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Nº 5694
Política Volta as Aulas no CEPA.

FOTO: GILBERTO FARIAS

Novo Ensino Médio terá início em fevereiro ainda cercado de dúvidas

Mudanças visam preparar estudantes para o mercado de trabalho, mas especialistas dizem que modelo ampliará a desigualdade

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 13/01/2022 - Matéria atualizada em 13/01/2022 às 12h13

Quando fevereiro chegar, os alunos que iniciarão o ensino médio em todo o País vão vivenciar o primeiro ano da maior mudança curricular e programática já realizada na formação para esse público. É que a formação não será voltada apenas para a o nível superior. Agora, eles terão que optar com base e suas aptidões na escolha de um curso que, ao final lhes dará, além do conhecimento para o Enem, um diploma técnico. Na rede pública, o começo da nova formação depende da regulamentação da legislação nacional que ainda será feita pelo Conselho Estadual de Educação. A Secretaria de Educação informa que está preparada, mas que este ano será de "aprendizagem" para estruturação e oferta nas unidades.

Segundo explicou a presidente do órgão, Marly Vidinha, mesmo no período de recesso das atividades, uma comissão especial se debruça em todas as diretrizes para a elaboração de um parecer técnico que foi encaminhado para o conselho em novembro.

"Temos todo o interesse em concluir a análise e a elaboração do parecer para darmos a orientação necessária, mas também a segurança jurídica para que o novo ensino médio comece a funcionar na rede pública”, explicou Marly. “Posso garantir que a nossa comissão está se reunindo de forma sistemática. Essa é a última etapa de um processo que teve início com estudos técnicos que reuniram pesquisadores de todo o País e que passou também consulta pública".

Conforme explicou a presidente, depois da construção do parecer ele será discutido e analisado pelo pleno da entidade. "Neste momento trabalhamos para garantir sua conclusão, mas não podemos definir data", completou Marly.

Sobre a nova formação, algumas disciplinas como história, por exemplo, terão sua carga horária reduzida. Já a matemática tradicional contará com a adição também de matemática financeira. Agora, haverá também o acréscimo da formação profissional as quatro horas de aula por dia serão acrescidas de mais uma hora. Ao final do primeiro ano, os alunos terão cumprido mil horas/aula e 3 mil durante toda a formação média.

As disciplinas formais estarão distribuídas nas seguintes áreas: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias e ciências humanas e sociais aplicadas.

Esse novo arranjo curricular tem como referência o que já é exigido em termos de conteúdo para o ingresso nas universidades. O detalhe, agora, é que processo de escolha dos alunos fará com que o direcionamento de sua formação se inicie já na primeira série do ensino médio.

Fatiamento

A especialista Edna Lopes, integrante do CEE pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinteal), explicou que o processo de mudança já foi iniciado em alguns estados. Porém, o ano de 2022 acabou sendo a data-limite para que todos iniciem a preparação para que em 2024 a primeira turma de alunos esteja sendo lançada no mercado de trabalho. Entretanto, como entidade sindical e a partir da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), ela é uma crítica da mudança.

" O que há de fato é uma contrarreforma. Mais uma vez o chamado 'novo" é na verdade o que está sendo proposto é um fatiamento dos itinerários formativos em áreas. E que cada região ou escola coloque opções para que o estudante curse esses itinerários, ou melhor uma delas, enquanto oferta profissional. Na verdade, é um ensino médio para o mercado e não para formação integral", disse Edna.

Ela demonstrou preocupação com o fato de que para a montagem desse novo projeto pedagógico, esteja sendo eliminada a carga horária de algumas disciplinas, com o argumento de que é uma proposta de flexibilidade.

"Amplia a desigualdade porque dificilmente uma escola conseguirá oferecer todas as opções de itinerários formativos profissionais com oportunidade para todos. Estamos esperando com curiosidade a proposta que a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) vai apresentar para suas escolas nos primeiros anos. Vemos com muita preocupação porque os problemas de evasão, pouca participação, há os que têm de ir para o mercado para sobreviver, isso não foi resolvido para eles concluírem seus estudos. E aí se apresenta a proposta de novo, mas sem diálogo com a sociedade", completou Edna.

Ela lembrou ainda que nem todos os municípios do Estado possuem escolas do ensino médio. Até o momento a Seduc não teria dado detalhes de como vai solucionar esse problema. Isso porque o perfil de quem recorre à escola são filhos e trabalhadores de baixa renda.

"Deixa sem opção para que esse aluno invista numa formação para chegar à universidade, em especial com esse formato que é mais restritivo. O estudante da escola pública terá cada vez mais dificuldade. Vai se encher o mercado com subempregos. Precariza o trabalho e, por consequência, os estudantes", denunciou Edna.

Investimento

Como a realidade é de mudança, a rede privada se preparou para se adequar às mudanças. O principal investimento, além da estrutura, foi no pessoal. Como exemplo, a reportagem conversou com a vice-diretora Educacional do Colégio Marista, Elizabeth Magalhães Cocentino Ferreira. Ela explicou que, desde agosto do ano passado, as unidades, em todo o País, tem investido na capacitação dos docentes para que possam interagir com os novos processos na medida que ele precisa para garantir, por fim a aprendizagem dos alunos.

"Tivemos o cuidado de iniciarmos com os professores, em seguida os pais, mas também com os próprios alunos. Foi um processo de construção coletiva, mas que respeitou também o contexto individual dos alunos, porque, afinal de contas, no 9° ano os alunos ainda são muito jovens para definir uma escolha para sua formação. Por isso, durante 30 dias, nossos alunos vão vivenciar as duas experiências para que possam ajudar na escolha", revelou Elizabeth.

Ao mesmo tempo, o estudante estará vivenciando o novo currículo, com matérias básicas que acompanharão nos três anos, mas também optando por aquelas que se adéquam à formação que escolher. Por isso, um dos desafios da escolha foi apresentar em detalhes aos pais o processo para que eles não interfiram além do normal para que a escolha ocorra de forma natural.

A escola nesse processo apresentou uma plataforma digital onde os alunos iam interagindo apontado áreas de interesse para que ao final pudessem ter um direcionamento que auxiliasse na escolha da aptidão. Nesse primeiro ano do novo modelo, haverá aulas pela manhã e durante dois dias da semana no período da tarde. Para isso, a estrutura da unidade foi toda adaptada para esse momento de formação. Na unidade, as aulas para o ano letivo 2022 terão início no dia 31 de janeiro.

Seduc

Segundo a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), Alagoas está plenamente preparada para iniciar a nova proposta de ensino médio. A preparação, inclusive, teria começado há dois anos, em 2019, quando as primeiras 162 escolas receberam recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). Nelas também ocorreram a flexibilização curricular com foco na implantação de ateliês pedagógicos, além de terem investido na formação de professores.

"O Referencial Curricular de Alagoas para o Ensino Médio que trata da implementação da Base Nacional Comum Curricular no sistema estadual de educação foi elaborado e está em análise pelo Conselho Estadual de Educação. A Seduc também tem investido materiais de orientação e cadernos pedagógicos; realizado formações, reuniões preparatórias com equipes técnicas da sede e das Gerências Regionais de Educação, e escolas, para implementação do novo currículo no ensino médio", informou a Seduc.

Além disso, as formações estão acontecendo em outros espaços, como a Plataforma AVAMEC, Escolas Conectadas e Nosso Ensino Médio, que ofertam cursos sobre a Formação Geral Básica, Itinerários Formativos, Áreas do Conhecimento e Mundo do Trabalho, Projeto de Vida etc. Tudo disponível no site Escola Web, na página do professor.

Os investimentos se somam com todos os outros já realizados pelo Estado. A Seduc também teria orientado as unidades escolares para que a formação contemple as temáticas relacionadas ao novo ensino médio. Ocorreu também o repasse de material pedagógico: Projeto Vida, de metodologias ativas, biblioteca ativa para abordagens pedagógicas mais práticas e interativas.

"Quanto à estrutura física, a rede estadual tem vivido um novo momento com os investimentos em infraestrutura de todas as unidades escolares. Com os programas Rumo Às Aulas, Equipa Escola e Minha Escola Nova, o governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) investiu em obras para construção de novos escolas e ampliação de unidades escolares, além de investimentos em equipamentos e mobiliários para todas as mais de 300 escolas espalhadas por todo o estado. Somente com o Rumo Às Aulas, a Seduc destinou, desde o ano passado, 40 milhões de reais para reestruturação das unidades escolares de todo o Estado", completou a secretaria.

Ao final, após garantir estar preparada para o novo momento do ensino, a Seduc se contradiz ao destacar que o ano de 2022 é "um ano de discussão e aprendizagem" para que as escolas possam se estruturar e ofertar os itinerários formativos a partir de 2023. O detalhe, porém, é que segundo o MEC o processo tem de ser efetivamente iniciado este ano.

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