Política
MST dá como certa saída de Gino César

Odilon Rios A queda-de-braço entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas pode mesmo custar a cabeça do superintendente do Incra alagoano, Gino César Menezes. É o que diz o MST, que espera para a terça-feira da semana que vem a vinda de dois técnicos do Incra nacional, que servirão de interlocutores entre o instituto e o movimento. Nosso primeiro ponto de pauta será a saída de Gino César, disse o coordenador nacional do MST em Alagoas, José Roberto Silva. A idéia, segundo José Roberto, é que o MST, depois de desocupar a Praça Sinimbu e o prédio do Incra (que ocorreu ontem), espere os 20 dias dados pelo presidente nacional do Incra, Rolf Hackbart, para a transição. Logo depois, Gino César seria substituído. O assunto foi discutido em uma reunião ontem pela manhã com o governador Ronaldo Lessa (PDT), no Palácio Floriano Peixoto. Lessa pediu a presença do MST e da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Na reunião, foram discutidos também a distribuição de sementes, liberação de seis ônibus para que MST e CPT participem de uma marcha a Brasília no dia 13 para cobrar agilidade na reforma agrária, além de barracas e alimentação. Ao ser questionado se uma das soluções para o fim do impasse entre Incra e MST passava pela exoneração do superintendente do Incra, o governador disse: Essa hipótese não está descartada. A reunião teve ainda a presença de membros do Conselho de Justiça e Segurança Pública, do Tribunal de Contas do Estado e da bancada de oposição da Câmara Municipal de Maceió, aliados do governador. Com Lessa, o MST reclamou do clima de tensão existente no campo, relatou a divisão dos movimentos sociais que lutam pela terra, segundo Roberto, provocada por Gino César, e o corte de verbas para a reforma agrária em Alagoas. ### Superintendente do Incra nega demissão: Eu fico O superintendente do Incra alagoano, Gino César Menezes, voltou a descartar, ontem, a possibilidade de sair do cargo, conforme afirma o MST. Isso pode estar na pauta do movimento, mas não na pauta do governo federal, garantiu, acrescentando que durante a estada do superintendente do Incra nacional, Rolf Hacbart, em Alagoas, ficou definido que não haverá mudança na superintendência. Quando se fala em transição, é para se discutir a mudança de alguns membros da direção na assessoria [do Incra], já acertada com o superintendente nacional do órgão, e não a minha, afirmou. Eu fico. Gino César terá uma reunião hoje com funcionários do Incra para definir o retorno das atividades no órgão. Há a possibilidade de que a primeira reunião ocorra na sede do Incra, desocupada ontem pelos sem-terra. Na segunda-feira, Gino César viaja a Brasília para conversar com o presidente nacional do Incra. Vamos discutir a pauta apresentada pelo MST e por outros movimentos, afirmou. Vamos ainda identificar nomes que possam ajudar na pauta técnica e operacional e dar agilidade ao processo de reforma agrária, já que estivemos parados por 33 dias, acrescentou. O superintendente do Incra lembrou ainda que os dois técnicos que virão a Alagoas não são interventores, como chamou o MST, e sim interlocutores. |OR ### Após sufoco, comerciantes da Sinimbu respiram aliviados Bleine Oliveira Os comerciantes da área em torno da Praça Sinimbu se disseram aliviados com a saída dos sem-terra. Eles manifestaram insatisfação com o protesto do MST, pois alegam que perderam clientes e que alguns estabelecimento fecharam suas portas pela inviabilidade do negócio, provocada pela chegada dos sem-terra. O presidente da Associação dos Comerciantes e Moradores da Rua da Praia, Antônio Soteris, disse que a presença dos trabalhadores não foi agradável. Proprietário de uma loja de confecções, Soteris propõe que a sede do Incra seja transferida para uma área mais afastada do Centro, para evitar problemas como o que viveram os comerciantes nos últimos 33 dias. A fedentina e o lixo incomodavam transeuntes, moradores, lojistas e consumidores. Mas o presidente da associação admite que a crise do comércio naquela área não pode ser atribuída apenas ao protesto do MST. Os manifestantes, ressalta Soteris, não podem ser responsabilizados pela crise que vem fechando lojas e provocando o desemprego. Eles foram prejudicados pela imagem criada após a queima de um veículo. Mas podemos perceber que não são bandidos, não pedem esmolas, não roubam, não incomodam ninguém. O que incomoda é a fedentina, declara Antônio Soteris. Apoio à luta A declaração do presidente da Associação dos Comerciantes e Moradores da Rua da Praia confirma a análise do coordenador do MST, José Roberto Silva, de que o protesto na Praça Sinimbu não colocou a sociedade contra os movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. Segundo o líder do MST, a população compreende e apóia a luta dos trabalhadores. Tanto que recebemos apoio e ajuda de muita gente. Os conservadores é que se aproveitam para tentar jogar a sociedade e o governo contra nós, reclama José Roberto. Aproveitando, o presidente da Associação da Rua da Praia cobra ação da Prefeitura para impedir o fechamento de mais lojas. Precisamos de limpeza, iluminação e segurança para termos o consumidor de volta, afirma Antônio Soteris. ### Embora diplomático, Lessa perdeu a paciência com MST Apesar do clima diplomático demonstrado pelo governador Ronaldo Lessa durante a reunião de ontem com o MST, na quarta-feira, 30, horas antes do superintendente do Incra nacional, Rolf Hackbart, pousar com o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) no Aeroporto Zumbi dos Palmares, o governador reuniu o secretariado, a portas fechadas, para reclamar dos sem-terra. Segundo apurou a Gazeta, Lessa estava irritado, bateu na mesa, pedindo que todas as obras em assentamentos no interior alagoano fossem suspensas até que o MST se retirasse da Praça Sinimbu. Os secretários teriam assistido à reunião atônitos. O governador teria ficado mais descontrolado ainda quando, no momento da reunião, recebeu um ofício do presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AL), desembargador José Fernandes de Hollanda Ferreira, comunicando o fechamento do tribunal por causa dos sem-terra. A história sobre o fechamento das lojas no entorno da Praça Sinimbu também teria irritado o governador. |OR