Política
ALAGOAS ESTÁ ENTRE ESTADOS DO NE MAIS VIOLENTOS PARA JORNALISTAS
Em levantamento da Fenaj, Estado aparece com duas agressões diretas contra profissionais de imprensa


Alagoas é o segundo estado do Nordeste mais violento para jornalistas, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira, 16, pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). De acordo com o levantamento, o Estado aparece com dois casos de agressões diretas registrados contra profissionais da imprensa em 2019 - um aumento de 100% em relação a 2018, quando foi registrado uma ocorrência. O Ceará encabeça o ranking regional, com sete ocorrências. Em um dos casos - ocorrido em Maceió, no dia 30 de janeiro -, o procurador de Estado Márcio Guedes – que é também graduado em Jornalismo – chamou os jornalistas alagoanos de “vagabundos”, em uma publicação em seu perl pessoal no Facebook. “Já disse e os vagabundos dos jornalistas alagoanos não querem ouvir. Pinheiro é a Mariana e Brumadinho de AL”, referindo-se aos problemas de um bairro da capital alagoana. No segundo caso, ocorrido em Rio Largo no dia 10 de agosto, a jornalista Viviane Chaves, assessora de imprensa da Prefeitura de Rio Largo, foi constrangida pelo promotor de Justiça do Ministério Público Estadual (MPE/AL), Cláudio Malta, durante evento sobre campanha de combate a abuso sexual de menores. Segundo a Fenaj, ela perguntou ao promotor se a Prefeitura estava de parabéns pela parceria com o MP na campanha. “Respeite-me, eu sou uma autoridade. Eu não tenho que estar enaltecendo nenhuma Prefeitura; e não permito que você publique qualquer coisa sem a minha devida permissão sobre essa entrevista; peça-me desculpas. Não gostei de sua conduta; respeite-me; pois eu sou autoridade”, respondeu o promotor, em voz alta. O levantamento não inclui um episódio envolvendo o governador Renan Filho e o jornalista Arnaldo Ferreira, da Gazeta de Alagoas. Em agosto do ano passado, durante uma entrevista coletiva em que foram apresentados dados sobre a segurança no Estado, Ferreira fez uma pergunta ao governador sobre a denúncia que o Sindpol fez acerca da precarização que os agentes da Polícia Civil enfrentam nas mais de 140 delegacias em todo o Estado, além dos mais de 10 mil inquéritos que estão parados por falta de pessoal nas unidades. Outra pergunta feita foi sobre a qualidade dos Centros Integrados de Segurança Pública (Cisp) que, segundo o Sindpol, custam milhões, mas são de péssima qualidade. Diante das perguntas, Renan Filho se limitou a dizer que os números apresentados pelo Sindpol não são verdadeiros e que o jornalista premiado e com extensa ficha de trabalho prestado por diversos veículos pelo Brasil - como o Globo, Veja, Istoé, TV Band, SBT, entre outros -, estava “com esporas em sua barriga e rédeas na sua cabeça”. Apesar dos ataques, Arnaldo seguiu buscando respostas para as denúncias, mas, novamente, foi atacado, tendo o bairro onde reside divulgado pelo governador.
ASSASSINATOS
Em todo o País, foram registrados 208 ataques a veículos de comunicação e a jornalistas, um aumento de 54,07% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 135 ocorrências. O relatório traz ainda um balanço do número de assassinatos contra jornalistas. Em 2019, foram dois registros: os jornalistas Robson Giorno e Romário da Silva Barros, que atuavam em Maricá (RJ), foram mortos. Em 2018, houve apenas uma morte e, em 2017, nenhuma. O número de injúrias raciais envolvendo jornalistas também cresceu: foram dois casos de racismo em 2019, contra nenhum em 2018. Já os casos de ameças/intimações e de censuras mantiveram-se iguais nos dois anos de comparação: foram, respectivamente, 28 e 10 registros. Já os demais tipos de violência direta contra jornalistas caíram: as agressões físicas, que eram as mais comuns, diminuíram, passando a 15 casos, que vitimaram 20 profissionais, contra 33 em 2018. No mesmo sentido, houve redução em outros tipos de ataque: em 2019, foram 20 agressões verbais, 10 casos de impedimentos ao exercício profissional, 5 episódios de cerceamento à liberdade de imprensa por meio de ações judiciais e 2 casos de violência contra a organização sindical dos jornalistas. Em 2018, foram, respectivamente, 27, 19, 10 e 3 casos. Para a presidente da Fenaj, Maria José Braga, a situação é grave. “Há, de fato, uma permanente ameaça à liberdade de imprensa no Brasil e à integridade física e moral dos jornalistas. É preciso urgentemente frear o arbítrio instalado no país”, diz. O relatório indica também que jornalistas que trabalham em televisão são as principais vítimas de agressões. Em 2019, foram 35 casos (28,23% do total). Profissionais que atuam em jornal impresso ocupam a segunda posição: 33 casos ou 26,61% do total. Em terceiro lugar, estão os jornalistas de mídia digital (portais, sites e blogs), com 23 casos (18,55%). O documento conclui também que os políticos são os principais autores de ataques à imprensa. Eles foram responsáveis por 144 ocorrências (69,23% do total).