Política
PP E UNIÃO BRASIL ESVAZIAM PROJETO DE PODER DO MDB
Indefinição de Renan Filho sobre candidatura em 2022 ajuda a definhar o partido dos Calheiros


Articulado para ser um “partido com projeto de poder” pelos próximos 40 anos, o MDB da família Calheiros definha lentamente, e os militantes não aguentam ficar por mais 40 dias. Ficam por obrigação da legislação eleitoral. Ainda dono das maiores bancadas de prefeitos, vereadores e deputados estaduais, com seis parlamentares, o clima interno é de velório e de debandada geral para os partidos Progressista (PP) e União Brasil (UB). Isso ocorre porque o governador Renan Filho ora se apresenta como candidato nas eleições gerais do próximo ano e, em outros momentos, como ocorreu numa entrevista coletiva na inauguração da Unidade de Pronto Atendimento de Jaraguá, admitiu a possibilidade de governar até o fim do mandato e ficar fora do processo eleitoral. Sem nomes para a sucessão e sem candidatos fortes para as cadeiras proporcionais, fala-se, nos bastidores, a possibilidade e o partido construir candidaturas alternativas com secretários e deputados estaduais.
Isso poderá ocorrer a partir da Assembleia Legislativa, com o deputado Paulo Dantas (ainda no MDB) vencendo a eleição interna para “governador-tampão”. Para isso acontecer, o governador precisa se definir. Terá de renunciar até 1º abril (Dia da Mentira) e assumir a participação nas eleições gerais. Dantas tem trânsito no PP e em outros partidos. “Só posso assumir uma candidatura majoritária e provisória [governo-tampão]se houver entendimento para isso. Por enquanto, sou candidato à reeleição”, diz Paulo Dantas.
O outro projeto, se o governador não for candidato, seria convocar um dos secretários estaduais com bom trânsito entre deputados e líderes políticos para assumir o “Projeto de Poder” idealizado pelos Calheiros. Imaginam o nome do presidente da Assembleia, deputado Marcelo Victor (com provável saída do Solidariedade) e até o nome do secretário de Estado da Educação, Rafael Brito, com pouca densidade eleitoral para um projeto majoritário. “Não sou candidato a nada. Neste momento, o projeto é combater a evasão escolar, o analfabetismo e melhorar a qualidade do ensino público”, diz o secretário, desmentindo os boatos de bastidores.
JANELA PARTIDÁRIA
Com tantas dúvidas, indefinições, boatos e insatisfação dos militantes com a atual gestão do Executivo estadual, nomes importantes do partido estão esperando a janela partidária [dia 2 de abril] para ingressarem no Partido Progressista (PP) do presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira, ou na nova legenda, União Brasil, fruto da fusão do Partido Social Liberal (PSL) com o Democratas (DEM), que está com o processo de regulamentação em andamento no Tribunal Superior Eleitoral. “O MDB corre o risco de ser esvaziado porque é um projeto de poder de uma família [Calheiros]. O maior partido de Alagoas não tem projeto de Estado”, reclamam deputados e prefeitos que estão para trocar de partidos. Deputados emedebistas com densidade eleitoral, como Jó Pereira, Ronaldo Medeiros, Paulo Dantas, dificilmente ficam no MDB. Eles não assumem abertamente, mas os aliados e assessores confirmam. Por enquanto, ficam os deputados Olavo Calheiros (tio do governador e não muito satisfeito com a gestão do sobrinho) e o deputado Galba Novaes. O deputado Ricardo Nezinho, da bancada do Agreste, é uma das dúvidas. A deputada Jó Pereira é cortejada por outras legendas. Mensageiros “fretados” pelos Calheiros ligaram para a deputada a fim de saber se ela aceitaria ser candidata a vice numa possível chapa da terceira via liderada pelo senador Rodrigo Cunha (PSDB). O objetivo é queimá-la politicamente nos bastidores. Mesmo sem ter dito que é pré-candidata a cargo majoritário, Jó “está no jogo” e não quer ser ignorada nas discussões do processo eleitoral de 2022. É o que mostram as pesquisas eleitorais onde ela aparece com 7% a 10% das intenções de votos para o governo do Estado, atrás de dois pré-candidatos declarados, que já colocaram os blocos nas ruas e que contam com apoios políticos: o senador Rodrigo Cunha e o deputado estadual Paulo Dantas. Esse xadrez político interfere, diretamente, no futuro dos 27 deputados estaduais, 21 deles demonstram que não querem ficar mais nos partidos por que se elegeram. A maioria pretende se filiar ao PP, ao UB e a outras pequenas legendas. As maiores baixas serão sentidas no MDB dos Calheiros, no PSDB do senador Rodrigo Cunha, no PTB do deputado Antônio Albuquerque [também candidato ao governo]. O Partido Progressista, do presidente da Câmara, deputado federal Arthur Lira, também perderá parte da bancada de cinco deputados, mas continuará forte nas bancadas de prefeitos e vereadores. As pequenas siglas como o PMN, do deputado Francisco Tenório, PV, do deputado Sílvio Camelo, e o PDT, do vice-prefeito de Maceió, Ronaldo Lessa, serão esvaziados no Legislativo estadual até o dia 2 de abril de 2022, é o que indicam hoje os bastidores políticos. A maioria dos secretários estaduais cotados como pré-candidatos a deputados federais e estaduais também deve ficar distante do MDB, para se livrarem dos Calheiros. Eles estão se articulando com partidos pequenos da base governista.