Política
Nonô é bombeiro na crise municipal

| ODILON RIOS Repórter O vice-presidente da Câmara dos Deputados, José Thomaz Nonô (PFL), assumiu o papel de bombeiro na crise entre a bancada governista na Câmara Municipal de Maceió e o prefeito Cícero Almeida (PTB). Nonô reuniu ontem vereadores em sua casa, na Barra de São Miguel, em torno de um carneiro na brasa. Apesar de Nonô negar que tenha assumido o papel de bombeiro e repetir que havia convidado todos os vereadores, ontem à tarde estavam apenas os parlamentares pertencentes à bancada governista. O vereador José Márcio (PTB), ainda líder do prefeito no Legislativo, não estava no almoço. De acordo com o deputado, a data do encontro foi uma coincidência e o almoço estava programado desde o fim do ano passado. Apesar disso, Nonô classificou o clima entre a Câmara e o prefeito como normal e disse ainda que há episódios, mal-entendidos, mas superáveis. Não há nenhum problema insolúvel. O que houve, talvez, foi uma falha de comunicação na questão dos vetos, disse o vice-presidente da Câmara. Acho que faltou diálogo oportuno de quem de direito na área de planejamento da prefeitura com a Câmara, mas eu conversei com o prefeito, conversei com os vereadores e não vejo nenhum problema de maior gravidade. Tenho certeza de que isso vai ser resolvido da melhor maneira possível e dentro do menor espaço de tempo possível. O encontro na Barra de São Miguel aconteceu quatro dias depois que a Câmara derrubou os vetos às 16 emendas dos parlamentares da Casa Mário Guimarães. Como pano de fundo da crise, desentendimentos entre o assessor especial do prefeito, Elionaldo Magalhães, e o presidente da Câmara, Arnaldo Fontan (PFL). Apesar do clima de tensão na Câmara, ontem, na casa de praia de Nonô, os ânimos dos vereadores pareciam amenizados, comparando-se aos últimos dias. O vereador Chico Holanda (PTdoB), por exemplo, defendeu o diálogo entre o prefeito e a bancada. Sentar à mesa e conversar, com os espíritos desarmados, receitava o vereador, enquanto bebia um copo de cerveja. Não acredito que haja crise grave. A sensibilidade do prefeito Cícero Almeida irá reunir a bancada e encontrará uma solução para tudo isso. No fim da tarde, a Gazeta conseguiu conversar com o prefeito Cícero Almeida (PTB). ### Fontan sugere Conselho Político O presidente da Câmara de Vereadores, Arnaldo Fontan (PFL), evitou ontem atacar diretamente o assessor especial do prefeito Elionaldo Magalhães. Mas defendeu a criação de um Conselho Político na Prefeitura. O objetivo da medida, segundo Fontan, é a descentralização de poderes do prefeito, que passaria a consultar os partidos da base aliada da prefeitura para a tomada de decisões. Que o prefeito crie esse conselho político e não concentre as decisões só em suas mãos, argumentava Fontan. Um conselho com todos os segmentos políticos que conduziram o prefeito ao sucesso, à sua vitória, explicava Fontan, dizendo ainda que o conselho seria para evitar o isolamento do prefeito nas suas decisões. O prefeito, que ele não se isole, que ele chame essas forças que o conduziram, porque são essas forças que vão lhe dar sustentação. Se em algum momento o prefeito toma uma decisão isolada e atinge um colegiado e as forças que o conduziram, necessário se faz que o prefeito reflita. Isso cabe a ele, afirmou. A sugestão do presidente da Câmara foi feita uma semana depois que o prefeito publicou um decreto que altera a estrutura da Secretaria de Planejamento, colocando suas ações diretamente dependentes de uma comissão, que tem poderes para alterar o orçamento e controlar informações de todos os órgãos da administração direta e indireta. A supercomissão seria gerida pelo assessor especial Elionaldo Magalhães, o mesmo, segundo os vereadores, que sugeriu a Almeida os 16 vetos às emendas parlamentares no Orçamento da capital para este ano. |OR ### Elionaldo está desgastado, diz Toroca Pertencente à base governista e vereador mais idoso da Câmara de Maceió, Walter Pitombo Laranjeiras, o Toroca (PTB), disse ontem, no almoço dos vereadores com o vice-presidente da Câmara dos Deputados, José Thomaz Nonô (PFL), que deve existir o recuo das duas partes para o clima de desentendimento entre Câmara e Prefeitura. Mas ele advertiu que o assessor especial do prefeito, Elionaldo Magalhães, está desgastado em relação a Câmara. Em nossas reuniões, achamos que o secretário Elionaldo está um pouco desgastado com a Câmara. O pensamento da Câmara é que Elionaldo não vem trabalhando junto ao prefeito para que a Câmara seja contemplada para resolver todos os seus problemas internos, disse Toroca, segurando um copo de cerveja e sentado em uma cadeira de vime, ao lado do vereador Galba Novaes (PL), que conversava ao celular. Problemas O Executivo deve fazer um estudo para que a Câmara seja contemplada o suficiente para resolver os seus problemas, analisou Toroca. Apesar de não definir os problemas, conforme sua classificação, Toroca se referia ao repasse do acréscimo de R$ 5 milhões no Orçamento 2006 para o duodécimo da Câmara, vetado na semana passada pelo prefeito sob o argumento de que só quando a receita aumentar. Grave crise A mais grave crise política no governo do prefeito Cícero Almeida começou em agosto do ano passado, quando o então secretário de Planejamento, Elionaldo Magalhães, foi afastado da função por pressão da bancada governista na Câmara. Motivo: mexeu no duodécimo da Casa. Porém, a saída de Magalhães foi apenas simbólica, porque em seu lugar assumiu César Marques, subsecretário de Planejamento. A partir daí, o ex-secretário assumiu a Assessoria Especial do prefeito, com dois gabinetes: um na própria Secretaria de Planejamento; o outro, vizinho ao gabinete do prefeito. |OR ### Almeida a vereadores: Elionaldo fica Cinco dias após o estouro da mais grave crise política instalada entre a bancada governista e o prefeito Cícero Almeida (PTB), no final da tarde de ontem, saindo dos estúdios de uma rádio no bairro do Jacintinho, onde tem um programa, o prefeito falou pela primeira vez sobre o episódio, com exclusividade, para a Gazeta. Almeida disse que, em primeiro lugar, não vai aceitar pressão da bancada governista na Câmara, que pede a saída de seu assessor especial, Elionaldo Magalhães. Avisou que Elionaldo fica no cargo. Almeida demonstrava irritação com os vereadores, ao dar a entrevista. Elionaldo não sai. Elionaldo não faz mal a ninguém, Elionaldo é um homem decente, de bem, é um cara que tem me dado respaldo político suficiente para que eu possa administrar Maceió. Ele não tem contrariado a Câmara Municipal nem vereadores. Não existe essa de vereador botar ou tirar quem quiser, disse o prefeito. Almeida disse ainda que não se nega a conversar com o presidente da Câmara, Arnaldo Fontan (PFL), que pede a saída de Elionaldo. Não confirmou se haveria encontro hoje entre ele e Fontan. Converso com qualquer um deles. Não tenho divergência com Fontan; ao contrário, são vereadores com quem trabalhei, lutei, andei em campanha com eles, pedi votos no mesmo palanque. Ao falar sobre a sugestão do presidente de se criar um conselho político para ajudar a administrar a cidade, Almeida disse: Não precisa de conselho político, as decisões da prefeitura quem toma é o prefeito, disse. De acordo com o prefeito, os presidentes do PTB, deputado federal João Lyra, e do PFL, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, José Thomaz Nonô, estão conversando com a bancada de vereadores governistas para contornar a crise. As decisões da Prefeitura quem toma sou eu, e como ele [Fontan] diz que a Câmara é independente, a prefeitura também tem sua independência, por que não?, perguntou Almeida. Em momento algum faltei com respeito a nenhum vereador, nem à Câmara, está certo? Quero que a sociedade entenda que queremos administrar. Não vamos começar o ano com turbulência. O presidente [Fontan] tem o posicionamento dele. Agora, quem bota secretário e quem tira secretário é o prefeito Cícero Almeida, argumentou. OR ### Derrubada dos vetos foi lamentável O prefeito Cícero Almeida preferiu não utilizar o termo traição para definir a derrubada de 16 vetos que o prefeito havia feito a projetos aprovados pelos vereadores. A decisão de derrubar os vetos foi tomada na sexta-feira passada pela Câmara, por unanimidade, o que, pela primeira vez, unificou bancadas de oposição e situação. Almeida não falou especificamente do veto ao aumento de R$ 5 milhões no duodécimo da Câmara, estopim da crise. Para mim foi lamentável, afirmou o prefeito. A derrubada dos vetos por 20 a 0 foi um presente de grego, mas logicamente a sociedade vai dar a interpretação devida, afirmou. Almeida informou ainda que foram derrubados os vetos de 20 emendas parlamentares, e não de 16, conforme noticiado pela imprensa. As outras quatro foram derrubadas nos outros dias, corrigiu. Não trabalho sob pressão. Bancada que é bancada não faz o que fez. Eles podem se apresentar como bancada, derrubando 20 vetos do prefeito. A maioria já tinha derrubado outros, informou. Sobre os vetos, o prefeito justificou: Os vereadores colocaram R$ 52 milhões em emendas, e a forma como foi feito não foi aceita por nós. Ficamos quase em condição de não administrar a cidade. Mas isso foi bem discutido antes: como seria, quais os procedimentos que seriam feitos. Fiquei surpreso com a decisão da Câmara. Por fim, o prefeito disse que nunca trabalhou para derrubar vereador e disse não ter interferido nas duas eleições que elegeram a Mesa Diretora da Casa Mário Guimarães. |OR