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PRESSIONADO, BOLSONARO RECUA NA DEMISSÃO DE MANDETTA

Presidente e ministro da Saúde não se entendem quanto ao uso do medicamento hidroxicloroquina para tratar pacientes do Covid-19

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Relação entre Jair Bolsonaro e Mandetta está estremecida desde o início da pandemia
Relação entre Jair Bolsonaro e Mandetta está estremecida desde o início da pandemia -

Brasília, DF - O presidente Jair Bolsonaro avalia demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para substituí-lo por um nome técnico que seja defensor da utilização da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com coronavírus, mas uma ala de ministros atua para que ele não exonere o auxiliar. Integrantes do chamado núcleo moderado do governo, que inclui militares, conversaram ontem desde cedo com Bolsonaro na tentativa de demovê-lo da ideia de exonerar Mandetta no curto prazo. Em conversas reservadas, o presidente chegou a dizer que a situação estava insustentável. Mandetta, porém, afirmou que vai continuar no cargo, após as especulações durante o dia de que poderia ser demitido pelo presidente Jair Bolsonaro. “Nós vamos continuar, porque continuamos enfrentando o nosso inimigo, que tem nome e sobrenome, o Covid-19”, disse, em entrevista coletiva no ministério, depois de uma reunião com Bolsonaro e outros ministros no Planalto. ?Num primeiro momento, a pressão fez efeito. Ministros de fora do Palácio do Planalto estavam apreensivos com a reunião ministerial convocada por Bolsonaro para o final da tarde de ontem, com receio de que ele anunciasse a saída do titular da Saúde. O encontro teve um clima tenso, segundo relatos, mas o presidente não deu sinais de uma exoneração próxima. Na reunião, Bolsonaro e Mandetta expuseram divergências sobre o uso da cloroquina em casos de coronavírus. O presidente disse que havia conversado com especialistas que defendiam o uso do remédio em estágio inicial da doença. O ministro da Saúde, por sua vez, defendeu que não há ainda protocolos seguros sobre o uso da remédio. Bolsonaro não refutou e ouviu de ministros apelos para que a equipe mantenha a união. “Eu acho que a coisa vai se ajustando”?, disse à reportagem o vice-presidente, Hamilton Mourão. Apesar de não ter dado sinais na reunião de que vai demitir o ministro, aliados de Bolsonaro o consideram imprevisível e por isso buscam alternativas para o cargo. A ideia é encontrar um nome favorável ao uso da hidroxicloroquina. A ideia inicial de Bolsonaro era exonerar o auxiliar presidencial apenas em junho, de modo a não correr o risco de ser responsabilizado sozinho caso o sistema de saúde entre em colapso durante a pandemia da doença. Em conversas reservadas, no entanto, o presidente disse que não tinha como manter o auxiliar no cargo. Para Bolsonaro, ele o tem desafiado em declarações públicas e não conta mais com a confiança do presidente. O núcleo moderado do Palácio do Planalto defende que, caso o presidente substitua Mandetta, escale um médico com um currículo respeitável, que ajude a reduzir um eventual desgaste público com a saída de Mandetta. Sem a presença de Mandetta, o presidente almoçou com os quatro ministros palacianos e com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). O parlamentar, cotado para o posto e defensor da hidroxicloroquina e do isolamento vertical, tem ajudado o presidente em uma eventual transição da pasta. Além deles, também estava presente no encontro a médica Nise Yamaguchi, que defende o uso de hidroxicloroquina para casos de coronavírus em estágio inicial. O nome dela, que tem o apoio do grupo ideológico, passou a ser apontado pelo entorno de Bolsonaro como um dos possíveis para substituir Mandetta caso ele seja demitido. Outro nome que conta com a simpatia de Bolsonaro é o do cardiologista Otávio Berwanger. Ele esteve com o presidente na semana passada em reunião com médicos no Palácio do Planalto. O chefe do Executivo tem se incomodado com a demora do Ministério da Saúde em apresentar um protocolo claro para o uso da hidroxicloroquina. Bolsonaro também se queixa da falta de um plano detalhado para o combate ao vírus e retorno de atividades nos estados.? Na semana passada, Bolsonaro estava prestes a demitir Mandetta, mas foi demovido por aliados próximos. Nesta segunda-feira, ele passou a considerar uma exoneração até o final da semana, mas recebeu recados negativos do Poder Legislativo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já informaram ao Palácio do Planalto que apoiam a permanência do ministro. O receio da articulação política é de que uma demissão possa estimular retaliações em votações do governo. Alcolumbre, por exemplo, rejeitou um convite para um encontro com Bolsonaro no final de semana e, ontem, telefonou para o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e informou ser contra a demissão de Mandetta. Nos últimos dias, Bolsonaro tem se estranhando com Mandetta e chegou a afirmar que falta humildade ao seu auxiliar e que ele extrapolou. O presidente tem divergido, entre outras coisas, das medidas de isolamento social defendidas por Mandetta para combater a pandemia do coronavírus. Bolsonaro adotou um discurso contrário ao fechamento de comércio nos estados, enquanto Mandetta defende que as pessoas fiquem em casa. Após essa declaração, dada na quinta-feira (2), o ministro reagiu em seguida e disse: “Não comento o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala, e quem não tem, como eu, trabalha”. Nos bastidores, Mandetta vem dizendo a aliados que não pretende pedir demissão e só sairá do cargo por decisão de Bolsonaro. No domingo, por exemplo, sem citar nomes, Bolsonaro disse que integrantes de seu governo “viraram estrelas” e que a hora deles vai chegar. Em uma ameaça velada de demiti-los, disse não ter “medo de usar a caneta”. “[De] algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona”, afirmou Bolsonaro. “Não tenho medo de usar a caneta, nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil. Não é para o meu bem. Nada pessoal meu”, disse o presidente. Além de Mandetta, outros ministros têm discordado de Bolsonaro nessa crise. Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) uniram-se nos bastidores no apoio ao colega da Saúde e na defesa da manutenção das medidas de distanciamento social e isolamento da população. O trio formou uma espécie de bloco antagônico, com o apoio de setores militares, criando um movimento oposto ao comportamento do presidente. Segundo pesquisa Datafolha realizada na semana passada, a aprovação da condução da crise do coronavírus pelo Ministério da Saúde disparou e já é mais do que o dobro da registrada por Bolsonaro. Governadores e prefeitos também têm avaliação superior à do presidente. Na rodada anterior, feita de 18 a 20 de março, a pasta conduzida por Mandetta tinha uma aprovação de 55%. Agora, o número saltou para 76%, enquanto a reprovação caiu de 12% para 5%. Foi de 31% para 18% o número daqueles que veem um trabalho regular da Saúde. Já o presidente viu sua reprovação na emergência sanitária subir de 33% para 39%, crescimento no limite da margem de erro. A aprovação segue estável (33% ante 35%), assim como a avaliação regular (26% para 25%).? A relação entre o ministro e Bolsonaro vem numa escalada de tensão e subiu no final de março, quando o presidente resolveu dar um passeio pela periferia de Brasília, contrariando todas as orientações do Ministério da Saúde. O giro de Bolsonaro ocorreu um dia após Mandetta ter reforçado a importância do distanciamento social à população.

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