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Nº 5885
Política Durante a pandemia, uma parte significativa do atendimento é feito pelo caótico HGE

ESTADO AINDA NÃO SABE COMO APLICAR AJUDA EMERGENCIAL

Oposição pressiona para o governo estadual apresentar plano de ação pontuando onde pretende investir o repasse federal

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 30/05/2020 - Matéria atualizada em 30/05/2020 às 06h00

A expectativa do envio de R$ 564 milhões para o Estado de Alagoas, de onde sairão R$ 152 milhões para o combate a Covid-19, só não é maior que a necessidade iminente de soluções para conter o avanço da doença. Ultrapassando a casa dos 380 mortos pela doença e num caminho ascendente para o número de infectados, até o momento o governo do Estado não definiu diretrizes de como serão aplicados os recursos federais. Antes disso, deputados de oposição já apontavam a necessidade de indicar para onde estavam indo os recursos de emendas parlamentares destinadas à saúde. Em nível federal, quem primeiro levantou a voz foi o deputado João Henrique Caldas (PSB), cobrando transparência. Na mesma linha, o deputado estadual Davi Maia (DEM) vinha apontando dificuldades e até mesmo atrasos na divulgação de resultados. Tudo isso associado ao fato do principal item para o tratamento dos casos graves, os respiradores, não terem sido adquiridos na proporção do crescimento dos casos. “É um fato que está muito crítico porque não temos acesso. As coisas estão nebulosas. A questão dos respiradores é um fato que não está muito claro. Por que não compramos os respiradores só agora e não antes? O governo está prestando contas do dinheiro que deixou de pagar dos empréstimos, parcela de R$ 32 milhões, com obras que já havia recurso financeiro, hospitais bancados pelo Fecoep, e que já tinha orçamento. Agora usa essa mesma despesa para justificar esse recurso”, diz.

SILÊNCIO

Durante a semana, a Gazeta manteve contato com representantes do governo do Estado, tanto pelo caminho formal, por meio da assessoria de comunicação, como de modo informal em contatos não oficiais com técnicos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), do Gabinete Civil e até mesmo com políticos da base aliada. Em todos os momentos, a fala quase unânime era para apontar as estruturas de saúde criadas, como o Hospital de Campanha, no Centro de Convenções, e a Central de Triagem de Síndromes Gripais, no estacionamento do Shopping Pátio. Além das já criadas no Hospital do Sesi e, principalmente, a expectativa da entrega do Hospital Metropolitano ocorrida na última sexta-feira. De fato, são situações reais, que irão ou já estão em pleno funcionamento e até salvando vidas, no presente. Mas e quanto aos próximos passos? Principalmente, porque a pressão, em Brasília (DF), era para a liberação do dinheiro? Eis que até o momento, mesmo que exista, não foi apresentado nenhum planejamento efetivo do que será feito. E mais. Como a maior parte das estruturas estão montadas na capital, independente do avanço da doença pelo interior, não há uma certeza clara se existirão reforços na rede de atendimento nestas localidades para evitar, em breve, a super lotação ou estrangulamento de vagas em Maceió. Mesmo parecendo um cenário caótico, além da realidade, ele é perfeitamente possível, pois segundo o próprio governo a adesão às medidas mais duras de isolamento social não ultrapassaram os 45%, quando na verdade o ideal era para mais de 60%. Paralelo a isso, houve ainda uma crise maior na cadeia de comando do Ministério da Saúde, com a queda do segundo ministro da pasta, Nelson Teich. Isso e mais o fato da entrega de um novo hospital acabaram criando o cenário ideal para não se discutir os próximos passos.

LEGISLATIVO

Diante de tanta incerteza até o momento, o deputado Bruno Toledo (Pros), ao comentar o cenário, optou por manter sua visão de que o combate à doença deve estar centrado na prioridade do atendimento para os mais vulneráveis, mas com claras perspectivas de uma direção para o pós-pandemia. “Eu sempre defendi que o governo possa definir as linhas de investimento em três eixos: o atendimento aos mais vulneráveis, os gastos com a Saúde e apresentar um plano de recuperação econômica, que também se faz urgente. Espero que com esse recurso oriundo do governo federal, o Estado de Alagoas pense nessas medidas de forma conjunta e com maior transparência possível”, defendeu Toledo. Em relação à saúde, ele informou que a partir de informações que têm sido divulgadas e conforme levantamentos feitos, há a falta de insumos, equipamentos de proteção e medicamentos. “O governo precisa definir um protocolo de atendimento. Temos cobrado isso no parlamento”, defendeu o parlamentar. Afinado com a política nacional, ele lembrou que a visão republicana do governo federal fez o presidente Jair Bolsonaro, por meio de sua equipe econômica, criar condições para a recuperação da economia dos estados e municípios. Ele lembrou também que a política social prevista no auxílio emergencial foi uma das maneiras imediatas de socorro às necessidades iminentes da população.

ESTRUTURA

Para quem está na linha de frente se arriscando, tratando e até morrendo, como os profissionais de saúde, o momento é decisivo. Isto por causa do aumento do número de casos, que têm afetado até mesmo as categorias. No momento, de acordo com o Conselho Regional de Enfermagem (Coren), 371 profissionais de enfermagem do estado foram afastados dos postos de trabalho, 280 casos suspeitos e 91 confirmados. “Ampliar a capacidade do Estado de realizar testes mais acessíveis para a população e profissionais da saúde, melhorar as condições de trabalho dos profissionais com EPI’s de qualidade e em quantidade suficiente à demanda da população, contratar profissionais de saúde em quantidade suficiente inclusive para substituição dos que adoecerem por causa do vírus, ajudando os municípios que não tem suporte para isso”, disse o presidente do Coren, Renée Costa. Segundo ele, é fundamental uma estrutura que garanta cuidado para quem cuida, já que também padecem. Por isso necessitariam também de testes e apoio psicológico, além da garantia de áreas de descanso com segurança, “já que muitos vão voltar para casa temendo contaminar suas famílias”. Renée falou ainda que, neste momento, a atenção primária teria um papel importante pois além de ter contato mais direto com a população assumindo um papel de esclarecimento, acompanhamento e, principalmente, para trabalhar a prevenção.

POLÍTICA

O trabalho dos profissionais que estão na ponta, conforme lembrou a presidente do Sindicato dos Enfermeiros de Alagoas, Renilda Santos Barreto, precisa estar afinado com a política de saúde implementada. Ela reconheceu que a dimensão da doença e a necessidade de respostas imediatas acabou revelando várias vulnerabilidades no que vinha sendo praticado no estado. Por isso, não deixa de explicitar que o importante, além da estruturação, é o investimento em pessoal. Tanto capacitação, condições de trabalho, já que houve uma falha que ainda persiste na qualidade e quantidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), que pode comprometer até mesmo os atendimentos.

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