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Política Com a pandemia, cirurgias eletivas foram suspensas para médicos darem prioridade à Covid

ALAGOAS PRECISA FAZER MAIS DE 50 MIL CIRURGIAS ELETIVAS

Novos hospitais não têm condições de atender a demanda que passa de 700 mil exames e consultas

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 18/09/2021 - Matéria atualizada em 18/09/2021 às 04h00

Alagoas precisa fazer urgentemente mais de 50 mil cirurgias eletivas, sem contar os mais de 700 mil exames, consultas e pequenas cirurgias reprimidas nos últimos dois anos. Os cinco hospitais novos não têm condições de atender demanda elevadíssima. Avaliam a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, o Conselho Regional de Medicina (CRM), Sindicato dos Médicos e cirurgiões. Os profissionais defendem mais investimentos na saúde e política arrojada para as necessidades emergenciais. O governo não reage positivamente. Segundo os Conselhos Federal e Regional de Medicina, o estado registrou a maior queda do Brasil em procedimentos médicos na fase aguda da pandemia. Foram 782.189 procedimentos a menos entre março e dezembro de 2020, quando comparado com o mesmo período de 2019. De acordo com os levantamentos, o recuo foi de 47%. Estes procedimentos incluem exames e consultas médicas. Em julho, a pesquisa apontou que Sergipe e Acre foram os únicos estados a retomarem as cirurgias eletivas do País. De lá para cá, a rede hospitalar alagoana continua patinando nessa questão, sem falar nas distorções da folha salarial, onde um seleto grupo consegue ganhar mais de R$ 50 mil com plantões fantasmas, diz o deputado Davi Maia (DEM). Na verdade, em 2020, a Covid-19 provocou queda de 27 milhões nos procedimentos de saúde que não são de emergência no Brasil. Segundo o estudo do CFM, em todo o Brasil, foram 16,6 milhões de exames de diagnóstico a menos, 8,8 milhões de procedimentos clínicos, 1,2 milhão de pequenas cirurgias e 210 mil transplantes. Os procedimentos considerados eletivos, que não são de urgência e emergência, tiveram impacto pelo direcionamento de boa parte da estrutura da rede de saúde para atender os pacientes com Covid-19. Entre março e abril de 2020, com o avanço da primeira onda da pandemia, houve uma queda de quase a metade do número de procedimentos no País. As áreas mais afetadas entre março e dezembro de 2020, em comparação com o mesmo período no ano anterior, foram as consultas e exames em Citopatologia (-51%), Neurologia (-40%), Anatomopatologia (-39%), Cardiologia (-38%), Oftalmologia (-34%) e Medicina Clínica (-33%). Os procedimentos que tiveram maiores impactos foram os da área de oftalmologia (-6,2 milhões), seguidos por radiologia e diagnóstico de imagem (-5,3 milhões), médico-clínico (-2,8 milhões) e radioterapia (-2,5 milhões). Sofreram grandes quedas exames como os de gasometria (medição de quantidade de O2 e CO2 no sangue), câncer e Papanicolau. Outros procedimentos afetados foram o atendimento em centro de atenção psicossocial, cauterização de lesões na pele e atendimento para indicação ou inserção do dispositivo intrauterino (DIU). Por regiões afetadas: Nordeste (-31%), Sul (-29%), Sudeste (-27%) e Norte (-21%). Entre os estados, além de Alagoas, as reduções mais intensas se deram no Piauí, com recuo de 45%, Amazonas (-38%), Espírito Santo (-36%), Mato Grosso do Sul e Sergipe (-35%). O CFM avalia que é possível adotar uma série de medidas para tentar compensar a queda, como campanhas junto aos pacientes, sobretudo para os que têm doenças crônicas. Em Alagoas, os exames com as maiores baixas no atendimento foram mamografia, ultrassonografia, os de prevenção das doenças cardíacas, diabetes, dentre outros. A situação é preocupante, disse a deputada Jó Pereira (MDB). “O sistema de saúde só atendeu a demanda do Coronavírus. Isto quer dizer que os hospitais de campanha eram necessários. Faltou estratégia para garantir o atendimento preventivo das outras doenças”. A parlamentar lembrou que os cardiopatas, as mulheres e os idosos precisam continuar os cuidados preventivos e/ou seus tratamentos. “Exame simples como o Papanicolau é a forma mais eficiente de evitar câncer uterino e foi o de maior redução na atenção básica”. Ressaltou que as pessoas ficaram isoladas e muitos não buscaram os serviços de saúde e os exames de prevenção. “Espero que os novos hospitais estejam preparados e em condições de realizarem as cirurgias e as consultas. A demanda é imensa”, disse Jó Pereira. “Alagoas tem cinco hospitais novos. Na rede social do governador Renan Filho (MDB) são lindos. Na prática, tem a população precisando de atenção básica, de prevenção, de tratamento, de cirurgias eletivas e sem atendimento”. A crítica é do deputado Cabo Bebeto (PTC). “As reclamações se multiplicam contra a subutilização dos hospitais. Enquanto isso, o Hospital Geral permanece com os problemas da superlotação, falta de insumos, de macas, de profissionais para suportar a demanda gerada pelos novos hospitais”. Cabo Bebeto, reconhece que há necessidade dos hospitais. Mas, cobra a adoção de política de saúde. “O que falta é parar de trabalhar para aparecer nas redes sociais e governar para os mais pobres”, sugeriu. Não há um número preciso da quantidade de cirurgias eletivas que precisam ser feitas. O presidente da Comissão de Saúde, deputado Léo Loureiro (PP), estima entre 50 e 60 mil. Destacou que antes da pandemia o sistema de saúde tinha “uma fila enorme” de cirurgias eletivas que precisavam ser feitas. “O nosso sistema de saúde sempre andou atrasado com a fila das cirurgias eletivas. Sempre houve demanda reprimida e com a pandemia a situação piorou”. Ele recomendou para acelerar o processo mais investimentos em pessoal nos hospitais novos, manter os contratos com as redes filantrópica e particular de suporte à saúde. “O governo não pode tirar serviços dos hospitais de apoio e transferir tudo para os hospitais novos. Não resolverá o problema. A demanda é muito grande”. A situação chegou a este ponto porque Maceió e a maioria dos outros 101 municípios não cuidaram da atenção básica. Disse o presidente do Sindicato dos Médicos, Marcos Holanda. “Ao avaliar o quadro de saúde das pessoas que procuram os hospitais percebe-se que a maioria tem problemas de hipertensão, Acidentes Vascular Cerebral (AVC), Hemorragias Digestivas entre outros casos”. Segundo ele, depois da pandemia piorou o quadro. Holanda criticou alguns hospitais privados e filantrópicos de suporte que ganharam dinheiro público, não pagaram os profissionais em dia e não prestaram a assistência adequada à população. Ele foi uma das vítimas do calote. Para os novos hospitais atenderem a demanda reprimida, diz que “tudo vai depender de o governo executar uma política de saúde adequada para o momento. Profissionais para trabalhar, tem!”. Lembrou que há dois anos foi feito um mutirão no Hospital da Mulher, para cirurgias de Vesículas, Histerectomias e Hernias. “Se houver uma política para cirurgias eletivas nos hospitais novos, há como fazer. Mas, precisa de investimentos”. Entre os cinco mil médicos, 200 são cirurgiões prontos para atender a demanda, garantiu Marcos Holanda. Ao rebater as críticas de servidores, entidades e conselhos, o secretário de estado da Saúde, Alexandre Ayres afirmou que “Alagoas foi um dos poucos estados que não colapsou a rede hospitalar pública de UTI, desde o início do isolamento social, em março de 2020. Não faltaram EPIs (Equipamento de Proteção Individual). Os profissionais de saúde tiveram condições dignas de trabalho. Não faltou oxigênio e nem medicamentos para os pacientes”. Disse que a sua gestão deixará cinco novos hospitais para o sistema hospitalar público e alcançou a descentralização das ações de Média e Alta Complexidade para o interior do Estado. Com relação ao volume de recursos disponíveis para as cirurgias eletivas ou quanto elas custarão? Responde que o volume de recursos disponíveis é de R$ 15 milhões/mês.

CREMAL

O presidente do Conselho Regional de Medicina, Fernando Pedrosa, enfatizou a pesquisa do CFM que coloca Alagoas numa situação delicada na falta de atenção básica agravada na pandemia. “A situação é difícil. As autoridades da saúde precisam avaliar a queda dos casos de Covid, retomarem o atendimento da atenção básica e programas de cirurgias eletivas”. Segundo Pedrosa, além da Covid, parte da população tem comorbidades, adoece e precisa de atendimento preventivo. A saúde estadual planeja um programa arrojado de mutirões com a maioria das cirurgias nos hospitais novos, disse o líder do governo na Assembleia Legislativa, adiantou Silvio Camelo (PV). No entanto, “as novas unidades foram preparadas para atender casos de Covid e ainda não estão prontas para uma política de mutirões de cirurgias”. Alerta o presidente do Cremal, médico Fernando Pedrosa, ao defender a política de atenção básica e lamentar que os pacientes encaminhados para procedimentos cirúrgicos, têm dificuldades de atendimento.

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