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quinta-feira, 03/07/2025 | Ano | Nº 6002
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Satuba: uma cidade dominada pelo medo

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ARNALDO FERREIRA E MARCOS RODRIGUES Medo, desconfiança, pessoas que falam sussurrando e sentimento de impunidade definem o clima da população da pequena Satuba, cidade de poucas ruas asfaltadas, que fica na Grande Maceió, a 45 quilômetros. O clima piorou, ainda mais, quando, há duas semanas, o professor Paulo Henrique Bandeira Costa, 42, casado, pai de dois filhos adolescentes, foi seqüestrado e carbonizado acorrentado ao seu carro, numa estrada vicinal da cidade. O medo é evidente quando se fala no prefeito Adalberon de Moraes (PTB) e da sua família. É comum as pessoas se referirem a ele com sussurros e adjetivos depreciativos. ?Ele é uma pessoa perigosa e violenta?, disse uma dona de casa, que se afastou rapidamente para não se identificar. Suspeito A morte do professor Paulo Henrique - queimado vivo, depois de denunciar supostos desvios de recursos do Fundef - tem como suspeito da autoria intelectual o chefe do Executivo municipal. Ele hoje está o preso, acusado de ter sido o mandante do assassinato de Jeams Alves dos Santos, 28, casado, com quatro filhos menores, segundo afirmam o deputado Francisco Tenório (PSB) vice-presidente da Assembléia Legislativa e o secretário de Defesa Social, Robervaldo Davino. O crime repercutiu na mídia nacional e envergonhou os moradores da cidade, atesta um senhor aposentado que se identificou apenas como Juvenal. O prefeito passou a ser temido depois da repercussão da agressão a uma prostituta, em Brasília, em 1998. O medo chegou a sua cidade, em dezembro, depois da morte do assessor parlamentar e funileiro Jeams dos Santos, assassinado numa praça em frente a sua residência, por três pistoleiros. Pelo menos dois deles foram identificados pela própria vítima, antes de morrer. Jeams apontou o cabo PM Ananias Oliveira Lima (Cabo Lima) e o cabo reformado Geraldo Augusto Santos da Silva (Cabo Augusto), ambos seguranças de Adalberon, presos desde a última quarta-feira, no presídio militar, a pedido do Ministério Público. Silêncio A reportagem da GAZETA DE ALAGOAS percorreu Satuba, na última quarta-feira, quando o município recebeu a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e da Câmara dos Vereadores. Nas ruas, pessoas com ar de tristeza e com medo de falar sobre a história do prefeito, que, há seis anos e meio administra o município. ?Éramos uma cidade pacata, mas agora ficou todo mundo triste com os últimos acontecimentos?, disseram alguns moradores aposentados, que pediram para não ter seus nomes identificados e não se deixaram fotografar. Sobre o professor Paulo Henrique, os aposentados contaram que seus filhos e netos foram alunos dele. Disseram que o professor era bom e atencioso com os alunos. O medo é tanto que num grupo de cinco pessoas, por exemplo, apenas uma fala sobre a cidade, mas evita tecer comentários sobre a atividade político-partidária. Os adolescentes também demonstram que falar dos problemas da cidade, do envolvimento do prefeito em ocorrência criminais, não é bom. ?Eu ouvi falar do que aconteceu porque assisti na televisão. Mas não sei muito sobre este caso. Não sei de nada?, disse um dos adolescentes. A melhor referência da tristeza que tomou conta da cidade está na Escola Josefa Silva Costa, onde o professor Paulo Henrique lecionava a disciplina de Educação Artística, para adolescentes do Ensino Fundamental, de quinta a oitava séries. Um dos funcionários do colégio municipal revelou que professores e alunos sentem falta do professor que todos gostavam. Porém, adiantou que poucos teriam coragem de falar alguma coisa. O funcionário pediu para não divulgar seu nome e seu cargo na escola. ?Satuba é uma cidade pequena. Sou funcionário municipal e preciso do emprego. Se meu nome sair na reportagem, posso ser demitido?, frisou o funcionário. Acuados Durante a presença da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Assembléia Legislativa, na cidade, as pessoas ficaram pelas esquinas da Escola Estadual Manoel Gentil, onde a Comissão ficou instalada. O presidente da CDH, deputado Paulo Fernando dos Santos (PT), identificou o clima de apreensão da população. ?Estamos aqui para apoiar as investigações e, principalmente, transmitir um pouco de segurança para as pessoas que estão assustadas com esta situação?, disse o deputado. O parlamentar prometeu que a Comissão e as entidades de Direitos Humanos vão acompanhar de perto todo o trabalho da Polícia e manter o Ministério da Justiça informado de tudo. Irregularidade A preocupação de Paulão é que daqui para frente o medo evite que as pessoas denunciem irregularidades no Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef). De qualquer forma, o trabalho da CDH chamou a atenção e mobilizou para a cidade, o secretário de Defesa Social, Robevaldo Davino, o promotor Jorge Dória, designado especialmente para o caso, e o juiz Sérgio Persiano. Todos prometeram apurar todos os casos de agressões e ameaças que envolvem o prefeito. Outras autoridades legislativas, a exemplo dos deputados Francisco Tenório (PSB), Antônio Albuquerque (PTB) e os vereadores Thomaz Beltrão (PT) e George Sanguinetti (PSDB), prestigiaram o trabalho da CDH, que, oficialmente, só tinha como membros efetivos os deputados Paulão (PT) e Adalberto Cavalcante (Prona). Autoridade Representando o governador Ronaldo Lessa (PSB), estava o secretário de Articulação Política do governo, Wellison Miranda. Para ele, a presença de tantas autoridades, na cidade, foi uma forma de demonstrar que no Estado existe comando e determinação por parte delas. ?O que estava acontecendo em Satuba era um absurdo. A cidade estava se tornando um local sem lei. Nesse sentido, a indignação da sociedade civil foi importante para o crescimento da pressão política sobre o caso do professor?, disse Miranda, ao destacar que Lessa já havia emitido nota oficial, condenando a violência no município. ?O governador Ronaldo Lessa não compactua com o crime e a sua determinação é esclarecer, rapidamente, a morte do professor Paulo Henrique, assim como a morte de Jeams?, disse Wellison. A ação da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia foi acompanhada de perto por professores ligados ao Sindicato dos Trabalhadores da Educação em Alagoas (Sinteal). A entidade está, inclusive, produzindo um vídeo para ser distribuído, nacionalmente, contando o que aconteceu com um profissional de seus quadros. O professor Paulo Henrique, antes de ser seqüestrado e morto, procurou a diretoria do Sinteal, para denunciar o desvio de recursos da Educação. Ele foi orientado a formalizar a sua denúncia por escrito, mas não teve tempo de entregá-la. Defesa Mas nem todos, em Satuba, são contra Adalberon. A defesa do prefeito ficou por conta de seis vereadores, coincidentemente da base de apoio do prefeito, na Câmara Municipal. A maioria deles considera que Adalberon é vítima de comentários maldosos de seus opositores. Os vereadores da base do prefeito lamentaram não ter sido convocados para a reunião com representantes dos Direitos Humanos, oficialmente. Esses vereadores lembraram que o trabalho de investigação da polícia sobre a suposta morte do professor Paulo Henrique ainda não tinha acabado. Eles questionaram até se o corpo encontrado carbonizado era mesmo do professor Paulo. ?O prefeito é uma pessoa boa, generosa e sempre pensa no bem dos mais humildes. Como ele mesmo disse, em entrevista ao Jornal Nacional, nem em sonho ele matou ninguém?, disse a presidenta da Câmara de Vereadores, vereadora Edvan Marques Malta (PFL), referindo-se ao prefeito. Política Para os vereadores da bancada aliada, não existe nada que possa desabonar a conduta de Adalberon, principalmente no campo político. Alguns acreditam que todo o ?inferno astral? que se abateu sobre o prefeito, seja parte de uma articulação para favorecer algum futuro candidato de oposição. ?Pelo menos um mês antes de morrer, o professor conversou com a sobrinha de um vereador da cidade, perguntando se ele continuava na oposição. Diante da confirmação da garota, Paulo mandou um recado: diga a ele que tenho informações valiosas que podem interessá-lo?, disse a vereadora Maria de Lourdes (PFL). Os vereadores disseram desconhecer que a população viva com medo do prefeito e de seus familiares, e, muito menos, de seu filho Adalberon Júnior, condenado por ter assassinado sua ex-namorada, a estudante Izabelle Gondin, e que hoje cumpre pena na cadeia municipal. O rapaz cumpre pena, em regime de albergue, numa cela construída pelo pai, na delegacia da cidade. Desenvolvimento O vereador José Feitosa Gomes (PSB), no quinto mandato, garante que, desde que o prefeito assumiu, Satuba se desenvolveu. Ele preferiu desconversar quando o assunto é relacionado ao medo entre as pessoas da cidade e os crimes atribuídos ao prefeito. Porém, gabava-se em dizer que é o parlamentar que mais projetos apresentou na Câmara Municipal. Comemorava em revelar a autoria do projeto que originou a pavimentação de uma rua que homenageia Adalberon. ?Eu mesmo não tenho conhecimento de nada contra o prefeito. Para mim, ele é uma pessoa boa, pois atende a todas as minhas solicitações de projetos?, disse, demonstrando completo distanciamento com o sentimento da população. Indagado sobre em que áreas o município se desenvolveu, destacou os investimentos em iluminação pública, calçamento e construção de praças. As obras sociais desenvolvidas são: construção de 60 casas populares, um hospital e uma cozinha industrial que fornecerá sopão para a população carente do município, segundo disse o suplente de vereador Antônio Vieira (PFL). Todas as obras estão em fase de finalização, mas custeadas com recursos do governo federal. Emprego lá é privilégio. O maior empregador do município continua sendo a Prefeitura, atestam os vereadores da bancada governista, na cidade de pouco mais de 12 mil habitantes. Inocente Na quarta-feira (11), antes do decreto de prisão dos seus seguranças e dois dias antes da sua, o prefeito Adalberon disse, em entrevista exclusiva, que ainda não tinha advogado, pois não temia que algo pudesse se voltar contra ele. ?Estou à disposição do Tribunal de Justiça e da Secretaria de Segurança. Não tenho o que temer, nada tenho contra ninguém. Não me envolvi em problemas dessa natureza e não estou fugindo de nada?, explicou. Sobre a possibilidade do pedido de prisão preventiva, Adalberon dizia: ?Se isso vier a acontecer, serei preso como um passarinho, inocente?. Sua prisão foi decretada, na tarde da última quinta-feira (12). Ao ser informado do pedido de prisão do Tribunal de Justiça, o prefeito se antecipou à captura e se apresentou acompanhado do advogado, Welton Roberto. Ele se entregou na sede da Polícia Federal, no Jaraguá. Após ser autuado pelo superintendente da PF, José Carlos Rubim Rodrigues, foi encaminhado para uma das celas especiais do presídio Baldomero Cavalcanti. Apesar de se apresentar espontaneamente, não conseguiu evitar o constrangimento de sair algemado do prédio da PF. Nacional A prisão do prefeito Adalberon aconteceu após cinco meses do pedido encaminhado pelo delegado que apurou a morte de Jeams. O pedido estava no Ministério Público, mas por conta da repercussão nacional da morte do professor Paulo Henrique Bandeira, o processo teve andamento. Adalberon é apontado como autor intelectual da morte do professor. Segundo fontes ligadas à polícia, as suspeitas são fundamentadas nas denúncias gravadas e escritas, deixadas por Paulo Henrique Bandeira, e em outras evidências mantidas em sigilo.

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