Política
Prisão de Gama é descabida, diz Lessa

| ODILON RIOS Repórter Em mais um capítulo da crise do sistema penitenciário alagoano, o governador Ronaldo Lessa (PDT), durante a inauguração do Memorial à República e ao lado do vice-presidente José Alencar, voltou a criticar as investigações da Justiça e do Ministério Público Estadual (MPE) sobre o assassinato do fazendeiro Fernando Fidélis, e considerou o pedido de prisão do secretário de Ressocialização, Valter Gama, exagerado e descabido. É um exagero, absolutamente descabido o pedido de prisão de um secretário, resumiu o governador, reiterando que não vai afastar ou exonerar o secretário de Ressocialização, até ontem considerado foragido pela Justiça. Hoje, no Diário Oficial do Estado, será publicado o nome do novo diretor do presídio Baldomero Cavalcanti, um militar, segundo Lessa, indicado pelo secretário de Defesa Social, Paschoal Savastano. Se não tivesse sido pedida a prisão preventiva dele [Gama], ele se afastaria para facilitar. Na medida em que houvesse qualquer insinuação de que ele próprio estaria envolvido nisso, ele se afastaria para que a condução do processo pudesse ser feita da melhor forma possível, explicou Lessa, criticando a decisão do juiz Marcelo Tadeu de soltar o ex-soldado Garibalde Amorim. O juiz Marcelo Tadeu já entra fazendo a crítica, que eu concordo, de que há muita gente nos presídios e que podia sair. Só que ele começa a tirar [da prisão] pessoas de uma periculosidade que eu não compreendo. Quase 70% das pessoas que estão nos presídios não são latrocinistas, não são irrecuperáveis, são pessoas que podem ser recuperadas, ter penas alternativas, podem estar fora. Resta saber quem é quem, analisou Lessa. O juiz Marcelo Tadeu já repetiu à imprensa que Garibalde não foi beneficiado pela delação premiada norma em que a pena do preso diminui se ele colaborar com a Justiça na elucidação de crimes , mas porque parte da pena dele já foi cumprida. Discurso ameno Na visita ontem do vice-presidente, durante a comemoração dos 116 anos da Proclamação da República e inauguração do Memorial, na Praia da Avenida, o governador fez um discurso considerado ameno, sem críticas ao governo federal. Mas os elogios eram endereçados ao presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB), ao presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e à senadora Heloísa Helena (P-SOL), comparando-a à psiquiatra Nise da Silveira, que mostra a força da mulher alagoana. ### Heloísa e Lessa: sorrisos, mas sem aliança PETRÔNIO VIANA Repórter A senadora Heloísa Helena (P-SOL) foi uma das 12 personalidades condecoradas ontem com a Medalha do Mérito da República. Heloísa distribuiu sorrisos e conversou animadamente com o governador Ronaldo Lessa (PDT), mas descartou a hipótese de uma reaproximação política em 2006. A senadora aproveitou a oportunidade para reafirmar suas críticas ao governo Lula. Estou agradecida pela homenagem, mas a gente sabe que o povo brasileiro tem pouco a comemorar. Estamos em um momento da vida nacional tentando resgatar até os valores republicanos, que estão sendo liquidados pelos crimes contra a administração pública, pela promiscuidade da relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional e pela corrupção generalizada na máquina pública, atacou a senadora. Sobre sua relação com o governador, a senadora afirmou que sempre manteve uma relação de cordialidade e profunda divergência política, e que a política de alianças não estaria em discussão. Heloísa Helena comentou também a turbulência vivida pela segurança pública em Alagoas e no resto do Brasil. Em função da violência grande que está em Alagoas, estamos todos de luto por tantos jovens que estão sendo assassinados. O governo federal tem sido absolutamente irresponsável em não liberar os recursos para alternativas de repressão à violência, disse. ### Alencar repele o funeral da esperança O vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, disse ontem, durante a inauguração do Memorial à República, que o Brasil fez um pacto com o diabo. A resposta surgiu depois de se perguntar por que o ministro da Fazenda Antonio Palocci não muda a política econômica. Pacto com o diabo Boa pergunta. A impressão que nós temos é de que fizemos um pacto com o diabo. Nós, o Brasil. Porque o diabo é uma figura sobrenatural, e porque é a única forma de explicarmos. Eu não tenho outra explicação. O Brasil é um dos países mais ricos do mundo em recursos naturais, tem terra fértil, água, sol, não dá um real de subsídio à exportação de cana-de-açúcar ou soja..., explicou, sem citar Palocci nesta resposta. Porém, reclamou da alta taxa de juros e do desemprego no País, comparando o desemprego com o aumento da criminalidade. Esses crimes advêm de quê? Dessa taxa alta de desemprego. O aceno de um bandido para levar um rapaz, um homem de bem, de família, tem base em quê? No fato de ele estar desempregado, avaliou. Funeral Em discurso no palanque do Memorial, na Praia da Avenida, o vice-presidente pediu que os jovens não acreditem no funeral da esperança, referindo-se à crise política que se abate sobre o governo Lula, e avaliou que o governo federal não vai retroceder no relógio da História. No discurso, Alencar falou das realizações do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos programas sociais, como o Bolsa-Família. Em nome do presidente da República, meus queridos jovens, eu afirmo que a crise atual não abala os valores democráticos que abraçamos como uma causa. A causa de uma vida não se desfaz. Não acreditem nos que anunciam o funeral da esperança. Eles se enganam. O Brasil não vai retroceder no relógio da História. O grande salto republicano está em suas mãos, analisou o vice-presidente, finalizando o discurso: A ordem é feita porque o progresso finalmente será para todos, explicou Alencar.