Política
MARCO REFERENCIAL VIRA MONUMENTO AO DESPERDÍCIO
Orçada em R$ 11,1 milhões, com recursos federais, obra na praia de Ponta Verde teve início em 2017 e permanece parada


Com recursos da ordem de R$ 11,1 milhões do governo federal, obtidos em 2011 pelo então senador Benedito de Lira, a construção do Marco Referencial do Turismo de Alagoas, na praia da Ponta Verde, uma das regiões mais bonitas do litoral de Maceió, se transformou num imenso monumento ao desperdício do dinheiro público. A obra começou em 2017 e seria concluída em dezembro daquele ano. Não aconteceu. Em 2020, o governo Renan (MDB) condenou o projeto, refez tudo, prometeu entregá-lo no ano passado. O projeto permanece parado, e o material empregado deteriora-se lentamente. No local foi construída nova estrutura, com pilar, fundação e laje. Também toda a parte de alvenaria na área onde ficará a sala administrativa. A expectativa era que, dentro de seis meses, a obra estaria pronta. Para espanto de turistas e alagoanos, permanece como estava.
CONVÊNIO
A ordem de serviço do Marco Referencial do Turismo foi assinada no Palácio Floriano Peixoto. O convênio é de R $11.122.000, com recursos provenientes do Ministério da Integração Nacional, oriundos de emenda da Comissão de Desenvolvimento Regional do senador Benedito de Lira (PP) em demanda ao Orçamento Geral da União de 2011. O projeto tramitou por cinco anos até que atendesse todos os requisitos legais e técnicos para que fosse autorizada a Ordem de Serviço. A execução foi assumida pelo governo de Alagoas, via Secretaria de Infraestrutura. O projeto, em primeira etapa, será a base de fundação da obra completa. Nessa etapa, será construído uma área de convivência para uso múltiplo de festivais culturais, gastronômicos e visitação turística. A previsão inicial era que a obra seria concluída em setembro de 2017, quando o governo estadual comemorou o bicentenário de Alagoas durante o “Alagoas 200 anos”. O projeto ficou parado até 2020, quando tudo foi refeito. Entre os que criticam o hoje “monumento do nada”, que compromete a imagem do turismo de Alagoas, se destacam comerciantes, moradores da Ponta Verde, deputados estaduais, dentre eles Davi Maia (DEM), e o ex-senador Benedito de Lira, hoje prefeito de Barra de São Miguel. Há dois anos, eles cobram a conclusão do empreendimento e consideram a situação como “absurda”.
PLACAS
No canteiro de obras nenhum operário trabalha há mais de um ano. Duas placas, uma do governo federal e a outra do estadual, indicam os valores do projeto, o prazo de conclusão, a licença ambiental concedida pelo Instituto Estadual do Meio Ambiental com validade até 24/07/2022. O empreendimento só não está totalmente abandonado porque vigilantes se revezam no local. Turistas que vêm passar férias em Alagoas desde 2017 estranham o esqueleto de concreto que avança no mar sem evolução arquitetônica. Geralmente os visitantes perguntam: O que é isso aí? Os comerciantes que fazem ponto no local com food trucks também estranham a paralisação das obras, que promete ser um marco de atração turística. “Esta obra parou há muito tempo. A gente só vê movimento dos vigilantes”, confirmou o comerciante Victor Reis. “Os turistas sempre perguntam por que a obra não anda”, disse a comerciante Duane Daine da Silva sem saber também quando o projeto será concluído. “Dizem que será o Marco Referencial, mas eu não sei nem como explicar por que a obra não anda. Os turistas que todos os anos passam férias em Maceió perguntam por que a obra permanece parada”, disse Duane. Os moradores do bairro dizem que o local serve de abrigo para moradores de rua, ponto de tráfico, consumo de drogas e pequenos furtos. A informação de práticas criminosas no local não foi confirmada porque próximo ao canteiro de obra funciona uma base da polícia civil, da Operação Litorânea (Oplit).
RETOMADA
As obras do Marco Referencial, na orla de Ponta Verde, andaram lentamente durante três anos. Foram retomadas em junho de 2020. O secretário de Estado de Infraestrutura, Maurício Quintela, revelou, na ocasião, mudanças no projeto original. “Foi preciso também reavaliar e refazer o projeto, repactuar os valores com a Caixa Econômica Federal e com os ministérios [da Integração Regional e do Turismo] e verificar a involução das obras para que elas pudessem ser retomadas de forma correta e sem nenhuma margem de risco para o gestor e principalmente para a população que será usuária”, disse o secretário. O valor caiu para R$ 9,3 milhões. A previsão era que as obras seriam concluídas no início do ano passado. Se pronto estivesse, o empreendimento reuniria cultura, culinária e arte, numa área de 3.685,05 m². Abrigaria praça de alimentação, eventos, concha acústica, quiosques, espaço cultural, camarins e mirantes com vista privilegiada para o mar. Hoje, no local há obras de alvenaria inacabada. A Seinfra já executou 40% da construção. A estrutura antiga do clube Alagoinhas estava condenada, e a pasta construiu nova estrutura, com pilar, fundação e laje. Foi feita também toda a parte de alvenaria na área onde ficará a sala administrativa. Falta finalizar os ambientes. A expectativa era que, em seis meses, a obra estaria pronta, informaram, na ocasião, os técnicos e os supervisores da secretaria. O secretário Maurício Quintella destacou, na ocasião, a importância da retomada das obras. “O Marco Referencial é um equipamento turístico que vai agregar um valor muito grande a nossa orla e capital, uma das mais procuradas pelos turistas”. Na ocasião, justificou que a paralisação das obras decorria da crise econômica enfrentada.
Leia mais na página A6
