Política
Ex-secretário tenta acusar conselheiro, que desmente

PETRÔNIO VIANA Repórter O ex-secretário estadual de Agricultura (no governo Manoel Gomes de Barros, 1997-1998) Dgerson Novaes, em depoimento prestado na manhã de ontem à comissão especial formada na Assembléia Legislativa para investigar a venda dos tubos de ferro fundido da adutora Belo Monte-Jacaré dos Homens, disse ter ouvido comentários de que o conselheiro do Tribunal de Contas Otávio Lessa, irmão do governador Ronaldo Lessa (PDT), teria deslocado parte da tubulação para projetos de irrigação de sua propriedade, em Delmiro Gouveia e na Bahia. Novaes, que tem terras perto da adutora, fez questão de frisar que ouviu esses comentários da boca de populares. O povo fala o que quer, o que tem vontade, mas eu ouvi isso na região, disse o ex-secretário. Para o presidente da comissão especial, deputado Antônio Albuquerque (PFL), a possibilidade é grave e deve ser investigada. O conselheiro Otávio Lessa repeliu, na noite de ontem, as insinuações de Novaes. Essas declarações são tão ridículas que não há nem o que dizer. Eu não tenho terras na região. Eu vou interpelá-lo e ele [Novaes] vai ter que provar o que diz, reagiu. Dgerson Novaes relatou ter ficado sabendo da retirada dos tubos no ano passado, à boca miúda, e criticou a administração da Companhia de Abastecimento d?Água e Saneamento de Alagoas (Casal) e a administração estadual. Na região, as pessoas passam 20 ou 30 dias sem água. Tem água, mas falta uma minissubestação em Pão de Açúcar para abastecer a população. A Casal cobra R$ 16,00 por 10 metros cúbicos de água. Em Petrolina [PE], com a mesma quantia você compra 10 mil m3. Isso é um roubo. É a política da manutenção da miséria, afirmou. O conselheiro da comissão especial, deputado Marcos Ferreira (PMN), disse que com os elementos de que dispõe, é possível concluir que os 24 km de tubos que seriam retirados não estavam incluídos no leilão realizado em 2003, mesmo porque o lote 92, referente a Belo Monte, estava avaliado em apenas mil reais. ### Investigação no MP inicia hoje depoimentos LUIZA BARREIROS Repórter O ex-diretor financeiro da Companhia de Abastecimento D?Água e Saneamento de Alagoas (Casal), Dgerson Vieira da Rocha, e o atual presidente da empresa, Jorge Briseno, serão os primeiros a ser ouvidos pelo Ministério Público Estadual na investigação sobre as denúncias de supostas irregularidades na venda de tubos da adutora Belo Monte-Jacaré dos Homens. Os depoimentos acontecem a partir das 14 horas, no Núcleo da Fazenda Pública Estadual. Os dois serão ouvidos pelos promotores de Justiça Norma Tenório, Nilson Miranda e Sidrack Nascimento. O caso foi denunciado no início de novembro ao Ministério Público Estadual através de uma representação encaminhada pelo então presidente da Casal, Marcos Carnaúba. No dia seguinte, ele foi demitido pelo governador Ronaldo Lessa (PDT). Segundo a assessoria do MP, Dgerson Vieira Rocha foi convocado por ter sido ele quem assinou a representação. Por enquanto, foi instaurado apenas um procedimento preliminar pelo MP para investigar os fatos denunciados na representação. Dependendo das provas, depois poderá ser instaurado um inquérito ou diretamente uma ação civil pública. ### Severino da Casal: versão surpreende O segundo depoimento ouvido ontem pela comissão especial da Assembléia Legislativa do Estado (ALE), que investiga a venda dos tubos da adutora Belo Monte-Jacaré dos Homens, foi o do empresário Severino Alexandre Filho, conhecido na região como Severino da Casal. Na versão de Severino, os tubos retirados da adutora estavam incluídos no leilão realizado em 2003 e foram adquiridos pela empresa Sider Comércio Transportes e Serviços Ltda. De acordo com Severino, ele não possui vínculos financeiros com a Casal. Severino teria sido contratado pela empresa Sider para retirar apenas 2km de tubos de ferro fundido de 450mm e substituí-los por tubos de PVC de 100mm. Os 26 tubos de PVC, de 6 metros cada um, teriam sido pagos pelo próprio Severino, que ficou com o prejuízo de cerca de R$ 25 mil. Os deputados estranharam o fato de Severino não ter firmado contrato com a empresa, mas feito um acordo de boca. Segundo Severino Alexandre Filho, as obras tiveram início em abril deste ano, mas seus serviços teriam sido contratados no dia 15 de novembro. Ele deveria desenterrar e substituir 2km da tubulação mas, antes da conclusão do trabalho, uma manifestação dos habitantes da região provocou a paralisação das obras. Os 14km de tubos retirados da adutora teriam sido encaminhados para o pátio da empresa Sider em Maceió. Um documento apresentado por Severino chamou a atenção da comissão. Um trecho teria sido enxertado para dar a impressão de que teria sido redigido na época da realização do leilão. Na próxima terça-feira, a comissão vai ouvir o leiloeiro Isaldo Sobral, o dono da empresa Sider, Milton Pessoa, e o gerente de operações da Casal no Sertão, conhecido como Aldemir. |PV