app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5694
Política Jorge Oliveira conta que o temido Sindicato do Crime atuava em Santana do Ipanema, Arapiraca, Olivença e Delmiro

LIVRO RELATA ESCALADA SANGRENTA DE POLÍTICOS DO INTERIOR DE ALAGOAS

Máfia das Caatingas, de autoria do jornalista Jorge Oliveira, rememora fase coronelista do Estado

Por Maylson Honorato | Edição do dia 18/01/2020 - Matéria atualizada em 18/01/2020 às 06h00

Um grupo de poderosos recrutava pistoleiros para dizimar inimigos políticos no interior de Alagoas e se denominava como Sindicato do Crime. Apesar de digna de um bom filme, essa é a história real de pelo menos um século de disputa pelo poder no sertão alagoano, de acordo com o jornalista e cineasta Jorge Oliveira. Ele reconta a sucessão de tragédias no livro Máfia das Caatingas, que será lançado na quinta-feira (23), em Maceió, e no dia 29, em Arapiraca. Apesar de uma narrativa com elementos de ficção, o jornalista afirma que o livro é um alerta e um registro importante da história de Alagoas para o Brasil atual. “O famigerado Sindicato do Crime era uma organização poderosa e que era responsável pela eleição de grande parte dos políticos alagoanos. Para sobreviverem no poder, esses políticos contavam com a proteção de coronéis, que geriam os chamados currais eleitorais”, explica o escritor. O pano de fundo da trama é a miséria agravada nos períodos de seca, quando o esgotamento das mínimas esperanças do povo sofrido do sertão aparecia como oportunidade para políticos autoritários. O jornalista defende que o livro é resultado de uma extensa pesquisa, que revelou como as famílias de Floro Gomes Novais e os Oliveira travaram uma batalha sangrenta e cruel em Olivença. “Muitos governadores fecharam os olhos para a organização porque dependiam desses currais para se elegerem. Assim ocorriam também com candidatos a deputado, prefeito e vereadores. Quem não lesse na cartilha desses senhores coronéis não tinha o direito de viver. A Justiça, acuada, não agia com medo”, diz. Jorge Oliveira diz que, como jornalista, acompanhou de perto muitos dos fatos marcantes contados no livro. Para basear a grande reportagem, o autor entrevistou Dona Guiomar, mãe de Floro Novais, que relatou como tudo aconteceu entre a família dela e a dos Oliveira. “É uma entrevista inédita, base do livro”.

SINDICATO DO CRIME

De acordo com a pesquisa realizada por Jorge Oliveira, o Sindicato do Crime atuava em Santana do Ipanema, Arapiraca, Olivença e Delmiro Gouveia, todos municípios de Alagoas. Ampliando o domínio, o grupo passou a atuar na Bahia e em Pernambuco, respectivamente nas cidades Paulo Afonso e Águas Belas. O jornalista constatou que a organização permaneceu ativa até meados da década de 1980, mas está esfacelada hoje em dia. “Felizmente. Nesse período, os filhos desses coronéis foram estudar fora e acabaram voltando com outra mentalidade, voltaram mais empreendedores. Ao mesmo tempo os líderes morreram, muitos, inclusive, de causas naturais. Conto no meu livro como viveu e morreu um dos presidentes do sindicato e como foi o seu poder no sertão de Alagoas. A morte desses senhores enfraqueceu o sindicato”, relata o escritor à Gazeta. Jorge Oliveira pontua, no entanto, que o livro relata uma ameaça iminente e que é, na verdade, um alerta para o Brasil contemporâneo e um lembrete sobre governantes que tentam governar pelo medo. “Não podemos deixar que a memória, mesmo que seja uma memória nociva, morra. É a mesma coisa que acontece com a ditadura militar no Brasil. Você não pode deixar que a ditadura, que foi nociva à democracia, seja esquecida. Caso contrário, estamos fadados a repetir essas histórias”, afirma. “Essa é a história de Alagoas. E se eu estou falando de violência, vingança, sobre a estrutura de uma organização criminosa no interior, eu estou sendo, acima de tudo, didático. Grande parte da população não conhece a própria história”, continua o jornalista. Além de um retrato do que, segundo o escritor, consolidou o poder político de muitas famílias em Alagoas, Jorge Oliveira diz que a história funciona para alertar outros estados. “O palco é Alagoas, mas não se trata de um assunto regional e exclusivo. Veja o Rio de Janeiro, no lugar de um sindicato, anos depois, surge o escritório do crime. É a mesma coisa nas máfias, no mundo inteiro. O livro é, sobretudo, um alerta”, concluiu. O lançamento em Maceió será na quinta-feira (23), às 18h, no restaurante ELUA, na Jatiúca. Já em Arapiraca, a cerimônia ocorre no Clube do Sesi, no dia 29, às 18h.

Mais matérias
desta edição