Política
Deputado defende investimento de R$ 1 milh�o contra febre aftosa

MARCOS RODRIGUES O deputado estadual, em seu segundo mandato, Artur Lira (PMDB), 34, casado, advogado, duas vezes vereador e filho do deputado federal Benedito de Lira, é também pequeno produtor do setor agropecuário. Ele falou com exclusividade à GAZETA DE ALAGOAS sobre a crise que o setor de agronegócios vem sofrendo, por causa da barreira sanitária criada pelo Ministério da Agricultura, classificando Alagoas como ?zona de risco desconhecido?, em relação à febre aftosa. O deputado defende investimentos para combater o problema e ainda põe em dúvida a qualidade da carne que está sendo comercializada vinda do Estado do Pará. Lira defende um entendimento entre setor produtivo e governos municipal, estadual e federal para enfrentar a doença e liberar o Estado para comércio. Deputado, a Assembléia pensa em resolver esse problema de que maneira? Artur Lira ? Nós temos de resolver o mais rapidamente possível porque o Estado está carente, me refiro às metas que o governo federal exige para que nos tornemos uma zona livre para o comércio. Como definir para o público leigo o que é, de fato, a febre aftosa? A doença é provocada por um vírus. Se manifesta com febre altíssima que faz o gado cair de fraqueza com perda de peso e compromete a comercialização da carne e do leite do animal contaminado. Outro sinal é salivação intensa. O que ocorre com o animal que apresente os sintomas da doença? Uma vez identificado, o animal tem que ser sacrificado e ter sua carcaça incinerada. Essa medida é adotada para evitar a contaminação do resto do rebanho. Mas, de concreto, temos ou não a presença da doença? De forma alguma. É bom que isso fique claro, para não causar pânico. O que não se tem é informação para divulgar esse diagnóstico de que não temos foco da doença e voltarmos à normalidade. O que vem ocorrendo com o gado alagoano que tem impedido seu comércio, além das barreiras dos estados de Sergipe e Bahia? O que sei é que existiu uma denúncia, há cinco anos, de um foco de febre aftosa no Estado. Naquele momento se tentou, inclusive, obter recursos federais para o combate. Mas não saiu o dinheiro e, a partir daí, por causa da desestruturação em que se dá informações, passamos a integrar a ?área de risco desconhecido?. Qual a conseqüência disso? Qualquer tipo de exportação de carne animal está prejudicada. Nossas matrizes genéticas, que são reconhecidas nacionalmente, também estão impedidas de sair. Este é o maior problema no momento ou existem outros? O bloqueio, sem dúvida, é o que prejudica mais, pela retenção do produto. E isso é grave porque nossa produção não é subsidiada (com recursos do Estado), logo o prejuízo vai direto para o bolso do produtor. Tem produtor falindo por causa da impossibilidade de exportar? Sim, temos informações de que somente no município de Viçosa pelo menos 44 granjas de produção de aves encerraram suas atividades. Outro detalhe: os produtores daqui não conseguem vender, sequer, para Sergipe. Alagoas está isolada, então? Praticamente, porque um produtor, hoje, que queira participar de uma exposição ou algo do gênero fora daqui vai ser retido na barreira dos outros estados. Estamos isolados dos estados do Centro-Sul. O Estado não exporta, mas deixa entrar carne. De onde o produto está vindo? As informações que nós temos é de que a carne resfriada vem do Pará. E o que está nos estarrecendo é que no Centro-Sul o preço da arroba oscila entre R$ 50 e R$ 52, enquanto está chegando aqui entre R$ 45 e R$ 47, com frete incluído. Como a mercadoria está chegando aqui com preço inferior ao da origem, nós suspeitamos de suas condições sanitárias. Além disso, os fiscais nos postos da Secretaria da Fazenda sequer sabem identificar as partes do animal (coxa traseira, dianteira, etc.). O setor agropecuário representa quanto da economia do Estado? Acredito que o setor primário corresponde a mais de 70% de nossa economia, porque não temos indústrias e o comércio é basicamente movimentado pelo pagamento dos servidores e pelo setor sucroalcooleiro. O agronegócio vem sofrendo perdas? Sim. O setor de agronegócios vem acumulando perdas, mesmo sendo um setor forte. Chega a ser lastimável. Quem sentirá primeiro as conseqüências da febre aftosa? Nós já estamos sentindo os efeitos. Um exemplo é o impedimento do nosso setor genético, que não compete, em nível nacional, se não tiver uma base de apoio fora de Alagoas. Então já existem empresários no prejuízo? Sim e um dos exemplos foi citado aqui na Assembléia, de que um produtor do Estado vendeu uma vaca por R$ 36 mil a um grupo paulista que conseguiu negociá-la por R$ 1 milhão, em Uberaba. Portanto, um claro exemplo de que não foi possível realizar uma venda direta. Qual a estimativa de investimento para combater a aftosa? Em Sergipe são R$ 700 mil/ano. Acredito que aqui poderia ser de R$ 1 milhão, o que daria pouco mais de R$ 80 mil/mês. E quanto ao comércio local de carne de outros estados, que chega congelada? É esse o problema. Hoje o Estado vem sofrendo uma invasão absurda de carne sem origem definida, congelada, o que pode criar um problema de saúde pública e afetar o consumidor. Como Alagoas pode romper as barreiras sanitárias e voltar a ter seu comércio normalizado? É preciso que cumpramos as metas estabelecidas pelo governo federal. Quais são elas? Abertura de concurso para fiscais sanitários, da Secretaria da Agricultura; cadastramento do gado criado no Estado; criação de barreiras sanitárias e fiscais com o apoio das secretarias da Fazenda e Agricultura; compra de equipamentos fixos e móveis. Especificamente sobre essa última condição o governo federal já se comprometeu a fornecer os equipamentos, desde que o Estado cumpra as outras determinações. Então, o principal é a fiscalização? Sim, claro. Temos de nos armar com essa finalidade, para coibir a entrada de carne de origem duvidosa, que não paga impostos. Além de ser um problema social, porque termina prejudicando a população, afetando a saúde pública. Sendo assim, quem tem, necessariamente, de resolver este problema? São as entidades públicas (secretarias e governo federal) juntamente com o setor produtivo. Nessa luta de implantação das barreiras é importante, também, o envolvimento das prefeituras para a manutenção dos escritórios municipais de fiscalização.