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O “doutor da morte” que deu vida ao IML

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MÁRIO LIMA ARNALDO FERREIRA O guardião da ?sucursal do inferno?, como chamava o IML, o médico-legista e professor Duda Calado foi, durante 40 anos, diretor do órgão. Ele ficou conhecido nacionalmente pelo uso de folhas de manjericão no nariz ao fazer a exumação dos cadáveres. ?O manjericão tem uma essência natural que impede que o cheiro da putrefação entre pelo nariz?, atesta Manoel Cassiano, auxiliar de necropsia e que acompanhou Duda por 19 anos no IML. Duda morreu há nove anos, em 20 de março de 1995, e levou com ele uma grande mágoa. Foi demitido sumariamente por um ex-aluno, o ex-secretário de Segurança Pública Zeca Torres. ?Ele estava como diretor do IML desde sua fundação, em 1947. Foi fundador e diretor durante 25 anos. Ele tinha o instituto como sua própria casa. Chegava às cinco da manhã e só voltava para casa à noite. A demissão deixou meu pai triste, decaído. Passava todo o tempo em seu sítio de Marechal Deodoro?, atesta o filho, o agrônomo João Aurélio Calado. De acordo com ele, Duda soube de sua demissão por um delegado. ?Ele nunca esqueceu essa demissão. Dizia que foi jogado fora como um cachorro?, completa Aurélio. Anos depois, o então secretário de Segurança Rubens Quintella chama Duda de volta para dirigir a Polícia Científica e o IML, onde ficou até sua morte. Entre suas manias estava a de colecionar as armas dos crimes mais bárbaros, como a faca com que um maníaco enlouquecido matou a mulher com 129 facadas; ou um machado que decepou as pernas e braços de outra vítima. De acordo com João Aurélio, essa ?coleção? está guardada no museu Téo Brandão. Para Duda Calado, em entrevista ao repórter Mário Lima na revista Última Palavra, em 1988, ?trabalhar com defunto é uma vocação natural?. Mas ele jamais esqueceu o caso da jovem assassinada pelo marido ciumento com 129 facadas por todo o corpo. ?Contei uma por uma das facadas enfiando um palitinho em cada corte no corpo dela?. ?Morto não dá voto? Desde aquele tempo, Duda Calado já denunciava o IML como uma casa dos horrores. ?Nunca, em nenhum governo, o IML foi olhado ou tratado como deveria ser. Sempre ficou relegado a segundo plano, sem o apoio de ninguém. Morto não dá voto, mas no entanto temos que enterrá-los em covas rasas e, às vezes, sem a presença da família, como um indigente?, reclamava Duda, em fevereiro de 1988. Ele revelava, na época, que a única geladeira do IML ?foi, durante muito tempo, a câmara frigorífica da Colônia de Pescadores de Penedo?. Ela foi adaptada e utilizada para guardar os corpos, que acabavam podres, pois a câmara não tinha temperatura ideal para conservação?, explicava. Formado pelo Instituto Nina Rodrigues, da Bahia, um dos mais importantes centros de medicina legal do País até hoje, Duda Calado teve como mestre o próprio Estácio de Lima, alagoano que deu nome ao IML. Nos 40 anos, quando se manteve como diretor do IML, Duda Calado contabilizou a dança das cadeiras de 98 secretários de Segurança Pública. ?Sinto dizer isso. Mas se não cuidarem do IML tudo vai permanecer como está e ele vai morrer lentamente, como os muitos corpos que por aqui passam?, vaticinou. Sangue nas veias Depois da exoneração, Duda Calado não parou; foi trabalhar no banco de sangue da Santa Casa de Misericórdia de Maceió. ?Sou um homem de sete instrumentos e não vou parar. Vou continuar a atender esse povo bonito de minha terra. Agora nesse banco de sangue, onde cheguei a fazer transfusões braço a braço, salvando vidas ou emitindo atestado de óbitos, pois a vida é assim mesmo. Me orgulho de nunca ter cobrado uma consulta?, dizia Duda. Seu hobby predileto era cuidar de sua coleção de relógios de parede. Eram 52, que estavam por todos os lados de sua casa. ?Não deixo atrasar um minuto sequer, e todos batem numa hora só. Esse é meu passatempo?, finalizou.

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