Política
LUCIANO BARBOSA RESISTE A IRA DOS CALHEIROS E MANTÉM CANDIDATURA
Diretórios nacional e estadual do MDB insistem que “partido não tem chapa de prefeito e vereador em Arapiraca” nessas eleições


Os eleitores, prefeitos, vereadores, lideranças políticas, parlamentares e candidatos às eleições municipais no Agreste alagoano estão impressionados com a forma como aconteceu a intervenção do diretório estadual do MDB, sob o comando do senador Renan Calheiros e do filho, o governador Renan, no diretório municipal de Arapiraca. A ação foi tão radical que o partido exclui, radicalmente, a possibilidade de lançar candidatos na segunda maior cidade do Estado. Tudo para inviabilizar a candidatura do vice-governador Luciano Barbosa, que resiste, segue em campanha e alega para os aliados que não entende a “ira” dos Calheiros, para quem trabalhou e buscou votos nos últimos 30 anos.Por causa de divergências e distanciamento político, o governador demonstrou ao grupo político de Barbosa a sua disposição para mandar também no Agreste, a exemplo do que já acontece em Murici, sua terra Natal. Numa só canetada, exonerou vários indicados pelo vice para cargos no governo (12 da Secretaria de Educação e 38 da Vice-governadoria). E avisou que quem ficar com pena também sai. A explicação do diretório estadual para justificar a crise é que “O MDB não quer o vice-governador como candidato a prefeito de Arapiraca”. Nos bastidores, o que se sabe é que a direção estadual e o governador queriam como candidato o deputado Ricardo Nezinho e aceitava inclusive que o jovem Daniel Barbosa (filho de Luciano) participasse da disputa interna.Só que o diretório municipal não se curvou à vontade política dos Calheiros. E na convenção do último dia 15, os 18 convencionais unanimemente votaram no vice-governador como candidato. No dia seguinte, os dirigentes dos diretórios nacional e estadual estiveram no município e tentaram anular a decisão dos convencionais. Como não conseguiram, disseram que estavam anuladas as decisões do diretório municipal e sacramentaram: “O MDB não terá candidato a prefeito nem a vereador em Arapiraca”.O caso ainda repercute entre 40 candidatos a prefeito e vereadores e em diversos partidos no Agreste. A maioria não aprovou a intervenção no MDB municipal depois de uma decisão convencional. A ação foi comparada à “barbaria da política paroquial”. A candidatura agora será decidida na Justiça Eleitoral. Paralelamente, o partido trabalha na expulsão do vice-governador das fileiras emedebistas em 60 dias, confirma Isnaldo Bulhões, um dos integrantes do diretório nacional, ao confirmar também que “o MDB não tem candidatos em Arapiraca. “Esta é uma decisão de partido”, disse.Luciano Barbosa demonstra não se intimidar e diz aos aliados que “não há motivo para recuar. A campanha está na rua. Houve a desincompatibilização do cargo em tempo previsto na lei [em abril]. A convenção municipal aprovou a candidatura. Será uma luta difícil. Não consigo entender porque o governador [Renan Filho] usa a máquina contra a minha candidatura. Eu sempre votei nele”. Estas têm sido as frases mais pronunciadas e em tom de desabafo dita pelo vice-governador, nos bastidores da campanha política, ao sustentar a candidatura a Prefeitura de Arapiraca. A disputa envolve mais seis candidatos a prefeito da cidade.O advogado de Luciano, Fábio Gomes, observa que seu cliente é vítima do “fogo amigo”. Os assessores e Gomes comparam a crise “a luta de Davi contra os Calheiros”, numa analogia a passagem bíblica da luta de “Davi contra Golias”, onde o mais fraco vence a batalha contra o mais forte usando a arma de um pastor de ovelhas. O advogado comparou a situação a “barbárie jurídica”. Disse que “em mais de 25 anos trabalhando como advogado eleitoral nunca vi uma truculência como esta dos Calheiros contra o aliado Luciano Barbosa”.Fabio Gomes defende a candidatura do vice-governador no processo movido pelo diretório estadual e que atualmente tramita no cartório da 55ª Zona Eleitoral de Arapiraca. Ele trabalha também para mais de 30 candidatos a prefeito e vereadores da região. “A região está assustada com o ato de MDB estadual”. Os argumentos do partido contra a candidatura do vice governador deixaram o advogado impressionado. “Eles disseram que não é do interesse do MDB de Alagoas que o vice governador seja candidato a prefeito de Arapiraca. Pode uma coisa dessa?”.O processo para anular a candidatura de Luciano está com a juíza Ana Raquel, da 55ª Zona Eleitoral - Arapiraca. Qualquer que seja a decisão dela a questão será levada, via recurso, para o Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE/AL) e em seguida ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “A candidatura de Luciano é para valer, é legal e ele está em campanha”. O advogado Fábio Gomes disse num resumo a respeito da questão jurídica que existem duas regras sobre candidaturas no processo eleitoral: o Código Eleitoral e a Lei 9.504/97. “Estamos dentro da lei”.O advogado sabe que o diretório estadual pode interferir numa instância inferior do partido. Mas, segundo ele, isto não quer dizer que os diretórios nacional e estadual podem tudo. “Este tipo de coação, intervenção que o diretório estadual faz no municipal fere o artigo 8º da Resolução que trata dos registro de candidatura [o artigo diz o seguinte: um órgão de instância superior poderá anular a convenção do órgão inferior]. Porém, apenas o nacional pode fazer isto. O estadual não tem competência de intervir em resultado de convenção municipal. A resolução da eleição de 2020 não permite a intervenção do municipal”, afirmou Gomes.O diretório nacional também não pode tudo. “A lei diz que no ano que ocorrer a eleição, até seis meses antes do pleito, ou seja, até abril, a direção nacional de cada partido deverá editar resolução para definir o processo. No caso, a resolução do MDB não trata do impedimento da candidatura do vice-governador”. O advogado destacou que a ação do partido contra seu cliente está cheia de nulidades.Tudo isto está no processo que tramita na 55ª Zona Eleitoral. A questão hoje obedece a Lei Eleitoral e não o estatuto do MDB. Ao ser questionado como o vice-governador estava observado o “rolo compressor” dos Calheiros contra a candidatura, Fábio Gomes respondeu que “Luciano não consegue compreender. Se diz surpreso porque há mais de 30 sempre votou no senador Renan Calheiros e no filho, sempre acompanhou as decisões do MDB, se desincompatibilizou do cargo de secretário de Estado de Educação em abril e deixou claro que seria candidato a prefeito. O governador sabia deste projeto até porque houve várias reuniões com o pai [o senador Renan] sobre o assunto”.Luciano evita contato direto com a imprensa. Fala por intermédio de assessores e advogados. Evita ataques frontais aos “Calheiros” e não demonstra vontade de retirar a candidatura, como “exige” o governador.Os demais candidatos a prefeito de Arapiraca: Fabiana Pessoa (Republicano) foi eleita vice-prefeita de Rogério Teófilo que morreu em agosto passado e agora é candidata à reeleição. Além do deputado estadual Tarcizo Freire (Progressista), Gilvânia Barros (Solidariedade), Lindomar Ferreira (PSOL), Hector Martins (Cidadania) e Cláudio Canuto (Patriota). A maioria fala com desconfiança da suposta divergência entre o candidato e a cúpula do MDB, evita comentar publicamente a crise no partido por perceber que Luciano Barbosa tira proveito como vítima.