Política
Em Maceió, 2004 é a eleição do quem te viu, quem te vê

MARCOS RODRIGUES A sucessão da prefeita de Maceió Kátia Born (PSB) será marcada por uma confusa combinação ideológica. Desde que o processo começou, aliados do PSDB viraram oposição; o PT, que estava na oposição, virou situação, e até quem nunca foi político como José Wanderley Neto agora entra na disputa como candidato a prefeito pelo PMDB. O samba do crioulo doido fica ainda mais confuso quando o nanico rebelde PSTU é apontado por vários segmentos como o partido que mantém o discurso mais coerente para o processo. No campo ideológico, que norteia as bases dos partidos, o problema é mais sério. É lá que se encontra o PT, que foi aliado e adversário histórico do PSB em Alagoas, na oposição até três semanas atrás. Durante seis anos, o discurso dos vereadores do partido Thomaz Beltrão e Judson Cabral foi de oposição. As críticas iam desde a condução das obras até a falta de transparência com o dinheiro público. O vereador Judson era o que mais cobrava o envio à Câmara Municipal da prestação de contas da prefeita. Hoje, PSB e PT estão juntos novamente, na chapa governista, com Alberto Sextafeira e o petista José Roberto. Complicação Antes de viver a nova fase governista, depois que a direção nacional, através do presidente do PT, José Genoíno, definiu a aliança PSB-PT, os petistas viveram uma grande complicação. Durante o processo de escolha de quem iria encarnar a candidatura do partido, o embate era totalmente ideológico. De um lado, o pré-candidato Paulo Fernando dos Santos (Paulão) defendendo uma atuação moderada. Do outro, a procuradora de Estado Cláudia Amaral, trazendo o discurso mais à esquerda do partido. Na verdade, era o que o PT dizia quando foi fundado em 1980. Ou seja, aliança dos trabalhadores somente com partidos que defendam a classe. Candidato próprio Cláudia Amaral perdeu. Mas aceitou a derrota nas prévias do partido com uma certeza: o PT teria candidatura própria. Dois meses depois, o que ela mais denunciou aconteceu. O deputado Paulão renunciou à sua candidatura. E aceitou a intervenção do Diretório Nacional, numa reunião da qual participou o governador Ronaldo Lessa, sem consultar as bases petistas. Para o vice de Sextafeira, petista José Roberto Mendes, essa discussão não terá a necessidade de vir à tona durante o processo de aparição do partido no guia eleitoral. Toda a construção dessa aliança foi pensada. A militância vai entender que estamos aqui para construir um programa novo que, com certeza, não terá a cara daquele que vinha sendo posto em prática e que naturalmente criticávamos, disse o vice de Sexta. Com um discurso em que alega maturidade, José Roberto disse que sabe que o partido deixou a posição de franco atirador e que terá que encarnar os desgastes da gestão do PSB, há 12 anos no poder, e a falta de experiência do PT em gestões executivas na capital. Paulão, que quando ainda era candidato abriu fogo contra a direção do Centro Federal de Ensino Tecnológico (Cefet) para atingir Alberto Sextafeira, ex-diretor da unidade, diz que manterá o peso das denúncias. Não mudou nada. Estou apenas aguardando os próximos passos da investigação, afirma. Nova oposição Dentro do ninho tucano, o clima ainda é de adaptação. O partido, que é aliado do governo estadual e municipal, decidiu romper com os socialistas em função da conjuntura nacional. Só que com isso acabaram por criar uma nova oposição. Isto porque o partido não conseguiu ou não quis retirar todos os quadros que ocupam cargos no município e no Estado. Então, tendem a assumir um discurso meia boca contra Lessa, Kátia e Sexta. Continuam sendo governo o secretário de Saúde, Álvaro Machado, e Francisco Carvalho, na Secretaria de Ciência e Tecnologia, ambos tucanos. Chicão vive uma situação ainda mais delicada, porque seu cargo não é do partido, mas sim do deputado Antônio Albuquerque, do PL, chefiado em Alagoas pelo deputado federal João Caldas, que era aliado e agora faz oposição ao governo. No caso do secretário Álvaro Machado, a mistura ideológica é ainda maior. Ele é tucano, mas é bem aceito pelo PT, que é oposição ao PSDB nacionalmente. Sua permanência na secretaria foi defendida até pelo ministro da Saúde, Humberto Costa, com o aval do deputado Paulão. Na paz Outra confusão que esconde conveniências envolve o PDT. O partido, que tem o deputado Cícero Almeida como candidato na disputa pela vaga de prefeito, também era governo, mas saiu. Antes de serem aliados, os órfãos de Leonel Brizola eram isolados pelo governador Ronaldo Lessa. No primeiro mandato de Lessa, Geraldo Sampaio, então vice, não ocupou a cadeira nenhuma vez. Superadas as diferenças, o PDT voltou. Ocupava a secretaria de Economia Solidária Trabalho e Renda, mas Corintho Campelo teve que deixar o cargo. Ainda assim o deputado Almeida já avisou: Não vou estadualizar a eleição. Continuarei na bancada do governo. Solitário O PPS do ex-deputado Régis Cavalcante, também candidato a prefeito, ficou solitário, apenas com o apoio da senadora Heloísa Helena. Mas até isso poderia não acontecer. É que, por 48 horas, Regis foi vice de Téo Vilela, até ele desistir da candidatura a prefeito. Mas mesmo antes, Regis ocupava uma diretoria da Petrobras, regiamente paga. E falava bem do governo Lula. Saiu do cargo para disputar a eleição e adotou o discurso de oposição no programa nacional do PPS na TV.