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Nº 5881
Política Movimento no Centro de Maceió vai ganhando volume novamente após a reabertura

COVID: PRÉ-CANDIDATOS A PREFEITO VEEM RETOMADA COM CAUTELA

Reabertura econômica e isolamento social ainda devem ecoar sobre o primeiro ano de mandato

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 11/07/2020 - Matéria atualizada em 11/07/2020 às 06h00

A retomada econômica gradual que completou uma semana na última sexta-feira, depois que a capital passou para a fase Laranja, entrou na pauta dos pré-candidatos a prefeito da capital. Afinal, a crise gerada com a pandemia de Covid-19 deve ter impactos este ano e ainda perdurar no próximo ano, uma vez que a queda na arrecadação deve comprometer a elaboração do orçamento do primeiro ano de gestão do futuro prefeito de Maceió. 

Todos os oito pré-candidatos ouvidos pela Gazeta reconhecem que os efeitos nos cofres serão uma realidade. Também admitem que uma das consequências sociais envolvem a geração do emprego, já que muitas empresas que não tinham capital de giro não resistiram a pressão econômica. Ainda assim, também há concordância que a defesa da vida da população e dos trabalhadores precisava estar entre as prioridades.

Com uma visão macro de quem administrou o Estado de Alagoas por oito anos, atuou como deputado federal e prefeito da cidade, Ronaldo Lessa (PDT) também reconheceu a gravidade da situação. Em sua avaliação, as consequências serão elevadas, principalmente, por conta dos efeitos que podem afetar o setor do turismo. 

"A questão do turismo é séria porque o maior empregador em Maceió é ele e sua retomada não depende só do Estado que recebe, mas sim dos emissores de pessoas para cá, das companhias aéreas e de uma série de fatores. Além disso, o consumo como um todo que foi afetado. O comércio, bares e restaurantes e serviços foram afetados. Temos também o impacto nas finanças municipais, inclusive com inadimplência no IPTU, por exemplo", observou Lessa.

Quanto à retomada da economia, em sua avaliação tem que ser feita mesmo pela capital, porque a "onda" no interior  veio na sequência. Ronaldo disse não saber detalhes se o governo estuda a retomada por região. Sobre o último decreto que garantiu a reabertura da capital, ele lembra que até onde acompanhou os prefeitos estão apenas acompanhando a decisão tomada pelo Estado.

"O que o governador faz o prefeito faz, inclusive em Maceió. Pode haver outros que estejam tomando uma outra medida mais séria quanto ao isolamento. Mas acho que já deveria ser estudado para dar uma resposta no momento exato para sabermos da capacidade do Estado em receber pacientes. Na região Norte abriu um hospital com alguns leitos de UTI. No sertão não tinham leitos de UTI, mas havia determinação para ampliar Santana do Ipanema e Penedo, para acolher o aumento de contaminação do interior. Mas o número de testes são poucos e não sabemos a quantidade de pessoas contaminadas. Na minha avaliação, essa contaminação é maior do que o que está exposto", avaliou Ronaldo.

Segundo avalia, mesmo com esse cenário a retomada da economia é importante e precisa ser feita, mas com cautela, e não descuidando-se de medidas que garantam o consumo, mas essencialmente garantindo a "proteção à vida".

Queda

Com base em números, Ricardo Santa Rita (Avante) lembrou que antes da crise da pandemia o Estado de Alagoas tinha 190 mil trabalhadores empregados com carteira assinada. E como as informações do próprio segmento econômico são de queda em faturamento, falências e por consequência demissões, não há como não reconhecer a gravidade da situação.

"Isso vai ter um impacto negativo gigantesco no mercado formal e no informal, também afetando ambulantes e feirantes, no Mercado da Produção e na orla. A queda na circulação impactou negativamente a renda dessas pessoas. Então tudo isso ocasiona um aumento da desigualdade e pobreza. Tínhamos aí uma média de 400 mil maceioenses com menos de um salário mínimo por mês e essa conta tende a aumentar, vemos isso com consternação", ponderou.

Diante desse cenário que se avizinha, ele reafirmou o que já vinha defendendo em suas redes sociais, quando defendeu a retomada do setor econômico, antes mesmo da reabertura gradual. De acordo com sua avaliação isso foi um posicionamento adotado com base na ideia de "quanto mais cedo a retomada, mas rápido se chegaria a 4° e última etapa".

"Chamo a atenção para o turismo que na minha opinião é o maior gerador de renda do Estado porque utiliza a mão de obra através dos serviços e precisamos mostrar para os polos emissores, já que somos um destino, que estamos abertos e funcionando. Acredito que a próxima etapa da reabertura (Amarela), de acordo com os protocolos de segurança sanitária que possamos voltar a aquecer esse mercado", analisou Ricardo.

Conforme dados apurados sobre o setor no ano passado, neste período a taxa de ocupação já oscilava em torno de 90%, e no momento não chega a 10%. Como já foi registrada queda no pico da doença em Maceió, pelo menos disse se sentir aliviado para que se possa garantir o aquecimento da economia e possibilitar a retomada do estoque de empregos formais "com suporte para as pequenas e médias empresas".

Social

O deputado federal João Henrique Caldas (PSB) - que votou pela adoção do auxílio emergencial - lembrou que diante do caos econômico por que vive o país e o Estado de Alagoas, lembrou que sem os R$ 600 que chegaram a casa de 57% das famílias brasileiras a situação estaria ainda pior.

"Apesar de todo esse quadro, não vimos a administração pública produzir alívios tributários e burocráticos que poderiam ajudar a contornar, ainda que marginalmente, tais efeitos. No campo estadual, sempre foi dito que as contas estavam em ordem, então a ordem deveria ser proteger as pessoas e os pequenos negócios, já que os MEIs representam 96,9% das empresas ativas em AL. E o estado resolveu deixar dinheiro em caixa e o povo sofrendo. E nem mesmo para ajudar os mais vulneráveis houve aceno governamental", criticou o deputado.

Conforme revelou, essa ajuda não ocorreu por falta de dinheiro, já que os dados de que dispõe, o governo conta com R$ 600 milhões em caixa oriundos da arrecadação do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecoep). Em sua avaliação, parte desse valor deveria ser utilizado para aliviar o sofrimento das famílias da periferia da capital e do interior do Estado.

Para o deputado, a reabertura econômica é algo importante e até bem-vinda, mas não começou de forma organizada na capital, uma vez que tem sido notado em várias situações ônibus cheios que estão expondo a população à situação de risco. Ele lembra que a decisão da mudança de fase não pode ser alheia ao aumento do contágio, a fim de não se haver novas medidas de retrocesso neste momento.

"A reabertura da economia é bem-vinda, porém, deve ser feita com o acompanhamento do comportamento da evolução da doença, já que pode ser necessário alterar a estratégia de acordo com essa realidade. E pelo visto não começou de forma organizada em Maceió. É um absurdo ver os ônibus lotados e sem respeitar as medidas de proteção tão defendidas e necessárias. As pessoas precisam trabalhar e buscar seu sustento e a retomada não pode se dar sem que o município esteja atento a todos os movimentos que envolvem o comércio", completou João Henrique.

Ele também defendeu que haja protagonismo municipal no que se refere a criação de condições para viabilizar um socorro aos empresários com medidas que possibilitem a renúncia fiscal temporária e garantir o funcionamento das empresas que ainda terão condições de retomar suas atividades.

"O desafio da próxima gestão será maior do que nunca e exigirá independência, seriedade e uma interlocução constante com a população e setor produtivo", considerou o parlamentar do PSB.

Arrecadação

A queda na arrecadação foi um dos pontos analisados pelo deputado estadual Davi Davino (PP). Conforme os estudos que tem realizado sobre os efeitos da crise, os números impressionam porque a expectativa é de uma queda de 30%. Isso, em sua avaliação terá um desdobramento muito negativo na dinâmica econômica do Estado com repercussão em todas as cidades.

"As autoridades fazendárias de Alagoas estimam uma perda em torno de 30% da arrecadação, refletindo diretamente na dinâmica econômica do estado. O setor de serviços, que é a maior fonte de movimentação da economia da capital passa, por um momento de extrema dificuldade e o turismo, que é o elemento que alavanca a vitalidade de negócios, se encontra parado e muitas empresas seguem na incerteza, se com o prolongamento dos níveis de afastamento terão condições de manter os negócios abertos. O conjunto de todas essas dificuldades repercute na arrecadação do município de Maceió", explicou Davino. 

Davino reconheceu o esforço do governo em garantir a reabertura da atividade econômica, porém, enfatiza que só terá êxito com o envolvimento da população, pois os riscos de contágio continuam. E será com a conscientização de que a batalha ainda não está vencida que será possível ver o comércio funcionando, mas preservando vidas.

"É diante de todo esse grave cenário econômico que tanto o governo como os diversos setores da sociedade devem se unir e estabelecer um pacto para encontrar soluções de retorno das atividades econômicas gradual e embasada na ciência. Para isso, é extremamente importante não só a conscientização da população, mas é extremamente necessário medidas rígidas de fiscalização em toda a cidade e não apenas dos bairros mais privilegiados. Nada é mais importante do que a vida", destacou o deputado do PP.

Análise

Já o ex-procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB), informou que além dos dados manteve contato com o presidente da Federação das Indústrias, José Carlos Carlos Lyra, e o vice José Nogueira. No encontro, na sede da Fiea, tomou conhecimento do cenário atual e, principalmente, o que virá no pós-pandemia.

"O impacto da crise, assim como a retomada gradual da economia estão na minha pauta diária. A classe política tem que facilitar o setor de negócios no Brasil, com a imediata reformulação tributária e fiscal, construindo um grande pacto federativo para que o país tenha condições de retomar o crescimento, mesmo neste momento adverso", ponderou Alfredo.

Recuperado da Covid-19, que afetou ferozmente sua família com o falecimento do pai Carlos Mendonça, ele acredita que o processo de retomada econômica que já está sendo construído com as autoridades precisa ser articulado com ações futuras. Isso, de acordo com o que avalia, precisa ser feito com os setores afetados e que geram empregos, mas também com o segmento dos trabalhadores.

"Nós sabemos de todas as dificuldades que estão sendo enfrentadas e outras tantas que ainda teremos pela frente, mas estou dialogando com o setor produtivo e diversas entidades representativas de trabalhadores, deixando claro que o diálogo construtivo é o caminho mais viável para a estrada do crescimento", defendeu Gaspar.

Com um discurso de superação da própria doença, ele acredita que a vida, que é o bem mais precioso sendo mantida toda e qualquer construção daqui para a frente, precisa ser feita com a esperança. Diante de tantos e novos desafios, Alfredo espera que a soma de forças seja o principal combustível para a superação extremamente necessária para o futuro.

Agravamento

Para o presidente do Diretório Estadual do PT, Ricardo Barbosa, a crise gerada com os efeitos da pandemia é parte da crise que já se arrastava no país, por conta do desmonte do estado brasileiro e de seu patrimônio. Segundo revelou, o vírus só expôs e aprofundou ainda mais o que já era uma realidade para a população.

"Crise econômica e desmonte intencionais desde a época dos governos golpistas com Michel Temer e, agora, com o governo Bolsonaro. Inverteram a lógica do governo, de governo social - no caso de Lula e Dilma - para um entreguista. Um governo de desmonte do bem estar social. Lembro a 'PEC da morte', que congelou recursos da saúde até 2036 sem poder ter investimentos. O fim do programa Mais Médicos e outros vários programas sociais como o Bolsa Família", criticou Ricardo.

Em sua avaliação, os erros cometidos além dos econômicos passa pela indicação do governo para que o povo volte a trabalhar e vá para a rua para "morrer e salvar a economia". Isso é uma incoerência porque foi o próprio governo que já havia optado pelo enfraquecimento da economia. "O governo precisava ter garantido a renda mínima antes da pandemia para evitar a uberização do trabalho. Não temos que pensar em economia no momento em que o povo está morrendo", descreveu Barbosa.

Ele falou que a Prefeitura de Maceió foi ausente em qualquer aceno para aliviar o sofrimento da população. Como exemplo citou que não teve nenhuma medida de auxílio a população, a exemplo de outras cidades do Brasil. Segundo Ricardo, a prefeitura se limitou a ficar editando medidas de reclusão. "A Câmara de Maceió, por meio do vereador Galba Neto, criou um projeto de complemento de renda dos R$ 600 para chegar até o mínimo e foi vetado pelo prefeito", lembrou Barbosa.

Em relação à retomada econômica, ele viu com pessimismo já que, em sua avaliação, ela recai sobre os trabalhadores o risco de se contaminar e morrer infectado. "Se retoma as atividades e sequer temos uma vacina e até medicamentos para combater. Ou seja, vai continua havendo mortes. O que deveríamoa estar discutindo não é a retomada, mas uma política de auxílio, de renda, de desonerações e empréstimos para os micro e pequenos empresários", defendeu Ricardo.

Revelação

A servidora pública e jornalista Lenilda Luna (UP) acredita que a crise sanitária da Covid-19 tem dado demonstrações claras e reveladoras quanto à postura das pessoas perante o meio ambiente. Ela considera que é o desequilíbrio da relação do homem com a natureza que provocou a origem do vírus e, agora, suas consequências.

"Na minha opinião, essa dramática situação que vivemos com a pandemia da Covid-19 nos traz algumas lições: a primeira é que conservação ambiental não é coisa de ambientalista, mas de todos nós. A natureza está nos mostrando que se não soubermos preservar áreas com florestas e cobertura vegetal nativa, vamos sofrer as consequências da modificação do habitat de milhares de microorganismos", enfatizou Lenilda.

De acordo com sua reflexão, não há como pensar em retomada ou prioridade para a economia em detrimento do contágio e mortes que ainda assolam o país e que tem reflexo também em Alagoas. Lenilda responsabiliza a política de saúde adotada pelo governo federal e o mal exemplo dado pelo presidente Jair Bolsonaro.

"Mas de que adiantaria ignorar a Covid? Haveria lucratividade com pessoas morrendo? Alguma empresa quer ter sua marca associada ao contágio da doença? Não dá para ser irresponsável como o presidente Bolsonaro e fazer propaganda da cloroquina quando os estudos científicos já descartaram essa substância como tratamento do coronavírus. Não adianta pensar em voltar ao antigo normal e desconsiderar que já temos mais de 60 mil mortes no Brasil e mais de 1,2 mil óbitos em Alagoas. É uma tragédia que exige de todos nós seriedade e compromisso coletivo", questionou Lenilda.

Confinamento

Para o pré-candidato a prefeito e engenheiro Corintho Campelo (PMN), o primeiro decreto editado pelo governador Renan Filho (MDB) para suspender as atividades de modo mais radical levou ao confinamento da população. Ao mesmo tempo, montar uma comissão multidisciplinar para, em 20 ou 30 dias, formatar uma lei encaminhada para a Assembleia Legislativa Estadual (ALE). Conforme explicou, nos decretos publicados houve muita ilegalidade, principalmente, no estabelecimento de multas em desacordo com o que já consta em lei.

"Seria regras que salvariam vidas e também o funcionamento da economia. É injustificável que uma cidade como Maceió, que tem como essência a economia no comércio e serviços, fechar a economia por mais de 100 dias. Esse confinamento neste período caiu em descrédito. Isso vai ser um prejuízo tremendo", afirmou Corintho. 

Segundo ele, existiram outras medidas ineficazes, como a proibição da circulação de pessoas nas praias, ao mesmo tempo que não houve nenhum tipo de contingenciamento em bairros populares, a exemplo do Jacintinho, e pontos comerciais como Mercado da Produção, que ele chama de "pocilga". 

"O governo se mostrou incompetente para administrar a crise e estar abrindo tardiamente, sem ter pactuado com a sociedade nenhum acordo. Ninguém respeitou. A economia parou, o comércio, por exemplo, mas o povo não, porque não tiveram sensibilidade com a situação de quem mora na periferia em barracos. Isso tudo causou um prejuízo tremendo, vamos precisar de ajuda do governo federal, e afetou enormemente as pequenas e médias empresas", disse Corintho.

Ele defendeu que não é apenas determinar a reabertura, mas que o governo defina uma linha de crédito com facilidade, sem burocracia, para evitar ainda mais quebras dos estabelecimentos.

Tragédia

Para Cícero Filho (PC do B), a pandemia já pode ser considerada uma tragédia tanto para a saúde como para a economia. Entretanto, os efeitos para o segmento econômico, com fechamento e demissões, cria uma situação ainda mais grave, uma vez que já havia queda na empregabilidade na capital. 

"O que nós precisamos é de medidas urgentes, simples e eficazes. Algo que faça o dinheiro girar. Fomentar os pequenos negócios. Investir na economia criativa, por exemplo, é uma boa alternativa. É preciso ajudar as pequenas e microempresas para que elas não quebrem e, assim, preservar a classe trabalhadora, emprego e renda", defendeu Filho.

Quanto à retomada econômica, ele considera importante, mas não pode ser seguida apenas de interesses alheios a necessidade de continuar protegendo o avanço do contágio e, por consequência, a saúde das pessoas. Conforme defendeu, há de se ter um caminho que não seja deslocado da proteção da renda das pessoas e da garantia do emprego. 

"A questão é que precisamos ter sensibilidade. Os gestores precisam ter, nesse momento, muita sensibilidade, se colocar no lugar do outro, daqueles que estão sofrendo nesse momento. Em primeiro lugar precisamos colocar a vida das pessoas, não podemos esquecer isso. Tendo isso claro, com sensibilidade e olhando a realidade concreta, é possível conduzir um caminho de enfrentamento da crise sanitária e econômica", disse o pré-candidato do PC do B.

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