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Nº 5885
Política Aulas na Universidade Federal de Alagoas permanecem suspensas mesmo remotamente

MAIS DE 70% DOS ALUNOS NÃO TÊM ACESSO À INTERNET EM ISOLAMENTO

Percentual elevado preocupa o Sinteal e a UFAL por causa do cumprimento do currículo escolar

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 30/05/2020 - Matéria atualizada em 30/05/2020 às 06h00

A maioria das escolas e universidades púbicas não tem alternativa para manter o ano letivo sem aulas presenciais por causa do novo coronavírus. Pesquisas mostram que o obstáculo para o Ensino à Distância (EAD) é a realidade social. Entre crianças e adolescentes de 9 a 17 anos, 66% não tem acesso a internet. Em Alagoas, a situação é ainda pior. A Universidade Federal (Ufal) mantém as aulas presenciais suspensas porque 70% dos 25 mil universitários se declaram em extrema pobreza. Situação semelhante de 170 mil alunos das escolas estaduais. Situação pode favorecer candidatos do Enem de outros estados em melhores condições. Outra triste realidade é que mais de 60% dos quase 8 mil professores da Ufal e 8 mil da educação estadual não foram preparados para o ensino virtual. No caso dos profissionais da rede estadual, a maioria diz não ter condições econômicas para comprar um computador de qualidade razoável para trabalhar com EAD. Sem internet, sem computador, sem merenda escolar e sem lugar adequado para estudar à distância são alguns efeitos sociais sentidos pelos estudantes da rede pública neste período de agravamento do coronavírus. O levantamento feito pela “TIC Kids Online Brasil 2018”, formulado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Ceitic), revela a diferença entre as classes das famílias dos estudantes. Segundo a pesquisa, 73% dos alunos de família com renda de até um salário mínimo (R$1.045) não navegam na rede quando estão em casa. A partir de três salários mínimos, o índice é de 53%. A situação piora na zona rural, 82% dos alunos não acessam internet em ambiente privado. O gerente da ONG Todos pela Educação, Gabriel Corrêa, confirma que a desigualdade social na educação é antiga e ficou acentuada durante a pandemia. A Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (Pnad) indica a falta de ambiente domiciliar adequado para estudar ao mostrar que 15,1% das residências com crianças e adultos abrigam seis pessoas. Em 40% deste universo residencial, há mais de três pessoas por dormitório.

PANDEMIA

Sem saber quando iniciará o período letivo de 2020 para as 45 mil pessoas da comunidade da Ufal, o reitor da Universidade Federal de Alagoas, Josealdo Tonholo, teme que se não houver adiamento em tempo satisfatório do Enem até que haja a retomada das aulas presenciais nas escolas públicas, os secundaristas do estado possam ser prejudicados no acesso à Ufal. “Os alunos alagoanos do Enem não estão tendo aulas, nem acesso adequada ao ensino virtual e isso irá prejudicá-los no vestibular. A preocupação é que haja invasão de estudantes de outros estados que estejam mais preparados”. As pesquisas oficiais confirmam a procedência da preocupação do reitor da Ufal porque indicam que a maioria dos alunos da rede pública do estado não tem condição sócioeconômica para ter acesso à educação e às salas de aulas virtuais. O outro gargalo é encontrar uma fórmula para matricular futuros alunos do Enem, já que até agora a Ufal ainda não ratificou as matrículas dos alunos que entraram este ano. “Se houver a seleção de alunos do Enem sem que os de Alagoas estejam preparados, haverá uma invasão de alunos de outros estados”, disse o reitor. Para tentar melhorar as condições de ensino dos adolescentes alagoanos, a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade investe em dois programas: um de preparação rápida para o vestibular e outro que é conexão de saber (tipo cursinho pré-vestibular) gravado em vídeo. Neste momento se busca parceria, para a divulgação de vídeoaulas, para mitigar os efeitos da falta de aulas presenciais. Esta parceria não pode ser feita com ferramentas das redes sociais por causa da falta de acesso, da maioria, à internet.

GRADUAÇÃO

Com relação aos 25 mil estudantes matriculados nos 102 cursos da universidade, o reitor Josealdo Tonholo revelou que não pode retomar as aulas presenciais por causa da vulnerabilidade social. “Mais de 70% dos alunos estão abaixo da linha de pobreza (quem vive com renda de R$ 8/dia, segundo o Banco Mundial e IBGE). A realidade social está na declaração prestada pelos estudantes na inscrição do Enem. Ao analisar as condições sociais de estudantes de Arapiraca e municípios do sertão aprovados, sobe para 94% e 95%. “Os estudantes da Ufal não têm condição social privilegiada como muitos imaginam. A maior parte tem celular, mas há dificuldade de acesso à internet e não tem computador. Sem contar os problemas de tecnologia no interior”. Por isso, o reitor afirmou que não há condição de manter o calendário acadêmico com ensino a distância. “Só as aulas de especialização, mestrado e doutorado ocorrem a distância”. O calendário está suspenso, sem definição de retorno das aulas presenciais. Como não há solução a curto prazo, os pró-reitores planejam desenvolver atividades extracurriculares. Porém, esbarram na dificuldade de acesso à internet e da situação de vulnerabilidade social dos estudantes. “Temos que manter a inclusão. Não podemos adotar modelos de exclusão”, disse o reitor. Ao ser questionado se o primeiro semestre estava perdido, o professor Tonholo disse que não. “O semestre não está perdido porque nem começou”. A ideia é elaborar novo calendário quando houver definição de retomada das aulas presenciais. Professores reprovam improvisação e cobram novo calendário escolar Na tentativa de garantir o ano letivo de 2020 a todo custo, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) ministra aulas em salas virtuais. Quem não tem acesso a internet recebe conteúdo impresso que a Seduc classifica como “Guia Especial de Atividade Escolar Não presencial”. O conteúdo é entregue aos alunos com ajuda de mercadinhos, postos de saúde, agentes de saúde e outros meios comunitários. A maioria dos professores e o Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal) criticam a improvisação do ensino. Preocupada com a improvisação e com a possibilidade de o material impresso ser veículo de contaminação dos estudantes com coronavírus, a presidente do Sinteal, Maria Consuelo Correia defende a elaboração de novo calendário escolar, após a retomada das aulas presencias. Sustenta que o novo período letivo não precisa terminar este ano. Isto já aconteceu em 2007, após a greve de 67 dias. O período foi concluído no ano seguinte. O Sinteal não considerado que o período letivo esteja perdido. Consuelo explicou que o ensino público deve ser inclusivo e de qualidade. Observou que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) prevê que com 75% de aulas presenciais pode se fechar o ano letivo, por causa de catástrofes e pandemias. A sindicalista sugere atividades de pesquisa e trabalhos para complementar a carga horária. Avaliou que as aulas virtuais atendem contingente inferior a 30% do universo de 170 mil alunos. No sertão, agreste e zona da mata 80% não tem como acessar a internet, disse Consuelo, amparada em pesquisas do Sinteal, Pnad e ONGs que defendem educação inclusiva para famílias em vulnerabilidade social.

PERGUNTAS SEM RESPOSTAS DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

Durante a elaboração desta reportagem, a Gazeta encaminhou, via assessoria de comunicação da Seduc, as seguintes perguntas para o secretário de Educação, vice-governador Luciano Barbosa (MDB). Até o fechamento desta edição não obtivemos respostas.

Quantos alunos foram matriculados nas escolas estaduais para o período letivo de 2020?

Quantos estariam aptos para o Enem?

Diante do agravamento da contaminação do novo coronavírus no Brasil, no Nordeste e em Alagoas é possível prever a retomada das aulas?

O período letivo já pode ser considerado como perdido? Qual será a alternativa?

Uma pesquisa nacional IBGE e outros órgãos apontam que 66% dos brasileiros de 9 e 17 anos de idade não têm acesso à internet. Entre os alunos da escola pública de Alagoas é possível estimar quantos não têm acesso?

A pesquisa aponta que a situação é pior na zona rural, onde 82% são afetados. Em Alagoas, como a secretaria avalia o acesso à internet na zona zural?

Como ou quais métodos utilizados pela Secretaria de Estado da Educação para oferecer ensino aos alunos neste momento de pandemia?

As aulas à distância via internet e outros meios serão computadas no calendário escolar?

Qual a orientação da Secretaria de Educação para os estudantes, principalmente os de escolas públicas?

Os professores se queixam que não estão preparados para o ensino à distância. Como solucionar o problema e quais medidas para o futuro?

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