. Em diversos grêmios estudantis e universidades estão sendo organizados debates e exeibição de vídeos sobre a ditadura militar. O sociólogo Edival Cajá explica o envolviemento da juventude com a história de Manoel por conta de sua coerência política. ?O que envolve é o seu discurso sem distâncias entre a teoria e a prática. E a juventude será a parte mais autêntica da sociedade, que é capaz de se rebelar e lutar contra as injustiças no mundo?, acredita Cajá. Resgate A vinda dos restos mortais para o Estado é vista pelo sociólogo como algo capaz de corrigir alguns erros do passado. Ele defende que a Universidade Federal de Alagoas readmita (in memorian) Manoel Lisboa de forma simbólica. Quando identificado como comista e envolvido com a luta armada, ele foi expulso da Faculdade de Medicina. O assunto será discutido entre a comissão e o reitor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Rogério Pinheiro. Mas para a família do revolucionário o seu sepultamento é antes de tudo um reencontro dos parentes com uma parte de sua própria história. Eles já adquiriram um jazigo no Cemitério Parque das Flores, onde serão sepultados os restos de seu membro mais conhecido publicamente. Programação As homenagens à memória de Manoel começam no dia 6 de maio, em São Paulo. No dia 7 é a vez de Recife prestar suas homenagens. Em Maceió a programação começará no dia 5 com uma sessão pública na Assembléia Legislativa. No dia 8, os restos mortais seguirão de carreata até a Faculdade de Medicina, onde será velado. Às 10h30 a Câmara Municipal realizará uma sessão especial. Em seguida, às 14 horas, um ato cultural será realiado. O momento mais solene do dia será a missa que acontecerá no cemitério. A cerimônia será pública, mas representará o principal momento para a família se despedir de Manoel Lisboa, dignamente.