Política
Beira-Mar vai ao dentista e em seguida � transferido de Alagoas

ARNALDO FERREIRA - REPÓRTER O traficante Luiz Fernando da Costa - Fernandinho Beira-Mar - foi transferido, ontem, da sede da Polícia Federal, numa operação que envolveu 50 homens de operações especiais das polícias Federal, Civil e Militar. A transferência aconteceu num dia de muita movimentação nos bastidores da polícia. O presidente do Sindicato dos Policiais Federais de Alagoas, Jorge Venerando, disse que a presença de Beira-Mar no Estado representou um prejuízo de aproximadamente R$ 400 mil aos cofres públicos. Ele também criticou a direção nacional da PF por não ter um plano nacional de segurança e presídios de segurança máxima, para manter presos do porte de Beira-Mar. Transferência O narcotraficante deixou a sede da Superintendência da PF, onde estava há 38 dias, por volta das 15 horas, num helicóptero da própria Federal que o levou ao Aeroporto Zumbi dos Palmares. De lá, Beira-Mar embarcou em outro avião da PF. Fontes da polícia divulgaram várias rotas para confundir a imprensa. O avião saiu de Maceió com com escala prevista para Brasília. À noite, informou-se que o destino do traficante seria São Paulo. Ele estaria voltando para o presídio de segurança máxima da cidade de Presidente Bernardes, onde já esteve em março e abril, antes de vir para Maceió. A PF não confirmou que o destino final de Beira-Mar seria Presidente Bernardes, mas é grande a movimentação de policiais e helicópteros na região. Dor de dente Antes de ser transferido, Beira-Mar provocou uma grande movimentação da polícia, na parte da manhã, na sede da PF. Por volta das 11h, o criminoso mais temido do País foi levado à Clínica Center, que fica em frente da sede da superintendência, para tratamento de dor na arcada dentária. Desde quinta- feira, o preso se queixava de dor de dente. As dores eram tão fortes que, no sábado, foi atendido por um médico da Aeronáutica e, no domingo, por um dentista da Polícia Federal. Os dois profissionais recomendaram que ele deveria ser tratado por dentistas. Ele vinha tomando analgésico. Ontem, o próprio superintendente da PF, delegado José Paulo Rubim, comandou os 30 homens que levou Beira-Mar ao dentista. Ele foi atendido por três profissionais: Marcelo Costa, Francisco José Melo Rocha e Cristiano da Cruz Correia. Depois de uma hora e quarenta minutos de atendimento, Beira-Mar foi escoltado para a cela onde estava preso. ?Fernandinho Beira-Mar sofria da Síndrome de Dor na Articulação Tempro Mandibular. Isto acontece com pessoas que estão com estresse ou ansiedade?, atestou o dentista Marcelo Costa, que ficou impressionado com o paciente inesperado que recebeu no fim da manhã. ?Ele se mostrou uma pessoa bastante educada e também muito ansiosa?, disse o dentista, sem revelar muitos detalhes sobre o paciente. Beira-Mar disse aos dentistas que estava preocupado porque sabia que seria transferido a qualquer momento e não escondia a ansiedade para tentar descobrir o novo endereço. Na cela da PF, dizia sempre que queria voltar para o Rio de Janeiro. ?Esta ansiedade do paciente pode ter provocado as dores que achava serem de dente. Mas, na verdade, era dor na articulação da arcada dentária?, explicou o dentista Francisco José. Outra curiosidade que ficou sem resposta foi o valor da consulta. Os dentistas, alegando questões profissionais, não revelaram quanto estavam cobrando para atender Beira-Mar. O superintendente da PF também não revelou o valor da conta. Mas admitiu que se houvesse a cobrança, a Polícia Federal pagaria a consulta. Agradecimento Depois que o preso foi transferido de Alagoas, o superintendente da Polícia Federal se reuniu com os policiais federais, civis e militares que participaram da operação e agradeceu o empenho de todos. No fim da tarde, foi ao Palácio dos Martírios para agradecer ao governador Ronaldo Lessa (PSB) o apoio dado ao policiamento externo, durante os 38 dias em que manteve a custódia de Beira-Mar. ?Ficou patente a eficiência do trabalho em conjunto?, disse Paulo Rubim, lembrando que durante o tempo em que o traficante ficou preso em Alagoas foram realizadas operações conjuntas que inibiram os crimes e o tráfico de drogas no Estado. Rubim teve um papel importante no desmantelamento do crime organizado e até na prisão do presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo. Despesa O presidente do Sindicato dos Policiais Federais de Alagoas, Jorge Venerando, disse que os cerca de R$ 400 mil gastos com a presença do traficante no Estado serviram para o pagamento de diárias e aquisição de equipamentos de segurança para a sede da PF. ?Se Beira-Mar ficar andando de mês em mês pelo País vamos chegar ao fim do ano com uma despesa de dois milhões e quatrocentos mil reais?, avaliou. Venerando considerou ser um erro o que estão fazendo com Beira-Mar. ?Órgão público, como Superintendência da Polícia Federal, não é presídio de segurança máxima?, condenou Jorge Venerando, acusando a própria direção da Federal de transformar o preso num ?pop star do crime organizado no Brasil?, ao deslocar Beira-Mar de um lado para o outro. O sindicalista defendeu a construção de presídios federais de segurança máxima em áreas de difícil acesso. ?Com os presídios de segurança máxima sendo construídos na região amazônica, no Centro-Oeste ou em outro país, acabaria esse vexame que comprova a falta de uma política de segurança pública no País?, finalizou. Até o fechamento desta edição, a PF não havia divulgado o destino oficial do traficante, apenas informou que ele estava sendo deslocado para Brasília.