Política
AL PAGA UM DOS MENORES SALÁRIOS PARA A POLÍCIA CIVIL, DIZ SINDPOL
Boa parte do efetivo de agentes e delegados do Estado já está prestes a se aposentar


Como se não bastassem os problemas estruturais, cerca de 40% dos 1,6 mil policiais civis e dos 100 delegados têm mais de 35 anos de trabalho e estão para se aposentar. O resultado desse caos na Polícia Judiciária de Alagoas se reflete em milhares de inquéritos parados por falta de pessoal para “tocar” as investigações. “Os casos com resolutividade são aqueles com repercussão na sociedade. Os de menor poder ofensivo param nas prateleiras dos crimes insolúveis. A insatisfação é semelhante entre os mais de 10 mil policiais militares e bombeiros militares. Na PM, os problemas começam também com as promessas do governador Renan Filho (MDB) não cumpridas. Nos últimos sete anos o relacionamento entre o Executivo Estadual e Policiais Civis tem sido conturbado. Em clima de greve, o presidente do Sindpol, Ricardo Nazário, explicou que não houve avanços nem melhorias significativas para os policiais civis. “Conseguimos reduzir o prejuízo. Mesmo assim, não dá para equacionar as perdas inflacionárias da gestão Renan Filho, que paga um dos menores pisos salariais do País”. Hoje, um policial perito criminal inicial ganha, segundo Nazário, R$ 3.971, quando deveria receber R$ 8 mil/ brutos como concursado de nível superior. O agente e escrivão também recebem R$ 3,9 mil. Na maioria dos estados do Nordeste, o agente começa com R$ 5,5 mil/ mês. Do efetivo de 1,6 mil policiais civis, 40% podem se aposentar a qualquer momento. O efetivo ideal seria o triplo para atender à demanda de 3,3 milhões de habitantes e atuar no grande volume de inquéritos parados nas delegacias. “Não temos um efetivo policial capaz de dar conta dos 60 mil inquéritos parados. Não é por falta de atenção profissional, ocorre que diariamente os homicídios, as lesões corporais, roubos, assaltos se multiplicam. Sem falar dos outros crimes”. Ao avaliar o quadro funcional, disse que o quadro de agentes e delegados é formado por profissionais capacitados e operacionalmente técnicos, por conta de esforços dos próprios. “O governo Renan não oferece capacitação para os policiais civis. Uma das poucas exceções é o curso de tiro policial. Mesmo assim, não consegue atender todo o efetivo e falta inclusive munição em quantidade ideal. Efetivamente não temos munição para 1,6 mil policiais no treino de tiro”, revelou. O presidente do Sindpol fez críticas à falta de cursos de aperfeiçoamento de inteligência, de investigação, de guardião, de monitoramento dos envolvidos com crime organizado, entre outras capacitações necessárias. “Os policiais investem na capacitação, com recursos próprios. A maioria dos colegas faz isso para poder atuar no combate às organizações criminosas que tentam se instalar no Estado”.
EXCESSO DE JORNADA
A maioria dos 100 delegados da Polícia Civil admite que existem mais de 60 mil inquéritos parados nas delegacias por falta de pessoal e condições técnicas. Por isso, cobram curso e querem o efetivo de 205 delegados. Um dos mais antigos, Robervaldo Davino, que já ocupou cargo de direção da PC e foi presidente da Associação dos Delegados, com 45 anos de trabalho no serviço público, dos quais 33 anos como delegado, revelou as dificuldades do dia a dia para desempenhar suas funções, ao ponto de almoçar com quentinha nas delegacias. Como a maioria dos colegas, Davino trabalha em quatro delegacias: é titular do 6º DP, também na Delegacia do Idoso, responde pela delegacia do 9º DP quanto a titular está de férias e o mesmo acontece na delegacia do município de Paripueira. “Os delegados regionais ficam até com seis delegacias. No meu caso, é humanamente impossível dar conta dos mais de 500 inquéritos que tenho para concluir”, admite, ao acrescentar que o problema não é só falta de delegados. “Faltam agentes, escrivães e investigadores para fazer diligências”. Na delegacia onde é titular, havia 40 policiais e hoje o efetivo é de 13. “Há mais de sete anos não ocorre concurso para agentes, escrivães e delegados. O concurso que estava em andamento foi cancelado por conta de problemas”. Segundo Davino, hoje a PC tem 100 delegados ativos e mais de 30% podem se aposentar a qualquer momento. O efetivo previsto é de 205 delegados.
TETO SALARIAL
A Associação dos Delegados de Polícia de Alagoas trabalha em duas frentes em defesa da categoria: concurso público e para a criação do teto salarial do Servidor Público, que varia de R$ 25 mil para R$ 35 mil. Hoje o teto da Polícia Civil é o mesmo do governador, pouco mais de R$ 25 mil/ mês bruto. A implantação do teto do servidor público, como acontece na maioria dos estados, segundo o presidente da Adepol, Antônio Carlos Lessa, desvincula o achatamento salarial imposto pelo governo Renan, por exemplo. Ele também esclareceu que nem a categoria nem os policiais de um modo geral propõem a isonomia salarial com o Poder Judiciário. “O que os servidores querem é a implantação do teto para o servidor do Executivo”.
COMPROMISSO
A insatisfação entre os mais de 10 mil policiais militares e Bombeiros militares é idêntica ao sentimento que toma conta dos policiais civis. O clima de tensão envolve do soldado aos coronéis. Eles acusam o Executivo de não cumprir compromissos assumidos com as instituições, com a regulamentação da Previdência Militar, com o escalonamento vertical e com as promoções. Entre os insatisfeitos estão os presidentes da União dos Policiais Militares, tenente Giovani Máximo, o presidente do Clube dos Oficiais e da Associação dos Oficiais da PM e CB, coronel Olegário Paes, entre outros líderes. Os militares esperam a votação na Assembleia Legislativa do Projeto que trata do escalonamento vertical porque, segundo eles, trará dignidade salarial para mais de 15 mil servidores ativos, inativos e pensionistas. O Escalonamento Vertical é uma tabela de subsídios que pode resgatar até 30% dos vencimentos que foram corroídos nos últimos anos, explicou o oficial.