Política
Delegado diz que peritos e legistas ganham sem trabalhar

ARNALDO FERREIRA Enquanto na Polícia Militar há um clima de aquartelamento por causa dos baixos salários, na Polícia Civil um escândalo denunciado pelo diretor do Departamento Central de Polícia Civil (Decepoc), delegado Roberto Lisboa, compromete toda a estrutura da Perícia Criminal e do Instituto Médico Legal. Na última reunião do Conselho Estadual de Segurança, quarta-feira (23), Lisboa revelou por que a maioria dos crimes fica sem esclarecimento. ?Os profissionais da perícia e do IML só vão trabalhar quando querem. Alguns recebem mais de 4 mil reais por mês e não moram nem em Alagoas, residem em São Paulo, Brasília e só aparecem para trabalhar uma vez por mês e no fim de semana?. O escândalo veio à tona durante a discussão sobre a autonomia do IML e da Perícia Criminal, que terminou aprovada pelo Conselho de Segurança com o único voto contra do deputado - delegado Francisco Tenório (PDT). Mas, autonomia só irá acontecer se aprovada na Assembléia Legislativa, porque terminou o prazo de fazer reformas administrativas sem autorização Legislativa. Segundo Lisboa, ?há laudos periciais que demoram mais de seis meses para sair. Se depender de um legista do IML o problema é pior porque a maioria dos 27 médicos-legistas só vai trabalhar quando quer. Tem gente sendo enterrada sem necropsia, no interior?, acusou o delegado. A denúncia foi reforçada também pelo secretário-coordenador de Justiça e Defesa Social, Robervaldo Davino. ?O IML tem 27 médicos-legistas e o nosso maior problema é achar entre eles um que queira ficar a semana inteira no Instituto ou ser o diretor do instituto?. Na onda das denúncias, o delegado Lisboa bateu forte nos médicos, ?o IML está sem diretor porque a maioria dos 27 legistas tem quatro, cinco empregos e trata o IML como bico?. Ao criticar a proposta de autonomia disparou ?não posso ser a favor da autonomia porque querem taxar serviços que hoje o Estado faz de graça para a população?. Contra-ataques Os legistas e peritos criminais criaram o projeto de autonomia porque querem se desvincular da polícia, a quem acusam de prejudicar suas atividades profissionais. A autonomia, segundo eles, ajudaria a esclarecer muitos crimes, principalmente os que têm a própria polícia como envolvida. O defensor do projeto de autonomia no Conselho de Segurança foi o presidente da Comissão Estadual de Direitos Humanos, Everaldo Patriota. Ao afirmar que peritos e legistas não são policiais, Patriota explicou que a autonomia é uma realidade nacional. Esclareceu que a taxação proposta são de serviços particulares. Os serviços prestados à sociedade continuam sem ônus. Patriota considerou as denúncias como gravíssimas e cobrou das autoridades os nomes dos profissionais que moram fora de Alagoas. O secretário da Associação Brasileira de Criminalística, Nivaldo Cantuária, é um dos atingidos pelas denúncias. Ao explicar que o Instituto de Criminalística tem 36 peritos, negou que o setor leva mais de seis meses para emitir um laudo e disse que nos últimos meses foram emitidos 470 laudos. ?Por trás da acusação do delegado está a tentativa de evitar a autonomia do IML e da perícia?. Cantuária disse ainda que a autonomia garantirá a isenção nos exames, nos laudos e impede a ingerência de delegados nos procedimentos técnicos. ?O perito e os legistas deixam de ser policiais e ganham status de profissionais científicos?. O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Legal, Gerson Odilon, também rebateu as críticas acusando. ?O delegado Roberto Lisboa foi diretor do Departamento de Polícia Científica e não fez nada para equipar o IML e a criminalística?, atacou. O delegado será acionado judicialmente para apontar quem são os legistas que só aparecem para receber e os que ganham sem trabalhar. ?O delegado também faltou com a verdade quando afirmou que o legista ganha mais de R$ 4 mil?, disse Odilon. Também questionou: ?O IML está sem diretor e qual foi o médico-legista convidado para assumir o IML?? Para o médico Gerson Odilon, alguns delegados da Polícia Civil querem passar uma falsa realidade sobre o IML e a Perícia Criminal para evitar a autonomia e assim evitar a criação do Centro de Perícia Científica. ?A verdade é que o IML e a perícia criminal trabalham sem as mínimas condições. Faltam os equipamentos básicos e há anos não acontece investimento neste setor?, lamentou Odilon. ?Já existe tecnologia suficiente para esclarecer muitos dos chamados crimes misteriosos que ainda acontecem em Alagoas. Mas, infelizmente, não temos nenhum equipamento para fazer simples exames de DNA?. Odilon está convencido de que a autonomia dará mais condições ao IML.