Política
Soldados e oficiais da PM amea�am se aquartelar

ARNALDO FERREIRA Mais de oito mil policiais militares vivem um clima de revolta e frustração com os baixos salários. Endividados no comércio e com soldos que não conseguem atender às necessidades básicas, os cabos, soldados e sargentos já falam em se aquartelar. Os cabos e soldados, que formam o grosso da tropa, com aproximadamente 6.500 policiais, estão no sufoco. Os vencimentos são insuficientes para comprar comida, gás de cozinha, pagar as contas de água e luz e a escola dos filhos. O salário inicial de um soldado que tem entre um e cinco anos de serviços é em torno de R$ 300 e o cabo recebe entre R$ 550 a R$ 600. A maioria está nas mãos de agiotas. A situação dos capitães, majores e coronéis também não é boa. Boa parte dos oficiais de último posto também se queixa. Um coronel com mais de 25 anos de serviços prestados, folha limpa e com todas as vantagens recebe em média R$ 6 mil brutos, depois dos descontos (Imposto de Renda e a taxa do Ipaseal) fica com pouco mais de R$ 4.200. A revolta aumenta quando o coronel compara seu salário com o de um delegado de polícia que ganha cerca de R$ 8,1 mil. Cabos e soldados O presidente da Associação de Cabos e Soldados, soldado Wagner Simas, atesta o clima de tensão na tropa ?A maioria dos companheiros anda frustrada com o governo Ronaldo Lessa (PSB) porque não vê perspectivas de melhorias. Em 2001, a tropa esperava um reajuste compatível com as necessidades básicas e, naquela época, não tivemos aumento. Para evitar o aquartelamento da tropa, o governador fez um incremento no pagamento de diárias, mas os inativos ficaram sem reajuste?, lembrou. O reajuste no pagamento das diárias, hoje, é mais um ingrediente que agrava o clima interno. A GAZETA DE ALAGOAS teve acesso aos valores das diárias operacionais: segundo a tabela, a diária do major ao coronel está em R$ 38; do tenente ao capitão R$ 30; do sargento ao subtenente R$ 20 e do soldado ao cabo R$ 12. Já na Polícia Civil o do agente de Polícia ao escrivão a diária é de R$ 45 ? maior que a do coronel - e do delegado R$ 350, quase dez vezes maior que a diária do coronel. O soldado Simas afirmou que, por causa das distorções, ?voltamos a viver um clima de aquartelamento generalizado também entre os oficiais?. A frustração aumentou, segundo Simas, na última terça-feira, quando o tropa participava da solenidade de comemoração da Semana de Tiradentes ? Patrono das Polícias- e esperava que o governo anunciasse o reajuste dos salários. ?O governador anunciou o novo piso do nível elementar para R$ 260; para o nível médio de R$ 400 e R$ 900 para o nível superior. Para nós, além de não anunciar nada ainda disse que estava estudando e que era para não esperar muita coisa?. Diariamente, cabos e soldados se dirigem à associação em busca de dinheiro para comprar comida, gás, pagar aluguel, o colégio dos filhos. ?A situação é difícil?, admitiu Wagner Simas, que aproveitou para pedir apoio dos poderes Judiciário e Legislativo. ?Esperamos que os desembargadores e deputados mostrem ao governo a necessidade de melhorar os salários?. Os soldados reivindicam salário idêntico ao de agente da Polícia Civil entre R$ 1 mil e R$ 1,1 mil, já os cabos pleiteiam um piso de R$ 1,3 mil. Oficiais Os oficiais não escondem o clima de insatisfação. Porém, são mais discretos, comedidos com as palavras e evitam falar em ?aquartelamento?. Porém, a maioria admite que vive um clima de expectativa. Um dos líderes políticos dos oficiais, o ex-deputado- major Paulo Nunes (PT), pela primeira vez, elogiou um comandante-geral, cel. Edmilson Cavalcante. ?O comandante é um militar sério, elaborou um projeto de reajuste salarial ouvindo e discutindo com as categorias, inclusive com os aposentados, e o governo acena de forma negativa. O que a PM quer é recuperar seus salários, corroídos nos últimos oito anos, sem reajuste. O clima na tropa é de revolta. Por isso, não descarto aquartelamento?. Um coronel do Estado-Maior, que pediu para não ter seu nome publicado, afirmou que, ?depois de 24 anos de trabalho, passei por vários momentos operacionais difíceis na vida e, agora, chego ao topo da carreira com o salário líquido de quatro mil e duzentos reais. Isto é a metade do que recebe um delegado de polícia, com apenas o curso de bacharel em Direito e no início da carreira?, lamentou. O ex-comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Jadir Ferreira, hoje chefe da Casa Militar do Palácio do Governo, não tem vergonha de mostrar seu contracheque. Porém, prefere não entrar na polêmica. Os coronéis de linha moderada tentam evitar o clima de insatisfação. Um desses é o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Paulo César. Seu soldo é de R$ 4,3 mil, mas garante que ?não há clima de aquartelamento?. Ele acredita que o governo anunciará reajustes satisfatórios. Para tranqüilizar a tropa, Paulo César garantiu que os coronéis superiores estão fazendo gestões junto ao governo para que o reajuste atenda às expectativas.