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Nº 5855
Política

RENAN FILHO PROMETE AEROPORTO DE R$ 80 MILHÕES QUE NÃO DECOLA

Projeto seria numa área de alagadiço em Maragogi; PGE veta, mas governo anuncia remanejamento

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 19/10/2019 - Matéria atualizada em 19/10/2019 às 06h00

/Local para construção do aeroporto de Maragogi é alvo de polêmica e projeto emperra
/População de Maragogi está dividida sobre o projeto
/Ideia do projeto do aeroporto é atrair mais turistas para o Litoral Norte de Alagoas, mas não sai do papel

Sabe aquela série Manifest, drama norte-americano que relata o mistério do voo comercial 828, que partiu da Jamaica para Nova York? A viagem deveria durar 3h19m, mas, após passar por uma turbulência, o avião aterriza com os passageiros só cinco anos após ter decolado. Pois bem. Uma estória parecida ocorre em Maragogi, distante 128 quilômetros de Maceió, e com o aeroporto da cidade. O governador Renan Filho (MDB) prometeu na primeira campanha ao governo do Estado, em 2014, que construiria o aeroporto. Depois de eleito, desapareceu. Em 2016, nova promessa. Em 2017 e 2018 mais promessas. O líder do governo na Assembleia Legislativa Estadual (ALE), deputado Sílvio Camelo (PV), garantiu que o aeroporto vai sair e custará R$ 80 milhões. As promessas ajudaram os discurso de reeleição do governador. Para a tristeza da maioria dos 26 mil moradores, empresários do turismo, turistas e investidores, o sonho do aeroporto decolou. Mas ainda não aterrizou. Ninguém sabe onde será e quando começam as obras.

“NÃO SEI DE NADA”

Até o prefeito do município, Fernando Sérgio Lira Neto (PP), só ouve falar. “Não sei de nada e nem conheço o projeto do aeroporto oficialmente”. Os assessores da prefeitura e o prefeito sabem que o projeto é frequentemente anunciado pela imprensa e com a promessa que será executado. O secretário estadual de Turismo e Desenvolvimento, Rafael Brito, recentemente informou ao prefeito que o governo de Alagoas pretende, realmente, construir um aeroporto na cidade. Mas não revelou ao local e nem forneceu maiores detalhes de como será executado o projeto. Houve inclusive uma reunião com o trade turístico sobre o assunto.

“JUNCO”

Tudo que os servidores municipais e o prefeito Sérgio Lira sabem é que no dia 15 de agosto de 2017, o governador Renan Filho assinou o convênio para a construção da obra, que seguiu para a assinatura do então ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintela (hoje secretário de Infraestrutura de Alagoas). Naquela ocasião, o governador prometeu tirar o projeto do papel. Mas precisava dar entrada no projeto junto à Secretaria de Aviação Civil, que autorizaria a abertura dos processos licitatórios destinados à execução das obras. O assunto ganhou destaque na Agência Alagoas, site oficial do governo do estado. O empreendimento seria erguido em terras do sítio ou assentamento “Junco”, próximo à Fazenda Queimadas, Distrito de Peroba, em Maragogi. As 47 famílias do assentamento ficaram apreensivas quando foi anunciada a construção do Aeroporto Costa Dourada. Assentados como Amaro José dos Santos diz que não podem tirá-lo do assentamento “Junco”. “Se fizerem isto vou morar na rua”. Ele também não acredita da materialização do projeto. Em 2016, o próprio governador estimou que o início da construção deveria ocorrer em até um ano. Mas o tempo passou, a inconsistência do discurso se somou a burocracia, que aliada ao desencontro de informações acabaram por adiar a construção. Já em 2018, Renan Filho assinou um convênio com o ministro dos Transportes, Portos e Aviação, Valter Casimiro. Conforme os termos, o investimento seria de R$ 3,2 milhões para que o Estado desse início à licitação e recebesse recursos para a obra. Para isso, era necessária a confirmação da área onde será construída e da apresentação do projeto. E, a partir daí, os problemas começaram a se agravar. A terra do “Junco”, conforme os moradores locais, um deles o trabalhador rural Edvaldo Francisco da Silva, é uma região de alagadiço. Em períodos de chuva fica totalmente intransitável. Os assentados estranharam a intenção do governo estadual de querer construir um aeroporto no meio do mato e do alagadiço. O agricultor Iram José dos Santos chegou a trabalhar na medição da área. “Até o momento, a gente aqui só ouve falar, mas não existe nada de concreto”. Outro trabalhador rural do assentamento, Renato Jorge dos Santos Brito (cunhado de Iram) acha que se sair mesmo o aeroporto naquela área, no meio do mato, será ótimo. “Terá emprego para todos daqui”. A maioria dos vizinhos deles é analfabeto e atua na roça.

VETO DA PGE

O pesadelo dos trabalhadores rurais que temiam ver o aeroporto nas terras do “Assentamento Junco” acabou. Em despacho no Diário Oficial de janeiro passado, a respeito da área onde seria construído o projeto, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) se manifestou contrária à obra por causa de uma divergência de quem seria o dono do local. Inicialmente, acreditava-se que as terras pertenciam ao Incra. Mas a PGE descobriu outra titularidade e daí recomendou a paralisação do processo de negociação e regularização do projeto.

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