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Nº 5861
Política David Oliveira conta que sua empresa não depende do público local do Pinheiro, já que atende a toda a capital

EMPRESÁRIOS AINDA SEGUEM NO BAIRRO À ESPERA DA REMOÇÃO

Mesmo com o aparecimento de rachaduras em imóveis, muita gente segue no Pinheiro

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 22/08/2020 - Matéria atualizada em 22/08/2020 às 06h00

A preocupação com o futuro não é apenas de quem mora, mas também de quem ainda trabalha no Pinheiro. É o caso do empresário David Correia de Oliveira, da VidTec, que trabalha com consertos de eletrônicos e vigilância eletrônica. Localizado na Rua Prof. José da Silva Camerino, ele nunca foi procurado por nenhum técnico da Braskem (ou empresa terceirizada), nem pela Defesa Civil Municipal. Trabalhando na região desde 1998, ele investiu num imóvel que foi dividido e garantiu uma clínica oftalmológica para a esposa e o aluguel para uma loja de confecções. “Até hoje ninguém nunca me procurou. Continuo trabalhando porque ainda não definimos como agir, mesmo com o aparecimento de rachaduras no nosso quintal. Já tenho uma ideia de quanto vale nosso investimento e aguardo uma proposta compatível com isso. E se chegarem com algo viável, chegaremos a um entendimento”, garantiu David. Ele disse que não depende de clientela específica do bairro, no momento, porque atua com condomínios em toda a capital e até fora. Porém, se preocupa com a esposa e o rendimento de aluguel que tem porque acaba influenciando na renda que tem contado até o momento. “No caso de minha esposa, na clínica, vamos ter uma perda porque o local é referência para o atendimento”, completou. Já moradores de outras áreas afetadas, como a Rua Coronel Lima Rocha, que só aceitam falar sob condição de anonimato, na semana passada receberam a visita de técnicos da Braskem. Isto porque a rua foi recentemente incluída no mapa de risco e temem algum tipo de perseguição. “Estiveram aqui na quarta (19) e vistoriaram a casa de ponta a ponta. Explicaram que a saída do imóvel ainda não foi definida, mas que qualquer ajuda neste sentido só ocorreria a partir de janeiro. Isto no caso da realocação, mas quando indenização não é com eles e sim com outros representantes da empresa. O fato é que passei a ficar com mais dúvidas do que certezas sobre o que vai ocorrer, porque minha filha, que já saiu no ano passado, até agora não foi procurada para fazer acordo”, explicou Lúcia (nome fictício), que mora na região há 32 anos. Um pouco mais à frente, uma outra moradora, identificada aqui como Célia, não consegue falar do assunto sem se emocionar. As pausas na conversa, seguidas de um choro contido em silêncio e olhar para o chão são comoventes. “Como vou deixar o lugar que vivi, reformei com meu marido (já falecido), criei meus filhos e hoje consigo descansar. Recomeçar em outro lugar e sem saber se vou receber o que mereço me angustia e tira minhas noites de sono. Meu medo é morrer sem ver isso resolvido”, contou a mulher de 72 anos e há 35 anos no local.

OUTRO LADO

Procurada, a Braskem informou que tem atuado dentro do prazo estabelecido mediante a mediação dos MPs. Abaixo a íntegra da nota encaminhada à reportagem da Gazeta. “O acordo firmado entre as autoridades públicas e a Braskem estima um prazo de até dois anos para a conclusão do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação. O foco inicial do programa foi a realocação das famílias das áreas de Resguardo e Zonas A e B, por uma questão de segurança. Com a conclusão da desocupação nas áreas prioritárias, em abril, a Braskem adotou medidas para agilizar o fluxo de compensação financeira. Mesmo em meio à pandemia de Covid-19, a empresa continuou mantendo o diálogo e as negociações com os moradores por telefone, WhatsApp e meios digitais. Hoje, cerca de 20 mil moradores já deixaram as áreas de risco. Com as mais de mil propostas de compensação financeira aceitas, o volume de recursos pagos em indenizações e auxílios financeiros é de aproximadamente R$ 126 milhões.”

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