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Política

Marcados para morrer

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Ednelson Feitosa/Fernando Araújo/Rodrigo Cavalcante O juiz Hélder Loureiro não sabe há muito tempo o que é passar um dia na praia. Desde que mandou para a prisão diversos membros da chamada ?gangue fardada?, ele vem sendo ameaçado de morte e até hoje prefere passar o dia protegido em sua casa. ?Construí uma piscina e troquei minhas caminhadas na rua por uma esteira rolante?, diz o juiz. O ex-governador Manoel Gomes de Barros, que comandou em sua gestão o desbaratamento da mesma gangue, vive uma situação parecida. ?A gente perde um pouco a liberdade de tomar um chope, caminhar na praia?, diz . ?Apesar de não me enclausurar, tomo uma série de cuidados para me proteger?. O ex-governador costuma andar em diversos veículos, nunca sai de casa no mesmo horário nem volta pelo mesmo caminho. ?Só lamento o afastamento de alguns amigos, que temem caminhar comigo lado a lado?, diz o vice-governador. O policial civil Valter Silva Lima, ameaçado de morte desde que testemunhou o assassinato do cunhado Valter Dias Santana, precisa contar com a proteção de amigos policiais até para levar o carro em uma oficina. No ano passado, um dos seus amigos, o estudante de Direito Flávio Humberto, foi assassinado quando dirigia o carro de Valter. ?Ele morreu no meu lugar?, diz o policial. ?Lamento o que aconteceu, já que eu mesmo o havia alertado de que ele corria risco de vida por dirigir o meu automóvel?. Já a rotina de José Antônio dos Santos, que concordou em depor sobre os crimes atribuídos ao ex-tenente-coronel Manoel Cavalcante, ainda é mais restrita. Ex-assessor de Cavalcante, ele vive, atualmente, dentro do quartel do Tigre ? grupo de operações especiais da Polícia Civil. Esses quatro casos são apenas uma pequena mostra do número de pessoas ameaçadas de morte no Estado. ?No ano passado, Alagoas foi o Estado que mais enviou pessoas para o Programa Federal de Proteção a vítimas e testemunhas?, diz o advogado Pedro Montenegro, chefe da Ouvidoria da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Montenegro lembra, ainda, que o ato de ameaçar alguém, independentemente da consumação ou não da ameaça, é crime previsto no Código Penal. ?Infelizmente, nunca soube de nenhuma condenação por ameaça em Alagoas?, diz o advogado. ?E a responsabilidade da vida de todas as pessoas ameaçadas é tanto do Executivo quanto do Judiciário?. Nome ? Hélder Loureiro Idade ? 46 anos Profissão ? Juiz de Direito *** Origem da ameaça ? A prisão do então tenente-coronel Manoel Francisco Cavalcante, no dia 16 de janeiro de 1997, foi o início de uma ampla operação policial que culminou com a condenação de vários policiais civis e militares integrantes do crime organizado em Alagoas. Cavalcante era o chefe da chamada gangue fardada, acusada de praticar assaltos, roubo de cargas, receptação e desmonte de veículos, extorsão e crimes de encomenda. Preso e condenado junto com os irmãos major Adelmo, tenente Ademar e o soldado Marcos Cavalcante, o ex-tenente-coronel da PM passou a fazer veladas ameaças de morte contra o juiz Hélder Loureiro, que hoje vive enclausurado em sua residência sob forte esquema de segurança. Dos quatro irmãos condenados, apenas o ex-tenente-coronel continua preso no Baldomero Cavalcante aguardando o julgamento pelo tribunal do júri. Adelmo, Ademar e Marcos Cavalcante estão foragidos desde que tiveram a prisão relaxada pela Justiça. Além dos irmãos Cavalcante, o juiz também está na mira dos pistoleiros ligados ao grupo do ex-delegado Antônio Camilo, que comandava uma quadrilha que assaltava bancos e cargas no Sertão alagoano. Condenados a mais de 70 anos de cadeia, o ex-delegado elegeu o magistrado como seu maior inimigo. *** Proteção - Para garantir a proteção do juiz, um grupo de 12 militares ? sob o comando de um sargento PM ? se reveza às 24 horas do dia. Nome ? Valter Silva Lima Idade ? 38 anos Profissão ? Policial Civil *** Origem da ameaça - A emboscada que matou o policial Valter Dias Santana, executado a tiros dentro de seu Palio, num trecho da Via Expressa, na Serraria, mudou a vida do também policial Valter Silva Lima. O crime aconteceu no dia 2 de junho de 2003. A vítima era casada com a irmã de Valter Lima, a bancária Tânia Lima, que hoje, ameaçada, está fora de Alagoas e integra o Programa Nacional de Proteção à Testemunha. Valter Lima tornou-se a principal testemunha do homicídio, juntamente com a irmã (testemunha ocular), que tinha sido ferida no atentado. Eles levantaram suspeitas de que o crime tinha sido praticado por outros policiais, inimigos de Valter Dias, fato que desagradou o grupo rival. *** Proteção - Hoje, Valter Lima é protegido por colegas policiais, por orientação do secretário de Defesa Social, Robervaldo Davino. Até para ir à faculdade, ele precisa recorrer aos amigos. Nome ? José Antônio dos Santos Idade ? 27 anos Profissão ? Assessor de Político *** Origem da ameaça - Por ter trabalhado como assessor político do ex-tenente-coronel Manoel Francisco Cavalcante nas campanhas para prefeito e deputado estadual e concordado em depor sobre os crimes atribuídos ao ex-militar, José Antônio dos Santos é, hoje, a principal testemunha viva dos diversos processos existentes na Justiça, que apuram as ações da ?gangue fardada?, inclusive do assassinato do fiscal da Receita Silvio Vianna. *** PROTEÇÃO - José Antônio dos Santos vive, hoje, no quartel do Tigre - o grupo de operações especiais da Polícia Civil - de onde só sai para atender chamados da Justiça. Após denunciar os integrantes da ?gangue fardada?, a família expulsou José Antônio dos Santos de casa e os amigos passaram a lhe evitar. Nome ? Manoel Gomes de Barros Idade: 58 anos Profissão ? Agropecuarista *** Origem da ameaça - Ao assumir o governo de Alagoas no vácuo da renúncia de Suruagy, em junho de 1997, o vice-governador Manoel Gomes de Barros se defrontou com uma situação crítica na área da segurança pública. Pressionado pela sociedade - que não acreditava mais nos órgãos da Segurança Pública - o governador agiu rápido e avalizou a decisão política de botar na cadeia todos os chefões do crime organizado, a começar pelo tenente-coronel Cavalcante, até então o homem mais temido de Alagoas. Com isso, Mano trombou de frente com a gangue fardada, chefiada pelo oficial, e passou a ser o alvo número um do militar, cujas entrevistas se confundiam com veladas ameaças de morte ao governador. *** Proteção ? Sua segurança é garantida por seis policiais militares, durante as 24 horas. Ele garante que não teme as ameaças, mas também não negligencia em sua segurança.

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