Em plena pandemia de Covid-19, Alagoas foi o estado brasileiro com a 7ª maior taxa de mortes violentas do Brasil em 2020. O indesejável posto foi alcançado pelo estado após as mortes violentas aumentarem 14,4%, saindo de 1.095 em 2019 para 1.251 em 2020. Com isso, a taxa de mortes violentas a cada 100 mil habitantes saltou de 32,8 em 2019 para 37,3 no ano passado. A taxa nacional é de 23,6. Os dados constam no Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta quinta-feira (15). Em relação às capitais, Maceió registrou a sexta maior taxa de mortes violentas a cada 100 mil habitantes. Isso porque, estas ocorrências aumentaram 26,6% na capital alagoana, saindo de 293 para 371, ou seja, mais de uma morte violenta por dia em Maceió no ano passado. Com esse crescimento, a taxa de Maceió saiu de 28,8 em 2019 para 36,2 em 2020, um salto de 25,8%. A taxa nacional entre as capitais brasileiras registrou avanço de 1,8% e saiu de 22,8 para 23,3.
Em contrapartida, os dados do Anuário mostram que as despesas da Segurança Pública em Alagoas com informação e inteligência recuaram 90,1%. Alagoas foi o segundo estado do país, entre os que informaram esses dados, que mais reduziu os gastos com esses setores. Por aqui, os recursos destinados à informação e inteligência na segurança pública saíram de R$ 633,8 mil em 2019 para R$ 62,4 mil. Esta foi a única área da Segurança Pública de Alagoas que teve recuo nas despesas, de acordo com os dados.
CENÁRIO NACIONAL
Em todo o país, as mortes violentas registradas em 2020 aumentaram 5%. Houve 50.033 mortes, contra 47.742 em 2019. O perfil das vítimas é o já conhecido: 76,2% são negras, 54,3% jovens e 91,3% do sexo masculino. Os crimes aconteceram mais à noite e aos fins de semana. Em 78% dos casos, foi usada uma arma de fogo.
Os números mostram que todos os estados no Nordeste tiveram crescimento no número de mortes violentas. “Há dois fatores que pesam nesse ano de pandemia. O primeiro é o das dinâmicas relativas aos grupos criminosos organizados. No Ceará, com crescimento de mais de 70%, por exemplo, tem o motim das polícias logo no início do ano, que desarranja a política de segurança local, mas isso sozinho não explica. Tem uma disputa do crime organizado muito intensa que reverbera nas ruas com vingança, assassinatos. No Piauí também há um desarranjo do crime organizado”, diz Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). “O mapa do Nordeste está conectado, interior do Maranhão, Paraíba, norte da Bahia. Tem uma questão regional da disputa do crime organizado”, completa.
O segundo fator, avalia Samira, são os crimes interpessoais, que podem explicar a dinâmica nos outros estados. A pandemia piorou a condição de vida da população, o que pode ter acirrado os conflitos. “Uma maior disponibilidade de armas de fogo pode impactar rapidamente nessa violência interpessoal”, afirma a diretora-executiva do Fórum. Ela cita o caso ocorrido nesta semana em São Paulo: uma menina de 4 anos foi morta pelo vizinho durante uma briga por uma vaga de garagem.
“Se a pessoa não tivesse uma arma de fogo, ele teria batido no vizinho, mas deu um tiro e matou uma criança. Me parece que a pandemia acirrou esses conflitos. Como a pandemia gera uma série de gatilhos que agravam as condições de vida da população, piora dos indicadores socioeconômicos, perda de emprego e renda, aumento de abuso de bebida alcoólica, etc. Vai sobrepondo uma série de fatores de risco e tudo isso pode impactar mais a violência dessas relações”, diz.