Política
Denúncias, bate-boca e vitória de Fontan

ODILON RIOS Repórter A Câmara Municipal de Maceió reelegeu ontem o presidente Arnaldo Fontan (PFL) para o biênio 2007/2008 no Legislativo municipal, por treze votos a seis, contra seu concorrente, Cristiano Matheus (PFL). Os dois votos que sobraram foram nulos. Com 50 anos, Fontan assume a presidência pela terceira vez: Vou continuar administrando, dando tratamento igualitário a todos os senhores vereadores. A traição decidiu mesmo a eleição na Câmara. Isso porque o placar foi diferente do que se previa. Nas negociações nos bastidores, Fontan conseguiu atrair mais um vereador. Até a tarde de segunda-feira, contava com 12 vereadores. No grupo de Matheus, a previsão era de nove vereadores até a tarde de segunda-feira. Perdeu três. Em 2007, a composição da Mesa Diretora será assim: Arnaldo Fontan (presidente), Marcelo Malta (PCdoB, 1º vice-presidente), Eduardo Canuto (PV, 2º vice-presidente), Galba Novaes (PL, 1º secretário), Davi Davino (PSDB, 2º secretário) e Carlos Ronalsa (PMDB, 3º secretário). Em um plenário lotado de funcionários, curiosos e profissionais da imprensa, assistiu-se a bate-bocas, denúncias de traição e a revelação dos bastidores da eleição que demorou três meses para acontecer, mas só foi decidida na semana passada por Fontan, com edital publicado no Diário Oficial do Município na quinta-feira passada. Pelo menos dois vereadores, segundo foi apurado pela Gazeta, pernoitaram de segunda-feira para ontem na casa de praia, de Arnaldo Fontan, na Barra de São Miguel. Ambos são do seu grupo político e os detalhes da conversa entre os vereadores são desconhecidos. Traição Os desabafos começaram com o encerramento da eleição, às 11h, e a vitória de Fontan. Matheus e seu discurso provocaram alguns vereadores. Mesmo não utilizando o termo traição, indiretamente disse que aqueles que tinham o compromisso de votar nele, e não o fizeram, iriam prestar contas com o Poderoso, ou seja, Deus. Alfinetando ainda mais membros da Casa, sem dizer nomes, acrescentou: Dez homens e uma mulher, ontem [anteontem] à noite, deram a palavra e me diziam que eu estava pronto. Estava armada a confusão. ### Berg diz que não traiu e inicia confusão Enquanto o vereador José Márcio (PTB) discursava, lembrando um suposto acordo entre Fontan, o deputado estadual Cícero Amélio (PMN, irmão de Fontan) e ele próprio para a não-reeleição da Mesa Diretora, seguranças e o vereador Galba Novaes (PL) tentavam conter o vereador Berg Holanda (PTB), que ameaçava reagir. Depois do discurso de Márcio, Berg foi à tribuna e falou sobre os bastidores da eleição não só da Mesa Diretora da Câmara, mas das negociações para a eleição da Mesa na Assembléia Legislativa, comandada pelo deputado Celso Luiz (PMN). Antes de começar o discurso, Berg afirmou: Não traí ninguém. E lembrava que o grupo de Cristiano Matheus, que chamava de nosso, nunca teve onze votos, e sim dez. Apontando para Matheus, acusou: O senhor, Cristiano, não sabe votar porque o senhor errou seu voto. Para Berg, um dos dois votos nulos tinha sido de Matheus. Berg Holanda contou à imprensa que sua reação aconteceu porque ele teria sido acusado de traição, tanto por Matheus quanto por José Márcio. O senhor traiu outra vez, dizia Berg Holanda, olhando Matheus. O vereador foi colocado para fora do gabinete do Celso [Luiz, deputado] por traição. Só votei de acordo com a minha consciência. Berg Holanda não esteve sozinho nas acusações. Galba Novaes também subiu à tribuna e, em tom mais ameno, lembrou que na segunda-feira Matheus teria ido à prefeitura com outro vereador, depois identificado como Dudu Holanda (PTB), e teria pedido que Galba saísse da chapa de Fontan do cargo de primeiro secretário. Caso o acordo fosse cumprido, Matheus desistiria da eleição e comporia com Fontan. Depois, com a imprensa, Matheus negou que tivesse conversado sobre uma possível saída da sua própria chapa. Fui à prefeitura segunda-feira para conversar porque o Arnaldo estava lá com o prefeito [Cícero Almeida]. Fui com o Dudu [Holanda] para conversar, para tentar fazer mesmo o entendimento. De repente, poderia se fazer uma chapa de consenso. Não houve esse consenso. |OR ### Oposição tenta liminar e cria blocão Com a vitória do presidente Arnaldo Fontan (PFL), criou-se um bloco de oposição na Câmara, foi o que declarou ontem o vereador Diogo Gaia (PFL). Ele disse ter votado em Cristiano Matheus para a presidência. Gaia havia entrado com uma liminar no Tribunal de Justiça para tentar suspender a eleição na Casa Mário Guimarães, mas a Justiça negou o pedido. Somos um bloco de oposição à Mesa Diretora, avisou. Judson Cabral (PT), que votou em Matheus e declarou não ter participado das negociações com os vereadores, afirmou que a eleição da Câmara foi um espetáculo. E esse espetáculo não foi construtivo, emendou. A votação na Câmara foi aberta pontualmente às 10 horas, mas parecia que a decisão estava acertada antes mesmo do início da sessão. O deputado estadual Cícero Amélio (PMN), irmão de Fontan, sentou-se à Mesa Diretora pouco depois do resultado das urnas. A votação foi secreta, em ordem alfabética, e o primeiro a ser chamado foi Alan Balbino (Prona). O segundo, Arnaldo Fontan, encaixou o envelope com o voto na urna e, em seguida, deu uma forte batida, mesmo gesto seguindo por Galba Novaes (PL). Davi Davino soprou o envelope com seu voto para dentro da urna. Diogo Gaia foi chamado a votar, mas esqueceu a caneta, emprestada por Francisco Holanda (PTdoB); Damásio Ferreira (PTdoB) teve dificuldades em encaixar o voto na urna. O sétimo a votar, Dudu Holanda (PTB), arrancava comentários do público: Chegou a hora, dizia-se. Comentário semelhante aconteceu com Berg Holanda: Esse é o cara. Berg foi o décimo-nono voto da eleição. Gerônimo Ciqueira chegou à Câmara às 10h25. Cinco minutos depois, votou e deixou o plenário. Os demais votaram com tranqüilidade. Na contagem, quando Fontan lia o 13º voto, funcionários do Legislativo aplaudiam o resultado: ele estava eleito. |OR