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APÓS BRK, POPULAÇÃO ENFRENTA FALTA D’ÁGUA E CONTAS ALTAS

Modelo de gestão de saneamento adotado pelo governador Renan Filho trouxe um rastro de sofrimento e revolta em municípios

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O desgaste político para o governador Renan Filho (MDB) e aliados após a compra da concessão dos serviços de água e esgoto da Casal pela BRK Ambiental se espalha como água. Já o líquido sumiu das torneiras, seja na capital e região metropolitana. Em cidades como Marechal Deodoro, onde a expectativa é para a recuperação econômica da alta temporada, falta abastecimento em quase todas as áreas. Os carros-pipa não conseguem atender à demanda, e as famílias gastam com água mineral para dar conta dos serviços básicos da casa, higiene pessoal e o consumo. De um lado, a cidade de Rio Largo, passando pelos bairros da parte da alta de Maceió - até o litoral sul, em Marechal Deodoro as queixas se acumulam, juntamente com contas altas e que não param de chegar, bem como protestos com interdição de vias. Pressionada, a Agência Reguladora de Serviços de Alagoas (Arsal) deu um passo em defesa do consumidor e determinou a suspensão dos pagamentos de quem não teve os serviços. Entretanto, por meio de resolução publicada na quarta-feira (6), autorizou o aumento de mais de 8% nos serviços de água e esgoto de Maceió e 13 municípios da Região Metropolitana. No início de setembro, a Justiça de Alagoas havia concedido uma liminar que suspendia o aumento da conta de água na capital e demais cidades atendidas pela BRK Ambiental em Alagoas. À época, o Procon Maceió também notificou a empresa. Sem água para um banho relaxante após um dia interior de trabalho, os moradores dos conjuntos Vila Rica, Vila Raul e Mata do Rolo, em Rio Largo, perderam a paciência e fecharam a pista no início do mês. A medida inócua, mas vista como única opção para pedir socorro, ocorreu após um mês tomando banho de cuia e apenas uma vez por dia, no caso dos adultos. Em plena pandemia, em que higiene é uma obrigação, famílias inteiras convivem com a difícil missão de mexer na renda para custear garrafões de água a preços que oscilam entre R$ 6 e R$ 10 em alguns casos. O prefeito da cidade, Gilberto Gonçalves (PP), tem feito o que pode para amenizar o sofrimento das pessoas. Em suas redes sociais não faltam vídeos do momento em que acompanha a entrega de água com carros-pipas. “Tenho trabalhado constantemente para melhorar a vida do povo da nossa Rio Largo. Infelizmente não depende única e exclusivamente do prefeito. Nós temos tomado todas as medidas cabíveis administrativa e jurídica. Criamos o SAE - Serviço de Água e Esgoto, mas ainda hoje as pessoas, com seus garrafões de água, pois muitos não podem comprar”, declarou o prefeito num dos vídeos. “Somos uma cidade pobre e sofrida. Estamos juntos e guerreando sempre, ajudando e fiscalizando para o povo não morrer de sede numa cidade que é rica em mananciais”.

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Na capital, local da sede da BRK Ambiental, o anúncio de um serviço de manutenção sem uma prévia estratégia de atendimento emergencial, deixando apenas a população como responsável pela precaução da falta de água, resultou em mais um mês sem água no bairro Cidade Universitária. O problema atinge a todos, postos de saúde, escolas, empresas privadas, mas principalmente a população. O caso ganhou repercussão nacional em reportagens e também na TVT, onde o assunto foi repercutido com a presidente do Sindicato dos Urbanitários, Dafne Orion, que sempre alertou para os riscos da privatização. “Nessa região há o caso de uma moradora com a mãe acamada, onde a limpeza precisa ser feita e é algo muito importante com o banho sendo vital para evitar ferimentos nas costas. E aí ela tem que juntar água em baldes para cumprir com essa tarefa. E ela nos procurou desesperadíssima”, disse Dafne. A sindicalista lembrou, ainda, que, quando a operação ocorria pela gestão pública da Casal o problema nunca havia chegado a essa situação. Principalmente pela dedicação dos técnicos e especialistas que conheciam a realidade do sistema de abastecimento há décadas. “Alertamos a todos, gestores e a sociedade como um todo, que nós enfrentaríamos esse tipo de dificuldade. Na hora que a empresa privada assume um serviço essencial como é o de água e esgoto, operando com a lógica do mercado financeiro, nós temos um prejuízo muito grande, sobretudo a população mais carente”, disse Dafne. O Sindurbanitários soltou uma nota na última sexta-feira (10), intitulada “Governo comete grave erro em privatizar água do sertão e litoral”, destacando a preocupação com os povoados dos 13 municípios que estão incluídos no pacote entregue à BRK Ambiental, bem como a tarifa da zona rural. “Com esse modelo não haverá universalização da água para todos os alagoanos”, diz o documento. Socorro Em Maceió, o sofrimento dos moradores da parte alta vem sendo amenizado pela prefeitura da capital. Antes mesmo de conseguir impor uma derrota importante à venda da concessão e ao modelo aprovado pelo governo Renan Filho, o prefeito JHC (PSB) decidiu levar carros-pipa para os bairros. O ato simbólico foi reconhecido pelas pessoas, principalmente as mais simples, que não têm condições de comprar água ou contratar os carros-pipa. Segundo JHC, o STF ter reconhecido a luta da cidade para garantir a parte da capital garantirá investimentos importantes. “A ação de bloqueio inicial e agora a confirmação de que uma parte dos recursos é nossa foi fruto de uma ação do nosso partido o PSB. Porque era injusto o governo simplesmente criar as regras e não reconhecer o direito do município. Agora conseguiremos fazer os investimentos necessários”, explicou JHC. Vale lembrar que, quando comprou os direitos de uso dos serviços, a empresa se propôs a pagar R$ 2 bilhões. Na oportunidade do leilão estava incluso o bloco que envolvia as cidades de Atalaia, Barra de Santo Antônio, Barra de São Miguel, Coqueiro Seco, Maceió, Marechal Deodoro, Messias, Murici, Paripueira, Pilar, Rio Largo, Santa Luzia do Norte e Satuba. JHC tentou garantir, administrativamente, que a parte da capital fosse repassada amigavelmente. Não foi surpresa a postura do governo, que ignorou os apelos a ratificou que, de acordo com o modelo que criou, os recursos seriam do Estado. Foi aí que ação judicial fez a diferença e revelou a verdade dos fatos, cabendo ao município o valor de R$ 1 bilhão. Abandono Se na capital o município questionou e resistiu, em Marechal Deodoro o prefeito Cacau (MDB) apoiou e seguir a cartilha do governo. Resultado, assim que a BRK assumiu os serviços, o SAE deixou de funcionar e, segundo os vereadores, até mesmo os mapas e indicações de operação do sistema não foram repassados. Eles denunciam que, ao contrário do município de Pilar, não houve uma transição técnica administrativa. “A cidade ficou sem SAE. A direção da empresa nos revelou que não houve transição. Até o momento, por exemplo, tem unidades que nem contas estão recebendo”, disse o vereador Marcelo Moringa (PTB). A situação é muito triste porque a população está sofrendo sem água. A presença da BRK até agora não foi boa para a cidade. Como o SAE já tinha problemas, havia a esperança de mudança, mas isso não aconteceu. Até mesmo uma obra de transposição de água do Rio Niquim está paralisada. Mas isso, conforme o acordo era para ter sido feita pelo município, e a obra está a passos de tartaruga”, denunciou o vereador. Ele conta que já fez uma denúncia no Ministério Público Estadual e conseguiu articular a realização de audiência pública, que pode ocorrer entre os dias 15 e 17, deste mês, com a direção da Casal e a população. A expectativa é que a empresa apresente um plano de ação e revele detalhes do processo, já que a gestão municipal acabou sendo omissa no que iria ocorrer. Para o vereador Jorge Mello (PROS), há uma preocupação com os mais pobres, já que a cidade tem uma péssima distribuição de renda, além da chegada da alta temporada. Nesse período, o fluxo de turistas gera emprego, mas também aumenta a demanda do consumo de água. “Tínhamos uma tarifa social para as pessoas de baixa renda. E quando há privatização, a preocupação maior é com o lucro. O que está ocorrendo é que falta água em todas as áreas. E está chegando aí a alta temporada. Não vai ser bom para a imagem da cidade repercutir que não temos água. Pelo que apuramos, houve até atos de vandalismo na estrutura do SAE”, disse Mello. Ele também confirmou que a prefeitura não fez nenhum pronunciamento sobre o problema, nenhuma discussão com a população. Por isso também aposta na audiência pública como forma de se chegar a alguma alternativa para o grave problema.

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