loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
quinta-feira, 17/07/2025 | Ano | Nº 6012
Maceió, AL
28° Tempo
Home > Política

Política

É melhor um Brasil com Lula do que sem Lula

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

| ODILON RIOS Repórter Perseguido pela ditadura militar, obrigado a peregrinar em favelas para escapar dos soldados do regime, um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e ex-assessor especial do governo Lula, o mineiro Frei Betto é dos intelectuais que ajudaram na formação do partido. Ele falou com a Gazeta, na última quinta-feira, por telefone, de São Paulo, sobre o atual momento político brasileiro e o futuro do PT. Para ele, o partido não acabou. Mas Betto pede aos filiados reflexão sobre a legenda, defendendo ainda o punição do Campo Majoritário e ele mira em José Dirceu , responsável por um suposto esquema de corrupção no partido e no governo. Frei Betto destacou que o fim do PT significaria a volta da direita. Gazeta - Intelectuais ligados ao PT, como a filósofa Marilena Chauí e o cantor e compositor Chico Buarque, falaram semana passada em reflexão e tristeza ao se referirem ao PT e ao momento político nacional. Qual a visão do senhor? FREI BETTO - Estou convencido de que quem tem nojo de política é governado por quem não tem, e se se incutir, sobretudo nos mais jovens, o nojo pela política, é tudo o que os maus políticos querem: que o eleitor ético, íntegro, com fome de justiça, dê as costas à política para que os maus políticos possam se locupletar cada vez mais. Claro que estou profundamente decepcionado com tudo isso que veio à tona, porque o que a direita não conseguiu em muitas décadas desmoralizar a esquerda brasileira, nem mesmo durante a ditadura , em poucos anos meia dúzia de dirigentes petistas conseguiu: desmoralizar a esquerda. Agora, não podemos também confundir o PT, que tem 800 mil filiados, com essa meia dúzia. É preciso exigir que o partido extirpe o quanto antes esse grupo e consiga se reconstruir. Por isso, a minha expectativa agora é que, no próximo dia 18, os petistas, que elegerão a sua nova direção nacional, reflitam muito em quem votar, não escolham aquele grupo responsável por todas estas maracutaias, essa corrupção. Quem é o maior culpado no PT por tudo que isso que vem acontecendo? Acho que o culpado é uma tendência política, não é uma pessoa. Não vou prejulgar porque de todas as pessoas que são alvo de atenção, só duas são confessadamente culpadas: o Sílvio Pereira [ex-secretário-geral do PT] e Delúbio Soares (ex-tesoureiro do partido). O estranho é que o partido não tem se adiantado às CPIs e ao Ministério Público para tomar medidas rígidas contra essas pessoas que assumiram, perante a opinião pública, a utilização da máquina do partido para favorecer a corrupção. O PT que expulsou membros em 2003 por defenderem bandeiras históricas do partido é o mesmo que agora resiste a retirar filiados acusados de corrupção. Como pode se entender isso? É simples: havia uma direção no PT, dentro da qual existia um pequeno grupo de corruptos, e essa direção é que monitorou a expulsão daqueles petistas, e evidentemente não vai se esperar que essa gente vá se autopunir. Mas essa gente está provisoriamente afastada, embora alguns insistam em ser candidatos à direção partidária em setembro. Era missão da nova direção, sob o comando do ex-ministro Tarso Genro, apressar esse processo de apuração e punição. Dá para se separar o PT do presidente Lula? Não pode. Isso seria um suicídio político por parte do presidente Lula. O PT saiu da cabeça dele, o PT é a história dele e ele está na Presidência graças ao PT. A separação seria uma catástrofe, é como separar o pai de um filho. Nesse caso, não dá para estabelecer essa separação. Daí porque ele se expressou de uma maneira muito incisiva, usando uma palavra muito forte, de que ele se sente traído. O senhor acredita que o partido é maior que Lula, como defendem setores petistas? Não vou estabelecer essa comparação. O PT exerce uma função muito importante no equilíbrio e aperfeiçoamento da democracia brasileira, que é ser o escoadouro das demandas dos setores mais pobres e também dos setores da esquerda brasileira. Em outras palavras: se o PT desaparece, isso é uma ameaça ao Estado de Direito porque, não havendo esse escoadouro, não havendo esse instrumento institucional de demanda das reivindicações dos mais pobres do País, é possível que dentro de alguns anos a gente tenha setores, segmentos da esquerda, querendo atuar pela via não institucional. Aí, sim, seria a colombização do Brasil. O ex-presidente do PT, José Genoino, chegou a dizer que o partido caminhava para o centro, aceitando alianças com partidos de fora do campo da esquerda. Com toda essa situação enfrentada pela legenda atualmente, o PT deveria caminhar para onde? Para suas origens. Ele é um partido de esquerda, qualquer desvio de rota, para o centro ou para a direita, não é o PT de origem. Pode ter até ter o nome da sigla, como o PTB foi criado na era Vargas e depois se transformou neste partido de aluguel, presidido pelo deputado federal Roberto Jefferson, que é também, confessadamente, outro corrupto e para se defender passou de acusado a acusador. O que é o PT hoje? Um partido machucado, ferido, maculado, atropelado por meia dúzia de dirigentes que se envolveram em corrupção. E o PT precisa agora juntar os seus cacos, curar suas feridas, vencer esse trauma. E a oportunidade se apresenta a menos de um mês, que são as eleições para a direção nacional. Lula sabia que membros petistas e do governo tinham montado um esquema de corrupção? Estou absolutamente seguro de que não, porque o presidente seria louco se ele, em primeiro lugar, tivesse algum indício e não tivesse agido e, segundo, não vir a público declarar que se sentia traído. Estou convencido que isso foi armado à revelia do presidente. Um dos candidatos a presidente do PT, Valter Pomar, em visita a Alagoas na semana passada, colocou que um dos problemas do partido foram as alianças. O senhor identifica isso? Não acho que se possa fazer política sem alianças. O erro foi não ter critérios, ou seja, faz-se aliança não porque o teu partido vai me apoiar, mas porque os nossos partidos estão comprometidos com determinado projeto-Brasil. Então acabou o PT cedendo a um vício grave, porque é pura corrupção dos partidos de aluguel, que é pagar no caixa para obter o apoio e os votos desses partidos. Isso é muito grave. Acho que alianças são necessárias, mas elas não podem sacrificar o princípio dos partidos e nem ultrapassar os limites da ética, da decência. Lula disse que a elite brasileira está tentando inviabilizar o seu governo, mas depois de ter assumido a Presidência da República, aliou-se a setores da elite, com representantes na política. O que houve? Houve isso: o partido fez aliança com partidos de esquerda, centro e direita. O presidente tentou fazer uma composição para ver se conseguia estabelecer uma espécie de pacto social, entre os diversos setores da sociedade, para tirar o Brasil de dificuldades terríveis deixadas pelo governo anterior. De certa maneira, conseguiu isso: estabilidade econômica, vencer a inflação, programas sociais avançados, uma política externa exemplar, enfim. Agora, lamentavelmente, para aprovar projetos de lei e medidas provisórias no Congresso, sabemos que isso dependia de um caixa dois e, portanto, maculando tanto a imagem do PT quanto a imagem do próprio governo. O presidente deveria desistir da reeleição? Não. Continuo achando que o Brasil é melhor com Lula que sem Lula e temo a volta daquela direita, filha dileta da ditadura. Temo a volta do grupo que levou o patrimônio público à privatização, prejudicando enormemente o Brasil. O senhor conhece o presidente desde 1980. Por que então saiu do governo? Por duas razões: voltar à literatura, à liberdade de expressão e, segundo, por discordar da política econômica. Eu não poderia, como membro do governo, andar pelo Brasil afora ouvindo perguntas críticas à política econômica e fazendo de conta que defendia essa política, quando, muitas vezes, eu concordava com as críticas. Portanto, acho que essa política de juros e superávit altos, uma carga tributária pesada sobre os mais pobres, não vão reduzir a desigualdade social. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi o erro de Lula? Não, o erro é a herança tucana, é todo aquele grupo do Ministério da Fazenda, que já estava identificado com a política implantada pelo ex-presidente Fernando Henrique e que foi mantida pelo governo Lula. É fácil ser corrupto no Brasil? Não sei, não sou corrupto. Imagino que haja muito mais corrupção, primeiro, daquela que é reprimida, segundo, da que é sabida. Lamentavelmente, a corrupção não é só um problema de quem rouba do INSS, de quem faz caixa dois, mas começa do pequeno detalhe: o sujeito que leva vantagem se apropriando do bem do outro, não devolvendo o troco a mais do caixa do supermercado, infringindo o sinal de trânsito, levando o cinzeiro do hotel para casa. Corrupção é isso: o ato de desonestidade, de falta de transparência, de fazer escondido aquilo que a pessoa teria vergonha de fazer em público. Isso é uma cultura de corrupção que infelizmente existe no Brasil. É possível pensar em uma sociedade igualitária após a morte do socialismo no Leste Europeu? Problema é que o capitalismo fracassou no mundo inteiro. Somos 6 bilhões de habitantes e, segundo a ONU, tem quatro bilhões vivendo abaixo da linha da pobreza. Ou seja, o capitalismo é vitorioso para nós, porque não fazemos parte dos 2/3 da população mundial que não tem que acordar pensando como vai sobreviver até o dia seguinte. Mais do que nunca, acho que o socialismo é atual. Não é porque houve a inquisição que a Igreja Católica perde o seu mérito. O que importa são os fundamentos dela. Não é porque o socialismo faliu no Leste Europeu, e ainda bem que faliu aquele modelo, que a idéia de uma sociedade de partilha deveria ser abandonada. É porque vivemos em uma sociedade de opressão, de exclusão, de miséria, de muito sofrimento. Veja a situação da África, dos grotões pelo País afora. Anda-se pelo Panamá, Peru, Costa Rica e não se vê criança de rua, que é o sinal de que estamos muito mal mesmo. Precisamos pensar uma sociedade em que os bens da terra e os frutos do trabalho humano sejam repartidos. ### QUEM É Nome: Frei Betto Idade: 61 anos Formação: Antropologia, Jornalismo, Filosofia e Teologia Livros: 52. O mais recente é Treze Contos Diabólicos e Um Angélico (Editora Planeta, 130 páginas, R$ 29,90) Hobbies: Nadar, caminhar e cozinhar

Relacionadas