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Falta o Canal do Sertão, mas ainda posso fazê-lo

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| ODILON RIOS Repórter A entrevista com o governador ocorreu na terça-feira passada, no fim da tarde, no Palácio Floriano Peixoto. Ronaldo Lessa reclamou do governo Lula, disse que não muda secretários até abril e revelou que o prefeito Cícero Almeida (PTB) tentou uma aliança na campanha. Gazeta - Vamos começar de Brasília para Alagoas. Como o senhor está avaliando o governo Lula? Ronaldo Lessa - Olha, há saldos positivos na política externa. Ele procurou trabalhar a América Latina, África, Ásia, os chamados países emergentes, teve uma participação no G7 bem positiva no começo das reuniões. Nestas últimas, acho que ele perdeu muito sua força. Mas acho que a política econômica do presidente Lula não mudou. O sr. fala em relação ao tratamento dado aos estados, não é isso? Vejo a escola do Palocci, muito parecida, para não dizer a mesma do Pedro Malan, ministro da Fazenda do governo FHC. E com relação aos estados, agravou. Dou o exemplo de Alagoas. De uma forma ou de outra, no governo FHC, todos os estados mantiveram o limite contratual. O extra-limite foi uma obra do governo Lula. Quer dizer, a intolerância da equipe econômica é muito maior do que no governo passado. Era todo um discurso que formulava a esquerda, primeiro do respeito à Federação, depois tratar os estados de forma diferente, que era justo diminuir o fosso entre ricos e pobres. Ele traiu o Brasil, governador? A palavra trair é muito forte. Não vou usar esse termo, mas vou dizer que não foi isso que apoiamos. Por isso é que não me sinto desconfortável de estar no PDT. Na maioria dos aspectos, o melhor governo federal para o Estado era FHC? Não sei, teria de fazer uma avaliação. Na área da saúde, conseguimos fazer a Unidade de Emergência, tivemos apoio para o combate à mortalidade infantil, o Projeto Alvorada, que possibilitou construir mais escolas, com mais vagas que todas as outras que já existiam. Houve uma possibilidade de Alagoas funcionar. Claro que ficamos inabilitados por um período muito grande, com relação a conseguir empréstimos. Lógico que os contratos perversos não foi o Lula quem fez, mas o FHC. Contratos com juros mais altos. É muito difícil para botar na balança. Estou sendo mais exigente com o Lula porque acho que ele tinha o discurso diferente e não está cumprindo. Nos últimos anos de FHC, tivemos transferências voluntárias [recursos da União] maiores do que no governo Lula. O senhor entrega o governo em abril. O que foi de mais importante que o senhor não fez nesses sete anos? (Pausa) Ainda não fiz, mas até abril tenho chance de fazer, que é o Canal do Sertão. Se até março eu não inaugurar o primeiro módulo, foi o ponto fraco do governo. Todo o resto que a gente prometeu, se não fizermos 100%, fizemos 80% ou 90%. Eu disse que em todas as sedes de municípios eu colocaria asfalto; se faltar, será uma só: Belo Monte. Foram 11 estradas, fiz 10. Na Educação, fiz mais que o esperado. Fazer em oito anos o que os caras fizeram em 180: criaram 160 mil vagas, criamos quase 200 mil. Mas o salário dos professores é bem ruim, governador... Acho que é, mas não são só dos professores, não: a média do salário do serviço público no Brasil é baixa. Estamos na média nacional. O primeiro plano de cargos e salários que fiz foi dos professores. Agora, o ótimo eu não consegui fazer. Veja-se a média de salários quando eu entrei e veja quanto é hoje. Melhorou muito. Agora, está bom? Eu não acho. Os professores têm que continuar lutando. Governador, os chamados ronaldízios, a mudança de secretários: vai retomar isso em janeiro? Não precisa. Ficam até abril. O vice-governador Luis Abílio (PDT) faz as alterações. Não vou fazer, só se for extremamente necessário. Quais os critérios que o senhor utiliza para estas mudanças? A fidelidade da pessoa ao projeto. Reforma administrativa: já houve muitos cortes, acréscimos. A reforma fracassou? Foi errada? O que houve? Não sei. As falhas principais são mais de adaptação da nossa cultura. Mas o projeto foi aplicado no Maranhão e lá é tão pobre quanto Alagoas, do ponto de vista econômico. São diferentes. Eu não aceitei a proposta dele. Pegamos um modelo, discutimos internamente, com nossa equipe e achamos que para a nossa cultura deveria ser diferente. Mesmo assim, há uma dificuldade: secretário ser mandado por secretário. Problema enorme que tenho aqui: secretário que se dirige a mim direto. Problema de comunicação na estrutura? Nada, é disciplina mesmo. E vaidade também. O secretário não fala com seu coordenador. Acho que, se isso sincronizar, dá certo. E também nunca imaginei fazer uma reforma que não fosse preciso mudar. Não somos gênios. A crise do sistema prisional: o senhor falou agora em critérios para mudança do secretariado. Por que Robervaldo Davino saiu da Secretaria de Defesa Social? Mas não saiu da equipe. Cada macaco no seu galho. Só vêem essa secretaria como de segurança pública e não o complexo, que é a Defesa Social, envolvendo cidadania, direitos humanos, defesa civil. A secretaria foi concebida para ter um jurista lá em cima. Por isso coloquei o Paschoal Savastano. O secretário de Defesa Social tem que olhar a segurança pública, mas tem de olhar o presídio, os direitos humanos, o todo, essa é a diferença. Convidei o Davino para o Palácio, mas ele teve uma visão clara: sou melhor como policial civil, por isso foi para a Diretoria Geral da Polícia Civil. A relação entre Paschoal e Davino é boa? Já esteve ruim. Esteve estremecida. Quando estremeceu? Rapaz, não sei. Quando penso que não, percebi que os dois estavam colocando a culpa um no outro. Chegavam aqui e vinham conversar ao pé-do-ouvido, reclamavam. Isso foi logo no começo da crise do sistema prisional, que não foi nem com eles, mas na Secretaria de Ressocialização. O senhor reclama do Judiciário alagoano. Ele erra muito? Acho que sim, mas como um todo, no Brasil. Houve casos, sobretudo de pessoas importantes, que não foram apuradas as acusações sobre elas. O senhor falou em mensalão de juízes. Quanto custa um magistrado no Estado? Não sei, nunca comprei nenhum. A imprensa sabe a quem perguntar. Teve alguns que foram comprados mesmo. Governador, há três grandes grupos políticos que se formam para as eleições de 2006. Um é coordenado pelo senhor, o outro pelo deputado federal João Lyra (PTB) e o terceiro pelo senador Renan Calheiros (PMDB). Acredita que Renan ainda é candidato ao governo alagoano? Acredito, porque de 20 de novembro para cá, o comportamento dele tem mudado. Disse que está bem balançado, revendo a posição, ou seja, é como se em determinado momento ele tivesse desistido. Não conversei só com ele, mas com a senadora Heloísa Helena (P-Sol), mostrei a ela que se Renan não viesse era preciso que ela repensasse o projeto dela. É uma figura importante. O senador Teotônio Vilela Filho (PSDB) também propôs uma conversa comigo. Acho que o tema é esse: a possibilidade de o Renan não ser candidato. E o vice-governador Luis Abílio? Não empolga? Até agora não chegou a empolgar. É muito complicado, quando o cara está fora do governo pode ficar espalhando que é candidato. No governo, como o Luis Abílio, que tem me substituído muito, não é ético ele estar fazendo isso. Dizem até que quando ele substitui o senhor no governo no Interior, as pessoas ficam perguntando nas ruas: quem é ele? Ah, sim, claro. O deputado pelo menos está nas páginas, foi lá, pediu voto, concorreu, participou de eleição, mas o Abílio nunca participou de nenhuma. Quando era minha eleição de governador, ele era o vice. Ninguém vota no vice. Por outro lado, é bom. Se o Abílio tem 5% e é pouco conhecido, pode subir em uma pesquisa. Isso é uma faca de dois gumes. O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Celso Luiz (PMN), resiste a ser candidato ao governo ano que vem. Ele não empolga? O Celso achava que a condição ideal para ele ser candidato seria ele estar no exercício do governo. Ele seria candidato à reeleição para governador. Seria, então, aquela idéia: Abílio ganharia uma vaga no Tribunal de Contas e o Celso ficaria no governo? Pois é, e isso aí o Abílio não admite. O senhor, então, pensou nessa hipótese? Eu não! Eu não poderia pensar pelos outros. Como vou pedir ao Abílio para renunciar ao governo? Quando eu o apresentei para ser meu vice, eu dizia que quando eu sair, ele vai ser meu substituto. Quem tem melhor perfil para o governo: Abílio ou Celso? (Pausa) O Abílio está mais velho, está mais preparado. Agora, talvez o Celso tivesse hoje mais votos. Se a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não for favorável ao senhor, sobre sua inelegibilidade, o senhor vai apoiar Heloísa Helena ao Senado? Para qualquer coisa que ela queira. Heloísa tem credenciais. Tem até a indicação do Renan ao governo. Acho que hoje o Renan reúne mais, mas se Renan não vem, Heloísa pode ser minha candidata, sem nenhum problema. Não tenho dificuldade de apoiar Teotônio Vilela Filho, Heloísa Helena, Renan Calheiros, Celso Luiz ou Luis Abílio. E para o Senado, se o TSE não deixar o senhor concorrer? O Luis Abílio seria um belo candidato, ou Heloísa Helena. Téo e Renan não podem porque são senadores. Mas acho que isso não vai ocorrer. Não cometi crime algum. Como pretende superar os atritos com o prefeito Cícero Almeida (PTB)? Não sei. Gosto do Cícero, no aspecto pessoal. Se ele tivesse fechado uma aliança conosco, não teria caído nos braços do João Lyra. Houve a tentativa de aproximação durante a eleição do ano passado? Nosso partido não aceitou. Ele nos procurou durante a campanha. Ele queria ser o cabeça, com o Alberto Sextafeira na vice. O Cícero ganhou não com o dinheiro do João Lyra, mas houve abuso de poder econômico. O Cícero ganhou com os méritos dele. Os R$ 5 milhões gastos na campanha dele não contaram? Não, eles compraram dez mil votos, mas a diferença foi maior. O que lamento é que ele esteja perdendo o controle. Boa parte não está na mão dele. Só tenho que enfrentar o Cícero porque o grupo político dele não faz outra coisa a não ser me processar. Tentei de todas as formas me aliar a ele. Toda vez que dou o sinal, levo uma porrada do patrão dele. O poder cansa? Cansa. Pode ser que não para quem gosta de pompa, jantares, de badalação. O poder deixou o senhor rico? Estou cheio de aviões, motos... (risos). Não tenho nada. Uma casa e na luta para conseguir a segunda. O salário da gente não dá para criar fortuna. A felicidade não está no dinheiro. ### QUEM É Nome: Ronaldo Augusto Lessa Santos Idade: 56 anos Cargo: Governador Partido: PDT Formação: Engenheiro, mas queria ser arquiteto. Hobby: Leitura. Está lendo O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago

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