Washington, EUA - Um dia após suas declarações sobre a reedição do AI-5 caso haja radicalização de protestos no Brasil, o ministro Paulo Guedes (Economia) classificou manifestações de rua como “uma bagunça, uma convulsão social” e pediu uma “democracia responsável” no país. Durante palestra em Washington, o ministro disse que as pessoas podem sair às ruas para reclamar seus direitos, desde que isso seja feito de forma pacífica. Caso contrário, afirma o ministro, podem assustar investidores. “Eu acho que devemos praticar uma democracia responsável. Sabe como jogar o jogo da democracia? Espere a próxima eleição. Não precisa quebrar a cidade. Acho que isso assusta os investidores, acho que não ajuda nem a oposição, é estúpido”. “Estamos transformando o estado brasileiro. É um trabalho difícil. O que vocês estão ouvindo ‘é uma bagunça, convulsão social’, não prestem atenção. Há uma democracia vibrante, a democracia brasileira nunca foi tão forte, poderosa, vibrante, não há escândalo de corrupção, os crimes caíram”, completou. Em entrevista coletiva na última segunda-feira (25), na capital americana, Guedes comentava sobre a convulsão social e institucional na América Latina e disse que era uma “insanidade” o ex-presidente Lula convocar pessoas às ruas para fazer oposição ao governo. O ministro ainda sugeriu que o projeto de lei que prevê o excludente de ilicitude seria também uma resposta de Bolsonaro ao petista. “Sejam responsáveis, pratiquem a democracia. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente? Levando o povo para a rua para quebrar tudo. Isso é estúpido, é burro, não está à altura da nossa tradição democrática”, disse o ministro. A fala teve repercussão forte de diversas autoridades no Brasil. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, reagiram dizendo que comentários como esses não condizem com a democracia. Bolsonaro, por sua vez, não comentou as declarações do auxiliar. Ainda ontem, em palestra no Peterson Institute, o ministro seguiu o mesmo raciocínio, porém, sem citar Lula ou o Ato Institucional de 1968, que tirou direitos fundamentais dos cidadãos, fechou o Congresso e institucionalizou a tortura durante o regime militar. Quando chegou ao evento, o ministro não quis responder às perguntas dos jornalistas sobre as repercussões das suas declarações de segunda-feira. Dessa vez, Guedes disse que as pessoas podem ir para as ruas, porém de maneira pacífica, e que não vê problemas em manifestações públicas, mas sugeriu que elas só acontecem quando a oposição perde. “Pessoas vão para a rua em paz, pessoas vão para a rua pedir, isso é democracia, democracia é barulho. As pessoas têm direito de fazer barulho, pedir coisas, não há problema em manifestações públicas.” “É inteiramente compreensível que as pessoas vão às ruas na América Latina: pacificamente, e que reclamem. Mas não somos ingênuos”. Na sequência, o ministro voltou a admitir que o ritmo das reformas desaceleraram no Congresso após a aprovação das mudanças na Previdência e que “a inteligência política” faz com que os políticos façam cálculos. “Será que devo continuar com isso?”, afirmou sobre o avanço da agenda liberal, de ajustes e reformas.