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Nº 5854
Política

PRESO PELA PF REASSUME CARGO NO GOVERNO

Wagner Morais volta para a função de diretor-presidente da Amgesp mesmo investigado por ilegalidades em contratos

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 16/10/2019 - Matéria atualizada em 16/10/2019 às 06h20

/Wagner Morais foi preso por agentes da Polícia Federal durante a Operação Casmurros
/Operação da PF encontrou grandes quantias de dinheiro na casa de um dos investigados

Em silêncio, Wagner Morais de Lima, preso em setembro pela Polícia Federal (PF) durante a Operação Casmurros, no mês passado, reassumiu a função de diretor-presidente da Agência de Modernização da Gestão de Processos (Amgesp). Na edição de ontem do Diário Oficial do Estado, o nome do chamado “homem bomba” do governo Renan Filho (MDB) aparece em despachos para a compra de remédios. Já na semana passada, a sua substituta no cargo antecipava a saída, o que gerou expectativa nos bastidores. Na prática, como voltou ao cargo, sem maiores consequências, o governador Renan Filho cumpriu o que havia dito sobre o fato de que Wagner Morais iria continuar na função, durante um breve pronunciamento no interior do Estado, logo após a operação da PF. Em princípio, como a operação da PF determinava o seu afastamento do cargo, acreditava-se que ele havia sido exonerado, ou que ficaria impedido de atuar já que as investigações sobre contratos com transporte escolar ainda continuam. Diante da confirmação de que havia reassumido as funções, a reportagem da Gazeta buscou detalhes junto à PF para saber se o seu retorno não poderia implicar em qualquer embaraço para a investigação. Sob a condição de sigilo, uma fonte ouvida pela reportagem explicou que, no momento, não há nada que possa prejudicar o inquérito, já que além de ter apreendido todos os documentos importantes para o caso, o depoimento de Wagner Morais também já foi tomado. Entretanto, nada impede que possa ser convocado, mais de uma vez, para prestar qualquer esclarecimento. Sendo assim, o governo Renan Filho, que se apresenta diariamente como “novo”, mantém a prática da “velha política”, além de ficar em situação parecida com o do presidente Jair Bolsonaro, que é ideológica e administrativamente diferente do seu, mas que também mantém um investigado pela PF no cargo: o ministro do Turismo, Álvaro Antônio, apontado como responsável pelo “laranjal do PSL”, em Minas Gerais. A expectativa, agora, é se ele vai aparecer em alguma transmissão do governo, nas redes sociais, entre os servidores que, costumeiramente, são escalados para aplaudir o governador em seus pronunciamentos. Wagner Morais foi um dos 15 presos na Operação Casmurros determinada pela Justiça Federal com base em dados da Controladoria Geral da União (CGU). Os alvos foram contratos firmados pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc), comandada pelo vice-governador Luciano Barbosa (MDB). Um dado interessante sobre Wagner Morais é que ele já havia sido investigado em outra ação da PF, a Operação Sucupira, que havia sido desencadeada em 2017. À época, haviam sido apontados indícios de irregularidades num mestrado profissional firmado com a Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Na Casmurros, além de Wagner Morais, outras seis pessoas - todas lotadas na Seduc - também foram detidas para prestar esclarecimentos à PF. A Gazeta continua apurando se além de Wagner Morais elas também retornaram para os seus respectivos cargos de confiança. De acordo com os levantamentos feitos pelos órgãos de controle, foram encontrados contratos irregulares que podem chegar a R$ 21 milhões. Os levantamentos sobre as irregularidades continuam, já que além de vasta documentação os agentes federais também apreenderam dezenas de extratos bancários e até discos rígidos de computador. Ainda sobre a investigação, ela apura a relação contratual do governo do Estado com a empresa Bioética Gestão de Pessoal, que conforme os primeiros levantamentos envolveu um contrato que movimentou, entre 2015 e 2019, R$ 72 milhões. Deste montante, R$ 60 milhões foram com serviços ligados a transporte. A Bioética, por sua vez, tem uma outra particularidade. Trata-se do fato de originalmente, de forma institucional, ter a finalidade de atuar com arte e cultura. Mas com o aval do governo, por meio da Amgesp comandada por Wagner Morais, ter conquistado um contrato de valor milionário na área de transporte escolar.

CONFIANÇA

Conforme a Gazetaweb já havia revelado, Wagner Morais é um homem com muito trânsito junto ao governo Renan Filho. Tanto que era visto com frequência na órbita do Palácio República dos Palmares. Sua ligação com Renan Filho vem de longa data, desde o início de sua carreira política no Estado, quando foi procurador do município de Murici na gestão do atual governador. Antes de ser preso e investigado, Wagner Morais vinha ganhando visibilidade por ter garantido o trâmite da milionária licitação de R$ 80 milhões que envolve a propaganda promocional do governo e que incluiu R$ 4,5 milhões para o pagamento de serviços de áudio e vídeo. Esses valores foram todos descritos no próprio Portal da Transparência do governo de Alagoas. O caso ganhou repercussão e motivou uma ação do Fórum Nacional de Combate à Corrupção Eleitoral e até mesmo o Partido Social Liberal (PSL) a solicitar mais dados com base na Lei de Acesso à Informação (LAI). O pedido, porém, já foi rejeitado pelo Gabinete Civil, que mencionou o fato dos dados já terem sido tornados públicos no Portal da Transparência.

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