As duas maiores vocações econômicas históricas de Alagoas são a agricultura e o turismo. O turismo passa por dificuldades, mas segue com investimentos e protagonismo dos empresários. Já a agricultura enfrenta sete anos de apagão. Nesse período, passaram pela pasta da secretaria estadual do setor cinco secretários. Quatro deles foram indicados dentro de composições políticas diferentes, e a maioria não tinha intimidade com o setor. Com isso, os investimentos em tentativas de implantação de projetos rurais rapidamente se resumiram em tristes exemplos de desperdícios de dinheiro público. Ao contrário de fartura e transformação do Estado num celeiro produtor de alimentos e de sementes, prometidos pelo governador Renan Filho (MDB) em 2015, sete anos depois a situação é dramática principalmente para os pequenos e médios agricultores, assentados e sem-terra. O Estado importa mais de 80% da alimentação dos 3,3 milhões de alagoanos. Nos polos que deveriam ser as maiores centrais de produção agrícola do semiárido, os resultados são considerados “pífios” ou zero. Desta vez, não dá para colocar a culpa na seca que mantém 40 municípios em situação de emergência. A região é a que mais tem água entre os semiáridos nordestinos por causa do Rio São Francisco, que despeja no mar mais de dois mil metros cúbicos por segundo. Tem outro suporte hídrico com 120 quilômetros de canal serpenteando as regiões áridas, com 30 metros cúbicos por segundo. Ou seja, o Canal do Sertão tem um terço da vazão dos dois canais da transposição regional que leva água para cinco estados, só não tem projeto oficiais de desenvolvimento rural. Além disso, existem açudes e barragens estratégicas, como a do Bálsamos na região de Palmeira dos Índios. Mesmo assim, esses recursos hídricos não conseguem resolver o problema da população estimada em 1 milhão de habitantes. Na zona rural, as pessoas morrem de sede nas margens dos mananciais, e a agricultura fracassou.
INDEFINIÇÕES
Os problemas começam nas indefinições da própria pasta. Nas duas gestões do governo Renan Filho, a agricultura só foi prioridade nos discursos de campanha eleitoral. A pasta enfrentou diferentes projetos desenvolvidos por cinco secretários. Pela ordem de ocupação do cargo, Álvaro Vasconcelos, Antônio Santiago, Sílvio Bulhões, João Lessa, Ronaldo Lessa e o atual, Maykon Beltrão. Até agora não conseguiram desenvolver a agricultura. Entre os quatro exonerados, três conheciam o setor, mas não tiveram apoio porque suas nomeações não obedeceram a critérios técnicos. Foram afastados dos cargos por telefonema de assessores. A maioria admite que a pasta não estava entre as prioridades para executar uma política de Estado. O atual secretário, Maykon Beltrão, por ser irmão do deputado federal Marx Beltrão (PSD) também é resultado de lianças políticas, fato absolutamente normal nas formações de governos democráticos. Contudo, os indicados tiveram atuação limitada por causa da falta de prioridades e de recursos da pasta. Segundo os produtores e os assessores da Seagri, o atual secretário tem feito o que é possível para garantir sementes e manter projetos históricos. Mas, por exemplo, no ano passado, cerca de mil toneladas de sementes de milho e feijão foram entregues aos agricultores familiares e acampados sem terra no final do período chuvoso. “Quando as sementes chegaram, não dava mais para plantar. Tinha passado a época”, lamentou o líder de 10 mil trabalhadores rurais sem terra de cinco movimentos agrários, Marco Antônio “Marrom” da Silva. “A gente tem observado que a agricultura familiar e a reforma agrária só são prioridade no período de eleição. A maioria dos candidatos promete, mas a miséria no campo continua. Para os sem-terra, a situação ainda é pior”, lamentou Marrom, sem esconder a “frustração” com a política agrária do governo estadual. Os outros líderes de sem-terra ligados à Comissão Pastoral da Terra, dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, dos Sindicatos de Assalariados Rurais, das Federações de Agricultura, dos Trabalhadores Rurais e Associações de Produtores de Cana-de-Açúcar, das cooperativas da agricultura familiar, entre outras entidades, são unânimes em afirmar que “o troca-troca de secretário na pasta da Agricultura demonstra a falta de políticas estratégicas e de prioridades com o setor”. Os produtores tiveram que “se virar” para produzir sem assistência técnica rural, sem investimentos e sem planejamento estadual de articulação no setor, lamenta o presidente das Cooperativas dos Agricultores Familiares, Antônio Azevedo. “O pequeno agricultor ficou abandonado nos últimos sete anos”. O resultado disso foi um caos principalmente no período mais agudo da pandemia do coronavírus, de 2020/21. Os agricultores ficaram isolados, não tiveram apoio nem como escoar a produção, lamentam os líderes da Federação dos Trabalhadores Rurais e da Cooperativa dos Agricultores familiares. As queixas podem ser constatadas na vistoria dos maiores ativos para o desenvolvimento da Política Agrícola. Quase todos estão sucateados, se transformaram em símbolos do desperdício de dinheiro público e fracassos. A Emater não promoveu assistência rural principalmente para os agricultores familiares, por falta de pessoal. Na mesma situação ficaram os projetos relevantes de piscicultura, de produção de sementes, diversificação de produção agrícola e do Canal do Sertão. Nada foi adiante. Segundo os técnicos e comerciantes da Central de Abastecimento (Ceasa), Alagoas importa 80% da alimentação que consome..