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Nº 5693
Política Moradores de Bebedouro fazem protesto na praça principal do bairro contra o problema

MORADORES TEMEM FICAR SEM INDENIZAÇÃO DA BRASKEM

Ministérios Público Federal e Estadual articulam para ampliar número de famílias que merecem ser compensadas pela empresa

Por MARCOS RODRIGUES e ARNALDO FERREIRA - REPÓRTERES | Edição do dia 11/07/2020 - Matéria atualizada em 11/07/2020 às 06h00

A ausência de informações técnicas por parte da Braskem sobre pelo menos cinco minas nas áreas afetadas pela retirada de Salgema pode ampliar o afundamento e destruição nos bairros de Bebedouro, Mutange, Pinheiro e Bom Parto. Desde que o isolamento e retirada de moradores teve início, o processo só se amplia. Temendo o pior e uma possível venda da empresa, nos próximos três anos, os Ministérios Públicos Estadual e Federal articulam ampliar indenizações para os atingidos. Toda ação dos órgãos se baseia em dados técnicos estudados pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). Essas informações haviam sido repassadas ao empresário e presidente da Associação dos Empreendedores do Bairro do Pinheiro, Alexandre Sampaio.

"Os próprios técnicos informaram que, de acordo com o que foi apurado junto à empresa, ela não sabe onde estão, nem quais as condições reais de pelo menos cinco minas e por isso desde que essa condição foi detectada há a necessidade da área de evacuação", revelou o empresário em recente contato com a Gazeta e em entrevista ao Jornal da Mix FM 97.7.

LEVANTAMENTO

Os promotores têm acompanhado essa situação e, principalmente, depois que vazou a informação de que a Braskem pode ser vendida eles correm contra o tempo para garantir recursos para cobrir futuros prejuízos. Conforme foi revelado em matéria do Jornal Extra, deste final de semana, as reuniões tanto com técnicos da Defesa Civil Estadual e Nacional já vem ocorrendo, justamente, para ampliação da área considerada de risco iminente de desabamento. Somente assim será possível que quando a oficialização destas áreas ocorram possa haver uma cobertura aos danos materiais. Neste momento novos estudos estão sendo feitos para comparação de dados obtidos no ano passado. As informações serão decisivas para confirmar as primeiras impressões sobre o desnível provocado pela descida de terreno, por desgaste ou até mesmo ruptura da parede de algumas minas. Na parte que inclui, por exemplo, o bairro de Bebedouro é a água da lagoa que causa maior preocupação. Somente quem conhece e ainda insiste em transitar a pé ou de moto na região já percebeu que ela avança em direção ao campo do Centro Sportivo Alagoano (CSA), a antiga sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Siteal) e do antigo Hospital Psiquiátrico José Lopes.

Em recente vídeo divulgado no Youtube e na Gazetaweb como parte do Projeto Alagoanidades, seu proprietário, o médico Ronald Mendonça, relatou com emoção que a qualquer momento o prédio pode ruir. A água, inclusive, já tomou conta da área onde funcionava a cozinha é possível ser vista até mesmo no jardim do casarão comprado por seu pai a família Leão. "Eles (Braskem) cavaram tiraram o sal e isso criou crateras imensas e o terreno está cedendo. E em breve vocês terão a notícia de que aquela mansão, que para muitos é um sinal da burguesia dos Mendonça, na verdade ela vai cair. Vai ruir, porque a Braskem é incontrolável", relata Ronaldo com a voz embargada. Enquanto a definição não ocorre, os moradores e empresários do bairro se unem cada vez mais com apelos nas redes sociais, pichações e faixas nos imóveis. Nesta sexta-feira um grupo representativo de pessoas dos quatro bairros tomou às ruas e foram até um dos poços da empresa durante uma caminhada. O ponto de partida foi a Praça Lucena Maranhão no Bairro de Bebedouro. Juntos eles dividem angústias, lembranças e frustrações. Além disso, com um presente comprometido pelo medo de ficarem no prejuízo, o futuro também é incerto, em especial para os que não chegaram a nenhum acordo com a empresa.

TRANSPORTE COLETIVO

Sufoco resume bem a situação de quem depende dos transportes coletivos para se deslocar nos bairros do Pinheiro, Bom Parto, Mutange e Bebedouro, que viraram terra arrasada depois dos problemas geológicos causados pelas minas da Braskem. As empresas de ônibus e a Superintendência de Maceió da Companhia Brasileira de Trens Urbanos também contabilizam prejuízos após mudanças em trajeto. Criaram novas rotinas e rotas para atender a demanda. Das 16 linhas de ônibus que circulavam no trajeto Mutange/ Bebedouro, seis linhas foram extintas porque iriam sobrepor, ou seja, fazer rotas já existentes o que aumentaria os prejuízos das empresas. Com isso, 10 linhas passaram a ter rotas alternativas após as interdições dos bairros de Mutange e Bebedouro, feitas pela Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito- SMTT. Atualmente, quatro linhas atendem esses bairros com 38 ônibus que fazem 246 viagens diária na região de Bebedouro e Mutange, informa a direção do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros de Maceió. As mudanças começaram em abril e a redução de passageiros passou a ser contabilizada um mês antes, por conta das constantes mudanças de rota. As linhas registram uma queda de 38% dos passageiros. A média de passageiros transportados era de 429.700 e passou a ser de 267.953. A superintendência da CBTU no primeiro semestre registrou dois grandes prejuízos no movimento dos Veículos Leves sobre Trilhos. O primeiro foi com a medida de isolamento social por conta da Covid-19, que provocou uma queda de 12 mil para 1 mil passageiros/dia transportados pelos VLTs no percurso entre as Estações de Lourenço de Albuquerque a Jaraguá em Maceió. O outro está relacionado também aos transtornos sentidos pelos passageiros que precisam fazer baldeação e pegar um ônibus integração.

COMPENSAÇÃO

Das 6.500 indenizações de imóveis em áreas de risco por conta do desmoronamento de minas da Braskem, a indústria conseguiu fechar 721 propostas de indenizações, afirma a direção da empresa através da assessoria de comunicação. De acordo com balanço do programa auxílio aluguel da indústria já foram realizadas 2.618 mudanças da área de risco. As famílias que aceitaram o acordo passarão a receber auxílio aluguel de R$ 1 mil/mês. Adicionalmente, os moradores beneficiários da ajuda humanitária do governo federal migraram para o Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação.

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