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Macei� tem 136 favelas, grotas e vilas da exclus�o social

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ARNALDO FERREIRA / WILSON ARAÚJO - FOTO Em Maceió, existem, hoje, 136 favelas, grotas e vilas onde moram famílias em condições subumanas. As áreas de baixa renda crescem de forma que assusta o próprio governo. Segundo a Secretaria Municipal de Coordenação das Regiões Administrativas, em menos de três anos a capital alagoana ganhou 15 novas favelas - até 2000, registrava 121 agrupamentos de pequenas habitações nas sete regiões administrativas. As áreas mais pobres da cidade estão no bairro do Jacintinho, onde há uma favela, 14 grotas e 11 vilas de baixa renda. Lá, pelo menos 69% da população de 85.695 habitantes vivem na situação de exclusão social. Em situação semelhante à do Jacintinho estão os bairros do Barro Duro, com três grotas e sete vilas; Sítio São Jorge, que tem a encosta da Slum (antiga Cobel); e Feitosa, com seis encostas de barreiras, sete grotas, uma vila e uma favela. Segundo levantamento da Prefeitura, sessenta e nove por cento dos moradores dessas localidades também são sobreviventes da exclusão social. A segunda área mais pobre da cidade, segundo os dados da divisão regional da Secretaria Municipal de Coordenação das Regiões Administrativas, são os bairros do Tabuleiro do Martins, que tem uma grota; Santa Lúcia; Clima Bom; Santos Dumont; e Cidade Universitária; onde 60% da população vivem na exclusão social. Novas favelas As novas favelas que surgiram em Maceió, nos últimos dois anos, foram em toda a extensão das margens da Lagoa Mundaú, na região do Vergel do Lago e na Cambona. Lá estão as piores condições de vida, o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da capital e a situação de miséria absoluta mais visível no Estado de Alagoas. Na última quinta-feira, uma equipe da GAZETA DE ALAGOAS percorreu as áreas onde estão as novas favelas. Cenas dramáticas protagonizadas por centenas de famílias que moravam em municípios da zona canavieira e do agreste e, hoje, são humilhadas pela situação de exclusão social reconhecida, inclusive, pelo poder público. Trabalhadores rurais vivem em condições piores que animais abandonados, em casas de paredes e teto de papelão ou madeira velha, de apenas um cômodo, sem banheiro e água tratada. Homens, mulheres, crianças famintas se alimentam de restos de comida catados nas ruas. A maioria das crianças e idosos tem feridas e marcas de picadas de insetos. Prostituição infantil, tráfico de drogas e armas (revólveres e facas), entre crianças e adolescentes, já se tornaram rotina nessas favelas. Ao caminhar entre os corredores dos barracos, a sensação é de estar vendo o reality show do filme ?Cidade de Deus?, uma das favelas cariocas mais violentas do País, cuja história se transformou num dos filmes brasileiros mais conhecidos internacionalmente. Numa das favelas que ficam nas imediações do Papódromo, um adolescente, possivelmente menor de 15 anos, completamente drogado, ameaçava matar o colega. A maioria das favelas fica a menos de três quilômetros da sede da Prefeitura e do Palácio do governo estadual. Uma agente de Saúde, que identificou-se como Ana Rita, avaliou que aquelas áreas são infestadas de larvas de mosquitos, roedores e animais doentes. Porém, seu maior medo é dos traficantes, que aliciam jovens para a prática de pequenos furtos. ?O problema social nessas favelas é gravíssimo. Tem dia que é impossível trabalhar nesta área?, disse a servidora da Secretaria Municipal de Saúde. Dona Rosa Barbosa dos Santos, 67, vive com o marido, o carroceiro Antônio João dos Santos, 69, num dos barracos. A sua história é semelhante à da maioria dos favelados. ?Morava em União dos Palmares. Meu marido ficou muito velho e sem forças para trabalhar nas lavouras de cana. O jeito foi tentar a sorte em Maceió. Há cinco anos, vivemos nesta miséria?. A nora de dona Rosa, a desempregada Cristiana Andrade dos Santos, 20, com um filho de um ano no colo, disse que seu marido está desempregado, há dois anos, e, hoje, ganha alguns trocados vendendo bolo. ?Morava num sítio em Joaquim Gomes. Saí de lá com outras famílias, para fugir do desemprego?. Cristiana não pensa em voltar para Joaquim Gomes. ?Não tem trabalho na zona rural. Vou fazer o que lá? Morrer de fome??. Apesar de estar às margens da Lagoa Mundaú, as famílias não conseguem peixe porque a maioria não tem experiência com a pescaria. As mulheres e crianças têm como única fonte de renda a limpeza (despinicar) do Sururu. Em cada lata de 20 litros, ganham um real. ?O faturamento diário não chega a cinco reais?, disse dona Maria José de Melo, 43, com seis filhas. Antes de vir para Maceió, ela morava numa das favelas do município de Capela, outra área canavieira, onde é elevado o índice de desempregados. A promiscuidade e a falta de orientação sexual favorecem as favelas de apresentarem elevado índice de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Habitação O secretário municipal de Coordenação das Regiões Administrativa, agrônomo Cláudio Calheiros, também especialista em meio ambiente, admitiu: ?O maior problema social da Prefeitura de Maceió é não ter mecanismos para oferecer alternativas às vítimas do êxodo rural?. É isso, segundo Calheiros, que faz a capital do Estado enfrentar, hoje, um dos maiores déficits habitacionais dos últimos anos. ?Para amenizar o déficit, a Prefeitura precisaria construir 50 mil novas moradias?. O êxodo rural e a proliferação das favelas e seus dramas socais, segundo Calheiros, são conseqüência das crises econômicos sucessivas e da falta de uma política agrícola. ?É mais barato manter um homem no campo do que mantê-lo desempregado na cidade?. Para humanizar as favelas, grotas e vilas, com a construção de escadarias, casas, locais com sanitários, drenagem e saneamento, a Prefeitura precisa de R$ 80 milhões. No ano passado, com R$ 1,4 milhão do Orçamento participativo, foram construídas 46 escadarias e três pontilhões. Para este ano, a previsão é investir mais R$ 8 milhões em 21 pavimentações e mais R$ 1,8 milhão em construção de escadarias e banheiros. Ao ser questionado sobre os lugares de pior índice de exclusão social, Cláudio Calheiros apontou dois pontos da cidade: ?A Grota da Alegria e as favelas localizadas às margens da Lagoa Mundaú?. Disse ainda que a Prefeitura, neste momento, não tem recursos para reduzir o déficit de 50 mil moradias.

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