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Política População de baixa renda tem sofrido para conseguir fazer ao menos as três refeições por dia por causa da pandemia

CENTRAL ÚNICA DAS FAVELAS QUER COMIDA PARA 50 MIL FAMÍLIAS EM AL

Famílias sem renda e desempregadas estão com as despensas, geladeiras e panelas vazias na pandemia

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 17/04/2021 - Matéria atualizada em 17/04/2021 às 04h00

A Central Única das Favelas em Alagoas (Cufa/AL) quer socorro alimentar e auxílio emergencial para 50 mil famílias em situação de extrema miséria nas favelas dos 102 municípios. Entre elas, estão 20 mil famílias das favelas das orlas das lagoas Mundaú e Manguaba, das encostas de barreiras, grotas, bairros da parte alta, das comunidades do litoral norte e das 12 cidades metropolitanas. A menos de três quilômetros do Palácio do governo estadual, mais de 50 famílias da favela Bom Jesus, no antigo Porto da Balsa, que fazia a linha Maceió - Coqueiro Seco, com as panelas vazias, imploram por emprego, comida e assistência médica. O governador Renan Filho (MDB) promete distribuir 250 mil cestas básicas, só não disse ainda quando. Os desempregados da construção civil Raul Pereira da Silva, casado, quatro filhos, e o também servente de pedreiro Manoel Firmino da Silva, casado, cinco filhos, sem conseguir pagar aluguel foram morar em barracos de três por três metros, em cima da lama, na favela Bom Jesus. Para sobreviver fazem bicos como carroceiros, onde conseguem renda semanal de R$ 50. “A gente não passa fome porque o pessoal das igrejas [católicas, evangélicas e espíritas] doam roupas e cestas básicas, mas nem sempre tem comida. A última cesta chegou semana passada”, disse Raul. A maioria dos moradores da Bom Jesus é analfabeta, mão de obra desqualificada. Antes da pandemia viviam da informalidade ou como subempregados das lojas do centro de Maceió, como pedreiros e/ou serventes. Sem trabalho, tentam sobreviver como carroceiros. Sonham como uma das casas que a prefeitura constrói nas margens da lagoa. Mas não estão inscritos em programas sociais do município. Temem ser despejados a qualquer momento. O desempregado José Cícero Gomes disse que a maioria dos vizinhos trocaria as cestas básicas prometidas pelo governo por oportunidade de trabalho. “No momento, a gente precisa de comida, tratamento médico para a família e trabalho. Com essa pandemia aí, piorou tudo”. Desempregadas como Daise Maria da Silva, cinco filhos e o marido carroceiro, vivem na favela sem máscaras para a proteção mínima contra o coronavírus e pedem ao governo do Estado e da prefeitura oportunidade de trabalho. “Aqui todo mundo ficou desempregado e quer voltar a trabalhar para sair desta miséria”, implorou a ex-auxiliar de serviços gerais.

HORA DO SOCORRO

O coordenador da Cufa no estado, Rogério Dias, pede alimentos ao governo do estado, prefeitura, a iniciativa privada e aos próprios moradores das comunidades que não foram afetados pelo desemprego. “A hora é de socorrer quem tem fome”, diz Rogério. A população pobre está com as geladeiras, dispensas e panelas vazias. “A fome é tão real quanto a pandemia, que já matou mais de 3.600 alagoanos e mais de 360 mil brasileiros”. Na primeira fase aguda da pandemia do coronavírus, a Cufa (AL) atendeu mais de 3 mil mães em situação de fome, com cestas básicas, facilitou à internet gratuita para acessarem programas sociais, distribuiu kit higiene (máscaras, álcool em gel e material de limpeza). Nesta nova fase do vírus, a entidade já distribuiu 30 mil máscaras nas comunidades e cestas básicas. Mas, o número de atendidos não chega a 10% da necessidade nas favelas. Os alimentos são entregues, preferencialmente, às mães sem condições de alimentar os filhos. A entidade quer a aplicação do Fundo de Combate e Erradicação à Pobreza (Fecoep) nessas áreas, diz Rogério Dias. A entidade ainda não contabilizou o número de favelas e nem o de habitantes no estado. “Com o empobrecimento da população, a cada momento surge ocupação nova e aumenta o número de moradores em áreas de extrema vulnerabilidade social”, explicou Rogério. O apoio jurídico da entidade é da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL).

ALIMENTO É O SURURU

A maioria das 1.800 famílias da favela Mundaú só não passa fome porque tem sururu como única opção alimentar e de trabalho. As dispensa estão vazias. Sofrimento maior é das crianças. Com os pais desempregados, elas apresentam sinais da desnutrição e de doenças. O alerta é de uma das coordenadoras do Núcleo Mundaú da Central Única das Favelas, Jaqueline Gonçalves. “Desde o começo da pandemia, as favelas da orla da lagoa Mundaú esperam ajuda alimentar da prefeitura e do governo estadual. Mas, até agora nada. Não dá para comer só sururu”, lamentou. A Cufa - Mundaú já entregou 300 cestas básicas com ajuda da própria comunidade, número infinitamente menor que as necessidades da população. Os alimentos são para atender, preferencialmente, as viúvas que perderam seus maridos para o crime, por doenças ou por outros motivos. Também atendem idosos em situação de miséria, mulheres com filhos portadores de doenças especiais e desempregadas que não recebem o auxílio emergencial do governo federal. Uma pesquisa feita pelo Data Favela, em parceria com o Instituto Locomotiva e a Cufa, em fevereiro, apontou que, entre os 16 milhões de brasileiros que moram em favelas, 67% tiveram de cortar itens básicos do orçamento com o fim do auxílio emergencial, como comida e material de limpeza. Outros 68% afirmaram que, nos 15 dias anteriores à pesquisa, em ao menos um faltou dinheiro para comprar comida. Oito em cada 10 famílias disseram que não teriam condições de se alimentar, comprar produtos de higiene e limpeza ou pagar as contas básicas durante os meses de pandemia se não tivessem recebido doações.

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