Quando decidiu ‘passar a tesoura’ no orçamento da Secretaria Estadual de Agricultura (Seagri) e inviabilizar a gestão do ex-aliado Ronaldo Lessa (PDT), a desculpa dada pelo governador Renan Filho (MDB) era a de que precisava economizar. Uma parte do dinheiro que faltou para a agricultura familiar seguiu para a Secretaria Estadual de Comunicação (Secom). Se comparados os gastos com as secretarias e órgãos revelados na programação publicadas pela Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz) para os meses de janeiro e fevereiro deste ano, a pasta da comunicação continuou prestigiada e praticamente dobrou o valor, que saltou de R$ 1,7 milhão, em 2019, para R$ 3 milhões. Em 2019, nos meses de janeiro e fevereiro, a estrutura das secretarias e órgãos consumiram juntas R$ 34,5 milhões (R$ 34.484.706,44), contra os R$ 26,8 milhões (R$ 26.787.517,75) previstos para 2020. Ou seja, uma economia de R$ 7,7 milhões em detrimento do sacrifício imposto para muitas áreas importantes. Mesmo assim, com os atuais R$ 3 milhões previstos para os gastos iniciais deste ano, a Secom terá recebido a mais, quando o mês terminar, R$ 1,3 milhão (R$ 1.306.134) se comparado com o mesmo período do ano passado. Num levantamento feito pela reportagem da Gazeta, isso representa quase todo o valor repassado para a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), que recebeu naquele mesmo período R$ 1,5 milhão (R$ 1.527.717,64). Em outras palavras, se ao invés de investir em divulgação o repasse fosse todo para os jovens da capital e interior, uma pequena revolução já estaria sendo iniciada em termos de repasse. Poderia, quem sabe, acabar com alguns alugueis de imóveis para escolas e até ampliar a assistência com transporte escolar. Numa outra conta simples, o que vai para a comunicação no início deste ano, sem explicação prévia ou justificativa, corresponde a tudo o que foi repassado em 2019 para o setor agrícola e pecuário, que somados receberam R$ 1,3 milhão (R$ 1.241.839).
MÍDIA
Em geral, os recursos são usados com gastos em redes sociais, material gráfico, outdoors, material de áudio, cobertura fotográfica, comerciais em horário nobre, com produção de empresas de fora do Estado, com cachês pagos a pessoas que não são daqui, sites e blogs de aliados políticos e digital influencers. As cifras milionárias tiveram seus dados revelados no Diário Oficial pela Secretaria Estadual da Fazenda, como parte da distribuição dos recursos referentes a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LOA) aprovada pela Assembleia Legislativa Estadual (ALE). Vale lembrar que, conforme a Gazeta e a Gazetaweb já haviam revelado, no ano passado, somente no primeiro semestre com base no Portal da Transparência R$ 17,24 milhões foram pagos à STQ Publicidade e Propaganda LTDA, uma agência localizada na cidade de Santo André, interior de São Paulo (SP). Na segunda colocação, em termos de valores, aparece a Clorus Comunicação Integrada, com R$ 2,4 milhões, e na terceira a Chama Publicidade, com apenas R$ 94 mil. Especificamente sobre estes gastos, o Ministério Público de Contas (MPC) está investigando as bases legais para se manifestar sobre o caso. O trabalho tem como base a denúncia feita pelo presidente do PSL, Flávio Moreno, em outubro do ano passado. De acordo com o que foi revelado na reportagem da época, R$ 4 milhões foram gastos com serviços de “áudio e fotografia”. Com o fim do recesso e o retorno de técnicos que estavam em outras atividades de apuração, o MPC vai analisar a denúncia em detalhes e, principalmente, solicitar explicações do governo do Estado, para confirmar a aplicação de valores tão elevados. Até porque uma das suspeitas é que além de terem servido para divulgação nas redes sociais oficiais, também teriam sido produzidos para as redes pessoais de Renan Filho.