Política
ELEIÇÕES SERÃO COMPLEXAS POR MUDANÇAS E CONJUNTURA ECONÔMICA
Para cientista política, fim das coligações pode representar uma grande fragmentação eleitoral


Quando o ano começar, neste final de semana, a pauta principal serão as eleições majoritárias de 2022. O eleitor vai escolher deputado estadual, federal, um senador, governador e presidente da República. Com novas regras, o processo eleitoral não será fácil para os candidatos, mas também complexo para quem vota por causa da infinidade de nomes que podem tomar conta das ruas. Lidar com as fake news, os discursos de ódio ou desprezo nas redes sociais, as mensagens que lotam os grupos de WhatsApp e as promessas, de fato, não será tarefa simples. Ainda assim, o chamamento para o pleito é uma realidade, e a democracia precisa disso para continuar respirando. Na avaliação da cientista política e professora da Ufal Luciana Santana, o fim das coligações pode representar uma grande fragmentação eleitoral e obrigar os partidos a lançar ainda mais candidatos para atender à legislação. “A eleição de 2022 vai ser complexa, não somente pela conjuntura política atual, mas principalmente pela mudança das regras que vão ser implementadas pela primeira vez. O grande impacto, a meu ver, está relacionado ao fim das coligações. Então, acaba impactando e pode influenciar uma fragmentação na competição eleitoral”, avalia. “A gente pode ter um número maior de candidatos disputando as eleições majoritárias como forma de alavancar nomes para os cargos proporcionais na Câmara dos Deputados e assembleias legislativas”. A outra novidade, que são as federações partidárias, podem ajudar a reduzir a carga do fim das coligações. Isso porque existiram blocos de partidos disputando os cargos proporcionais. Para Luciana, pode melhorar as pretensões dos partidos em reeleger quadros dos que já possuem mandatos. “Por outro lado, há uma redução no número de competidores porque será considerado o peso das federações”, acredita. E foi pensando no processo eleitoral que a Câmara dos Deputados aprovou no orçamento para o próximo ano a quantia de R$ 4,9 bilhões para o Fundo Eleitoral, um aumento de 188% em relação ao último pleito, que foi de R$ 1,7 bilhão, para garantir recursos aos partidos. Desde que o financiamento privado de campanha foi proibido, há três anos, os partidos dispõem de recursos públicos para se articularem. Segundo Luciana, a dedicação dos políticos para garantir esse volume, na verdade, é parte da estratégia para superar as novas dificuldades. “O valor alto aprovado para o Fundo Eleitoral é a forma de investir mais em candidaturas e nomes que são escolhidos pelos partidos e, em geral, são aquelas que já estão ocupando cargos. E são esses recursos públicos que irão garantir a reeleição”. Mas, se por um lado as mudanças nas regras já motivam novas articulações, a conjuntura nacional também deve influenciar o pleito. Isso não é novidade. Como lembra a cientista política, a situação econômica sempre acaba tendo reflexos no processo eleitoral. “Toda eleição, e não só a majoritária, é influenciada pela conjuntura atual do País, em especial a econômica. O impacto é maior nas candidaturas majoritárias. Então, de algum modo, tende a punir mais os que estão em mandatos executivos, em especial quem tenta reeleição”, avaliou a professora. Nos cargos legislativos, o impacto é menor, mas o eleitor não deixa de também querer buscar quadros novos em relação aos que já exercem mandato. “Vale lembrar que também teremos uma mudança significativa para o modo como se computa o voto para mulheres e negros. Mas é difícil estimar que terá um impacto grande ou muito mais mulheres e negros nos espaços legislativos. Espera-se que sim, mas não há garantir formal, porque vai depender de como os partidos vão distribuir esses recursos internamente”, completou Luciana.
Ela lembrou, ainda, que há decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as disponibilização de recursos para candidaturas com esse perfil, mas ainda o percentual de 30% do dinheiro da legenda é insuficiente para que se reverta efetivamente em sucesso eleitoral. “Depende muito da visibilidade que os partidos vão dar a mulheres e negros para que o eleitor possa tomar essa decisão”.
A cientista lembra que em toda eleição são vários os fatores que acabam influenciando no pleito, mas nem sempre são os mesmos. Ainda assim, não há como ficar fora a questão econômica, já que tem reflexo direto na vida das pessoas. Entretanto, são várias também as construções que são feitas pelos marqueteiros para apresentação dos candidatos. “A pandemia vai ter um fator que vai impactar, mas não vai ser o determinante. A saúde pública deve estar presente na fala dos candidatos, mas não diria que seja o definidor nem que influencie. Não é o que decide. Agora, claro que as decisões tomadas, até mesmo no âmbito local, vão entrar no cálculo, principalmente se esses temas voltarem ao debate. Mas, por exemplo, não dá para voltar atrás quanto à questão dos óbitos. Tem uma percentagem de famílias no Brasil que perderam parentes, e a maioria vai lembrar disso de alguma forma”, acrescentou Luciana. O que não quer dizer que esse número seja definidor, porque já também entre eles uma parte do eleitorado que é conservador e, independentemente do que aconteça e do que aconteceu, vai permanecer com sua posição.